Fiança é desafio para ex-tesoureiro que perdeu apoio do PT
O gaúcho Paulo Ferreira tem duas coisas em comum com Delúbio Soares e João Vaccari Neto. Foi tesoureiro nacional do PT e acabou na cadeia. Mas, diferentemente de Delúbio e Vaccari, que sempre contaram com a solidariedade do partido nos momentos difíceis, Ferreira, réu na Lava Jato e na Custo Brasil, tem enfrentado sozinho as dificuldades para pagar a fiança de R$ 200 mil fixada pela Justiça.
Até agora, nem petistas mais próximos de Ferreira se mobilizaram para ajudar o companheiro preso. A direção do partido também já disse que não vai fazer nenhum movimento para auxiliar o ex-dirigente a arrecadar o montante.
No caso de Delúbio, que foi condenado a 8 anos e 11 meses de prisão e pagamento de R$ 466 mil de multa por envolvimento no mensalão, a militância se mobilizou e em poucos dias arrecadou mais de R$ 1 milhão. O excedente ainda ajudou a pagar a multa de outros condenados. Ele ficou preso entre novembro de 2013 e setembro de 2014.
Já Vaccari, detido desde abril de 2015 pela Lava Jato, foi objeto de defesas públicas da direção partidária e até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A solidariedade petista se fez presente até no caso do desconhecido João Gois Neto, ex-vereador pelo PT de Osasco, na Grande São Paulo, preso preventivamente por suposto envolvimento em um esquema de funcionários fantasmas na Câmara Municipal. Em pouco mais de 24 horas, os petistas da cidade conseguiram juntar o total de R$ 300 mil para pagar a fiança do ex-vereador.
Enquanto isso, Ferreira, que ocupou um dos cargos mais importantes na hierarquia partidária, revira os bolsos para conseguir sozinho os R$ 200 mil estipulados pela juíza federal Gabriela Hardt, que substitui o juiz Sérgio Moro em suas férias. O valor da fiança determinado por Moro era de R$ 1 milhão.
Desabafo. “Se os militantes do PT não simpatizam com o Ferreira, problema deles”, desabafou o advogado do ex-tesoureiro, Luiz Bueno de Aguiar.
De acordo com o advogado, Ferreira colocou à disposição da Justiça o único bem que possui, um carro usado no valor de R$ 38 mil, e tenta sacar R$ 158 mil de um consórcio habitacional, mas enfrenta dificuldades. “Agora a juíza quer fazer uma perícia no carro. Nem sabemos se juntando tudo vai dar os R$ 200 mil”, afirmou Aguiar.
A única ajuda dada pelo partido é o pagamento da defesa. Aguiar é contratado pelo PT desde 2005, recebe valores fixos e seu contrato prevê a defesa de integrantes da direção da sigla. Além dele, outros quatro advogados contratados pelo PT por valores simbólicos auxiliam na defesa do ex-tesoureiro. “O PT está fazendo o que a lei permite”, disse o advogado.
Indiferença. Segundo lideranças petistas, a indiferença em relação a Ferreira se deve à discrepante postura do gaúcho em relação aos outros ex-tesoureiros que foram presos. Enquanto Delúbio e Vaccari pagaram o preço por controlar o caixa 2 partidário, atuando como “soldados” do PT, Ferreira teria usado propinas da Petrobrás em interesse próprio.
Ele é acusado de entregar R$ 45 mil da estatal para a escola de samba Estado Maior da Restinga, de Porto Alegre, em troca de apoio político na campanha para deputado federal em 2010. Além disso, teria repassado outros R$ 61 mil à rainha da bateria da escola, Viviane Rodrigues da Silva. O ex-tesoureiro nega as acusações.
Segundo o advogado, a situação financeira de Ferreira é dramática. “Quando sair da cadeia ele vai ter que morar de favor na casa da filha.”
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