França diz que Temer não sabe com quem negocia e se coloca como interlocutor dos caminhoneiros
O governador de São Paulo Márcio França (PSB), pré-candidato à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes, tenta se colocar como o grande articulador de um possível desfecho do fim da greve dos caminhoneiros, que provoca uma grande crise de abastecimento no País.
Em entrevista exclusiva à Jovem Pan neste domingo (27), França disse que encontrou no Palácio dos Bandeirantes “caminhoneiros autônomos” que estariam “sem interlocução” com o governo federal e conseguiu negociar o desbloqueio de “90%” das estradas no Estado.
O governador disse que ligou, então, para o presidente Michel Temer (MDB) e lhe apresentou a proposta dos caminhoneiros de fazer a redução “nas bombas” de R$ 0,41 do diesel e também de ampliar para 60 dias o congelamento no preço combustível, que diminuiu em 10% em valor que será compensado à Petrobras pelos cofres públicos.
Segundo o peessebista, Temer “confiou e mandou o ministro (Carlos) Marun“, “um sujeito diferente”, segundo França, para São Paulo. Marun foi o transportador das propostas intermediadas pelo governador.
“O governo federal fez a negociação sem saber com quem estava fazendo”, criticou França, dizendo que os verdadeiros organizadores da greve “são vários grupos isolados que se comunicam pela internet, Whatsapp“.
“Em São Paulo tinha 260 paralisações, tinha 260 líderes diferentes”, afirmou França, dizendo ser “difícil identificar” as lideranças. “O normal é você chamar o sindicato, o representante formal da categoria”, afirmou França, amenizando para o governo federal. “Não foi mal intencionado, fizeram como é normal”.
França também elogiou os caminhoneiros grevistas: “Dentro do limite das precariedades que eles trabalham, eles fizeram um grande trabalho”, disse. E cobrou: “eu vou confiar que eles cumpram a parte deles”.
Demandas em SP
França afirmou também que foi a partir desta conversa que decidiu atender demandas dos caminhoneiros no Estado paulista, como retirar a cobrança dos pedágios pelo terceiro eixo de caminhões e cancelar as multas que tinham sido aplicadas a motoristas em greve.
França defendeu a medida por ele mesmo revogada. “(Eu disse:) Se parar a pista toda, eu vou multar caminhão por caminhão, dane-se”, discursou o governador, dizendo que se alguém morresse por não chegar a um hospital ele se sentiria culpado. “Eles (caminhoneiros) começaram a ser multados e a perceber que não podiam interromper todas as pistas”.
A contrapartida dos manifestantes a partir da conversa no Bandeirantes teria sido desbloquear as rodovias.
“(Eles) foram para o acostamento, foram para o canteiro central, ou seja, não estão atrapalhando o fluxo”, relatou França. Segundo o governador, havia 160 pontos de paralisação no Estado neste sábado (26), número que reduziu para “15 ou 20” neste domingo. A Jovem Pan observou no começo desta tarde, no entanto, 35 paralisações.
ICMS
Questionado se poderia diminuir o ICMS, imposto estadual que incide sobre os combustíveis, o governador paulista disse que “se propôs a colaborar com isso”, mas estabeleceu dificuldades em adotar a medida.
“O ICMS de São Paulo no diesel já é o maior no Brasil”, disse o governador.
“Se for necessário São Paulo faz mais um sacrifício, coloca mais um pouco de recursos”, garantiu França, lembrando, no entanto, que há restrições orçamentárias legais por ser um ano eleitoral.
“É necessária a aprovação da Assembleia (Legislativa de São Paulo) e uma fonte de financiamento desses números”, afirmou.
“Eu fiz a minha parte”
França discursou, como pré-candidato, como teria “feito a sua parte” na tentativa de resolução da crise.
“Fica todo mundo meio congelado com essa situação”, disse França, sobre os outros governantes, lembrando que a greve dos caminhoneiros tomou proporções maiores do que o esperado devido a uma “insatisfação” geral da população e o acúmulo de coisas”.
“Eu senti que no fundo faltava uma interlocução, uma porta aberta, alguém para liderar o processo”, disse França. “Se São Paulo não puxar uma solução, não vai existir uma solução para o Brasil”, afirmou o pré-candidato.
“Porta do inferno”
Questionado sobre pedidos a mais de lideranças de caminhoneiros, que pedem para o governo federal para zerar o PIS-Cofins, medida já aprovada pela Câmara, e sobre o movimento dos petroleiros, que dizem que entrarão em greve na próxima semana, França afirmou:
“Cada um quer tirar uma casquinha, é do jogo também. Quando você abre uma porta do inferno, aparecem todos os capetas do mundo”.
O governador paulista defende, no lugar, proposta em tramitação do Senado defendida pelo presidente da Casa Eunício Oliveira (MDB-CE) que estabelece preços mínimos para os fretes.
França também criticou a política de preços da Petrobras, de reajustar o preço dos combustíveis que sai das distribuidoras de acordo com a flutuação do dólar e do barril do petróleo em âmbito internacional.
“Não dá para ter uma empresa brasileira pública com raciocínio como uma empresa privada”, disse o governador. “Não dá para fazer assim”.
Temer
Mesmo criticando o governo federal pelo começo das negociações e tentando assumir o protagonismo de uma possível resolução da crise, França evitou fazer críticas diretas ao presidente Michel Temer (MDB).
Mas alfinetou: “Não tem como a pessoa pleitear, na situação que ele (Temer) assumiu, outra coisa a não ser sobreviver. E ele está sobrevivendo lá”, disse França, lembrando que o presidente foi eleito como vice de Dilma Rousseff em 2014.
Questionado se, com sua postura, “coloca o governo (federal) contra a parede”, França rebateu: “a parede já está colocada. Quem colocou foram os caminhoneiros, as circunstâncias”.
Questionado se Temer foi “nocauteado”, França amenizou: “Não vou adjetivar nada. Me dou bem com ele. Não deve ser fácil ser presidente da República”, disse, lembrando das dificuldades de ser governador.
França se comparou ao emedebista e lembrou que ambos não foram eleitos como cabeça em sua chapa eleitoral. “Eu fui vice, o Michel foi vice”. O governador disse que na última pesquisa ainda era conhecido apenas por 9% da população paulista.
“Como você ter um lastro, uma confiança em alguém que você não sabe nem quem é?”, questionou.
Apoio da população à greve
Para o governador, a greve perde o apoio da população conforme a crise do abastecimento se agrava.
“Não é possível a paralisação chegar a uma semana”, disse. “Todo mundo acha bacana, mas quando seu filho precisar de um médico, uma cirurgia e não tiver sangue, não vai achar”, projetou.
“Apostar no caos é um erro. Temos de apostar na solução”, discursou França. Ouça a entrevista completa:
O comentarista Marco Antonio Villa criticou a postura do governador. Ouça:
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