Funarte proíbe rock em edital de incentivo a bandas

  • Por Jovem Pan
  • 23/01/2020 10h38 - Atualizado em 24/01/2020 19h41
Reprodução / Youtube Vídeo do presidente da Funart relacionava o rock ao aborto e ao satanismo

O edital do Prêmio de Apoio a Bandas de Música 2020, divulgado nesta quarta-feira, 22, pela Funarte, proíbe a inscrição de bandas de rock.

O concurso foi criado para premiar bandas de todo o país, proporcionando distribuição gratuita de instrumentos e ampliação e/ou reposição instrumental. Embora direcionado a instrumentos de sopro, o edital não restringe conjuntos de qualquer outro ritmo, apenas o rock.

O caso chamou atenção por não ser a primeira manifestação do presidente da Funarte, Dante Mantovani, contra o ritmo. Nomeado por Roberto Alvim, então secretário de Cultura, o maestro e youtuber assumiu a Fundação em dezembro de 2019.

Em um vídeo publicado em seu canal antes de assumir o cargo, Mantovani afirmou que o rock “leva ao aborto e satanismo”. O canal soma mais de 9 mil seguidores, se apresenta como “conservador” e aborda assuntos relacionados a música erudita, cultura e entrevistas, além dos compromissos e agendas oficiais do músico e presidente da Fundação.

Na época, ele afirmou que “o rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo”.

O que diz a Funarte

Após a publicação da reportagem, a Funarte encaminhou a seguinte nota à Jovem Pan:

A Fundação Nacional de Artes – Funarte vem corrigir nesta nota informações contidas em notícia da Coluna Lauro Jardim, do Jornal O Globo, já repercutida em muitos outros veículos de imprensa.

A alegação da matéria de que há “proibição específica a bandas que tocam rock” no Prêmio Funarte de Apoio a Bandas de Música não corresponde à realidade. Primeiro, porque esse edital serve à distribuição de instrumentos apenas para bandas civis “tradicionais”, e não para outros tipos de bandas. Em segundo lugar, porque a Funarte realiza o Projeto Bandas (do qual faz parte essa ação) há 44 anos, desde 2007 por edital, com os mesmos critérios atuais. A redação atual é quase igual nas três versões anteriores, 2007, 2010 (Procultura) e 2013, não sendo absolutamente uma novidade da gestão Dante Mantovani.

A redação desse item sempre visou apenas a evitar confusão com outros tipos de bandas, não somente as de rock. Estas, como outros tipos de bandas diferentes das bandas civis “tradicionais”, nunca foram incluídas nesse prêmio, como se comprova no texto do edital de 2013: “Não poderão participar deste Edital… ‘bandas de pífanos’, ‘bandas de rock’, ‘bigbands’, orquestra de sopro, bem como conjuntos musicais assemelhados, conjuntos musicais de instituições religiosas, bandas militares…”, etc., conforme comprovado na nota de 2013, cujo link é: http://www.funarte.gov.br/edital/premio-funarte-de-apoio-a-bandas-de-musica-2013/ .

Além disso, “bandas de música” sempre foi considerada pela Funarte como uma linguagem musical específica, distinta das demais. As bandas tradicionais realizam, em milhares de municípios brasileiros, um trabalho de formação musical, que qualifica artistas para orquestras. Por tudo isso, a Fundação mantém há anos a Coordenação de Bandas. Portanto, a Funarte nunca teve, não tem e nunca poderá ter preconceito contra nenhum estilo musical – como se espera de uma instituição federal de Estado. Inclusive, há programas da entidade que podem incluir bandas e músicos de rock.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.