‘Governo Federal tem maior responsabilidade pela tragédia’, afirma diretor do Museu Nacional
Sem querer culpar ninguém, Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, que pegou fogo no início da tarde deste domingo, 2, e dizimou cerca de 90% de seus 2 milhões de itens do acervo, afirmou, em entrevista exclusiva à Jovem Pan, que o Governo Federal tem maior responsabilidade pela tragédia e que ele “não tem noção da importância e grandeza” do patrimônio.
Eram 19h30 da noite de domingo quando o avião que trazia Alexander de uma mini férias de final de semana posou no Rio de Janeiro. O filho dele estava a sua espera com as notícias, que, segundo suas palavras, eram “inimagináveis”. “Eu primeiro achei que ele estava brincando, eu até ri, não conseguia imaginar que a minha casa, o museu, estava pegando fogo”, se emociona Kellner.
Alexander se tornou diretor do museu em fevereiro deste ano, mas atua internamente no local desde 1997. Segundo ele, desde aquele tempo sabe-se que o prédio necessitava de uma reestruturação. “O local era residência da família real, D.Pedro II nasceu ali, era a casa de D. João VI. O local não foi projetado para ser um museu, não suportava abrigar mais de 2 milhões de itens”. Para o paleontólogo o museu não progrediu com o tempo e precisava de uma “modernização”.
E não foi por falta de aviso prévio. “O que me dói ver e me sinto impotente por isso é que eu e a comunidade do Museu Nacional avisamos aos governos vigentes, aos poderes públicos. Avisamos, gritamos, esperneamos”, explica Alexander. “Mas ninguém nos ouviu”.
Ele afirma que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, era detentora do orçamento, mas que não tinha a verba necessária para fazer a modernização. “É covardia atribuir a responsabilidade para a Universidade. A reformulação do museu é muito cara, não é novidade que está tendo cortes orçamentários brutais na rede federal. Ela tanto não tem que tivemos que buscar no BNDES”.
Sobre a instituição bancária, o diretor é muito agradecido e diz que eles mostraram “lealdade ao não abandonarem o museu” nos momentos difíceis.
Meses antes da tragédia ficou acertado entre o Museu Nacional e o BNDES o valor de 21,7 milhões de reais para a restruturação do local – o dinheiro começaria a ser enviado em outubro. Alexander não nega que os planos mudaram, mas que a parceria não acabou e que o dinheiro irá entrar de alguma forma.
Alexander não quer mais falar do que aconteceu e do passado, ele quer “arregaçar as mangas e restaurar o museu”. Ele está pedindo apoio de Portugal com o envio de novos itens para que o acervo do museu nacional seja reinventado e clama ao povo que não se esqueça do local.
“Se tinha um prédio que necessitava de cuidados era esse. Muito se perdeu, mas muito irá se recuperar. Há esperanças. O que não podemos permitir é que o Brasil perca a sua história”.
Na tarde desta segunda-feira,3, ele se reuniu com o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, e o ministro da educação, Rossieli Soares da Silva, de lá ficou acertado que seria repassado ao Museu 10 milhões de reais para “manter a fachada de pé”, nas palavras de Alexander. “Esse dinheiro é em caráter emergencial para garantir o mínimo, para não deixar a história do país ruir de vez”. Além da quantia, será levado ao Palácio do Planalto um pedido para pleitear um terreno adjacente ao museu onde será realocado os funcionários e as peças salvas do acervo. “Eu espero que o presidente tenha sensibilidade para autorizar a utilização desse terreno”, suplica Alexander.
Ele ficou motivado ao ouvir da boca do Ministro da Cultura uma reforma imediata no local cujo “plano abrangente” já existiria. A ação será dividida em 3 passos: Estabilizar a estrutura para que as pessoas possam entrar e recuperar o acervo; Colocar a instituição em outro patamar reformando a parte das instalações, como a luz elétrica; Visar a abertura para novas exposições. O diretor deixa bem claro que ele ficará de olho e que, se for preciso, irá cobrar do ministro.
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