‘Governo Federal tem maior responsabilidade pela tragédia’, afirma diretor do Museu Nacional

  • Por Eduardo F. Filho/Jovem Pan
  • 04/09/2018 07h11 - Atualizado em 04/09/2018 08h58
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EFE Diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro deposita suas esperanças em plano de recuperação pós-incêndio

Sem querer culpar ninguém, Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional, que pegou fogo no início da tarde deste domingo, 2, e dizimou cerca de 90% de seus 2 milhões de itens do acervo, afirmou, em entrevista exclusiva à Jovem Pan, que o Governo Federal tem maior responsabilidade pela tragédia e que ele “não tem noção da importância e grandeza” do patrimônio.

Eram 19h30 da noite de domingo quando o avião que trazia Alexander de uma mini férias de final de semana posou no Rio de Janeiro. O filho dele estava a sua espera com as notícias, que, segundo suas palavras, eram “inimagináveis”. “Eu primeiro achei que ele estava brincando, eu até ri, não conseguia imaginar que a minha casa, o museu, estava pegando fogo”, se emociona Kellner.

Alexander se tornou diretor do museu em fevereiro deste ano, mas atua internamente no local desde 1997. Segundo ele, desde aquele tempo sabe-se que o prédio necessitava de uma reestruturação. “O local era residência da família real, D.Pedro II nasceu ali, era a casa de D. João VI. O local não foi projetado para ser um museu, não suportava abrigar mais de 2 milhões de itens”. Para o paleontólogo o museu não progrediu com o tempo e precisava de uma “modernização”.

E não foi por falta de aviso prévio. “O que me dói ver e me sinto impotente por isso é que eu e a comunidade do Museu Nacional avisamos aos governos vigentes, aos poderes públicos. Avisamos, gritamos, esperneamos”, explica Alexander. “Mas ninguém nos ouviu”.

Ele afirma que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, era detentora do orçamento, mas que não tinha a verba necessária para fazer a modernização. “É covardia atribuir a responsabilidade para a Universidade. A reformulação do museu é muito cara, não é novidade que está tendo cortes orçamentários brutais na rede federal. Ela tanto não tem que tivemos que buscar no BNDES”.

Sobre a instituição bancária, o diretor é muito agradecido e diz que eles mostraram “lealdade ao não abandonarem o museu” nos momentos difíceis.

Meses antes da tragédia ficou acertado entre o Museu Nacional e o BNDES o valor de 21,7 milhões de reais para a restruturação do local – o dinheiro começaria a ser enviado em outubro. Alexander não nega que os planos mudaram, mas que a parceria não acabou e que o dinheiro irá entrar de alguma forma.

Alexander não quer mais falar do que aconteceu e do passado, ele quer “arregaçar as mangas e restaurar o museu”. Ele está pedindo apoio de Portugal com o envio de novos itens para que o acervo do museu nacional seja reinventado e clama ao povo que não se esqueça do local.

“Se tinha um prédio que necessitava de cuidados era esse. Muito se perdeu, mas muito irá se recuperar. Há esperanças. O que não podemos permitir é que o Brasil perca a sua história”.

Na tarde desta segunda-feira,3, ele se reuniu com o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, e o ministro da educação, Rossieli Soares da Silva, de lá ficou acertado que seria repassado ao Museu 10 milhões de reais para “manter a fachada de pé”, nas palavras de Alexander. “Esse dinheiro é em caráter emergencial para garantir o mínimo, para não deixar a história do país ruir de vez”. Além da quantia, será levado ao Palácio do Planalto um pedido para pleitear um terreno adjacente ao museu onde será realocado os funcionários e as peças salvas do acervo. “Eu espero que o presidente tenha sensibilidade para autorizar a utilização desse terreno”, suplica Alexander.

Ele ficou motivado ao ouvir da boca do Ministro da Cultura uma reforma imediata no local cujo “plano abrangente” já existiria. A ação será dividida em 3 passos: Estabilizar a estrutura para que as pessoas possam entrar e recuperar o acervo; Colocar a instituição em outro patamar reformando a parte das instalações, como a luz elétrica; Visar a abertura para novas exposições. O diretor deixa bem claro que ele ficará de olho e que, se for preciso, irá cobrar do ministro.

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