Grupo descontava propina de bônus de executivos

  • Por Estadão Conteúdo
  • 17/04/2017 08h44
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas Dinheiro - publicas

O delator da Odebrecht Hilberto Mascarenhas, que comandou o Setor de Operações Estruturadas da empreiteira – o “departamento de propina” que, segundo ele, movimentou US$ 3,37 bilhões de 2006 a 2014 -, afirmou em depoimento que a empresa descontava dos bônus anuais pagos a executivos o valor de repasses irregulares feitos pela companhia.

“É possível que um executivo que não tivesse feito ou solicitado nenhum pagamento irregular ainda assim ganhasse bônus pelos resultados?”, questionou um dos procuradores. “Sim, ele seria até mais premiado, com certeza, por não ter feito a empresa correr riscos”, respondeu Mascarenhas, durante depoimento no dia 15 de dezembro do ano passado.

Segundo o ex-executivo, parte do bônus era paga oficialmente e parte, via Setor de Operações Estruturadas. “O setor fazia todos os pagamentos (da empresa) por fora, inclusive bônus”, afirmou o delator. “Os bônus, anuais, eram referentes a resultados que os executivos deram”, disse Mascarenhas.

O executivo afirmou ainda em sua delação premiada que receber dinheiro em obra pública sem pagamento de corrupção era “um sonho em uma noite de verão”, referência à peça teatral de William Shakespeare. Na sistemática de pedidos, autorizações e ordenamentos de pagamentos de propinas dentro do grupo, Mascarenhas citou Isaías Ubiraci Chaves Santos, também delator.

Apesar de não ser funcionário da Odebrecht, era ele que, segundo o ex-executivo, “recebia as requisições” de pagamentos de Marcelo Odebrecht e acionava o Setor de Operações Estruturadas da empresa.

“Conta-corrente”

Mascarenhas relatou que uma das ordens que Ubiraci costumava receber de Marcelo Odebrecht era: “Se uma obra mandou menos recurso para a matriz do que pediu, essa obra não podia pedir pagamento nenhum”.

“Se alguém enviasse um pedido referente a uma obra que tivesse valor arrecadado menor do que pediu para os pagamentos não contabilizados, ele não podia receber”, afirmou o ex-chefe do departamento de propinas. “Acho que o que ele (Marcelo Odebrecht) queria era forçar aquela obra a regularizar a situação da conta-corrente dela.”

Com 40 anos de empresa, Mascarenhas disse ter avisado Marcelo Odebrecht do “problema”. “Marcelo, isso que você está fazendo é um tiro no pé. Porque, às vezes, ele está pedindo dinheiro para pagar o cara que vai pagar a fatura dele. Se você proíbe que ele dê o dinheiro para a pessoa, ele não vai receber a fatura, ele vai ficar sempre negativo”, relatou o delator.

Segundo Mascarenhas, o herdeiro do grupo queria que o responsável pela obra “corresse atrás, sem precisar dar nada”. Ele disse discordar do empreiteiro. “Isso é um sonho na noite de verão. Não era assim que funcionava. Esperamos que no futuro mude. Mas as tesourarias e os órgãos não funcionava assim, se não me der o meu, não sai aqui o pagamento.”

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