Haddad naufraga e PT perde a periferia em São Paulo

  • Por Jovem Pan
  • 02/10/2016 19h15
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Brasília- DF 05-01- 2016 Foto Lula Marques/Agência PT Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, durante entrevista a imprensa depois de encontro com ministro, Jaques Wagner. Lula Marques/Agência PT Fernando Haddad - Ag. PT

As eleições para a prefeitura de São Paulo foram devastadoras para o PT. Não apenas pela vitória do tucano João Dória no primeiro turno, com uma arrancada surpreendente na reta final, mas por aquilo que um olhar mais detido sobre o mapa eleitoral da cidade demonstra: com os quatro anos de Fernando Haddad à frente da prefeitura,  o partido perdeu a periferia da maior cidade do país, que terminou pintada com as cores do adversário.

É verdade que o PT mostrou algum poder de reação na reta final da campanha. A pouco mais de uma semana da eleiçãop, Haddad amargava a quarta posição nas intenções de voto. Terminou em segundo, com 16,70% dos votos válidos. Mas isso não torna o resultado da eleição mais palatável para o PT.

Para o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, a gestão de Haddad à frente da prefeitura fez com que o PT regredisse à situação eleitoral de 2002 na cidade. “Ele cativou certo eleitor de classe média, mas teve dificuldade de entrar na periferia”, diz Cortez. “Com ele, o PT parece ter perdido as regiões que conquistou na cidade durante os mandatos de Lula e o primeiro mandato de Dilma.”

De fato, o PT escolheu Haddad para concorrer à prefeitura São Paulo em 2012, num momento em que as políticas sociais implantadas pelo partido no plano federal pareciam ter lhe dado hegemonia nas regiões periféricas da cidade. Cabia ao professor universitário que acabava de deixar o ministério da Educação cativar a parcela da classe média paulistana refratária ao partido. Haddad operou exatamente na frequência que se esperava dele, e venceu.

Em 2016, contudo, o que foi vantagem se converteu em problema. Em quatro anos, a prefeitura de Haddad não deixou nenhuma marca nas regiões mais pobres da cidade. Afetadas pela crise econômica parida por Dilma Rousseff, essas regiões lhe viraram as costas. Assim, no início da campanha o apoio ao candidato vinha quase que exclusivamente dos jovens de classe média afinados com suas políticas “progressistas”. Na reta final da campanha, ele fez uma investida sobre a periferia, com a presença constante do ex-presidente Lula ao seu lado. Rcuperou algum terreno, mas não foi o suficiente para levá-lo ao segundo turno.

Outro fator conjuntural, o desgaste da imagem do PT com o petrolão, o maior escândalo de corrupção já desvendado pela Justiça brasileira, impediu que Haddad cativasse outras camadas da classe média – feito que havia obtido na eleição anterior. “A crise de imagem do PT fez com que ele já largasse correndo atrás de um prejuízo considerável”, diz Cortez.

Mas nem todos os problemas de Haddad devem ser atribuídos ao partido. Ele também perdeu por erros próprios. Com seu ar acadêmico, de professor sabe-tudo, Haddad foi um prefeito arrogante. Além disso, escolheu como marcas causas não propriamente erradas, mas que não constituíam uma prioridade para a metrópole, como a implantação das ciclofaixas.

Na visão do professor de ética e filosofia política da Unicamp, Roberto Romano, Haddad foi errou seguidamente nas modificações urbanísticas que implementou. “Haddad não deu solução para qualquer questão social e política mais profunda”, diz Romano. “Ele confundiu os bikers com o habitante de São Paulo;” 

As urnas cobraram o preço de quatro anos de gestão voltada quase que exclusivamente a temas “progressistas”. Haddad virou pop entre a classe média ainda sucetível às utopias da esquerda, mas se esqueceu de olhar para a cidade real. Deu no que deu. 

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