Mais de 5,5 milhões de informais podem não receber auxílio de R$ 600, estima pesquisa

  • Por Jovem Pan
  • 20/04/2020 12h36
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Cris Faga/Estadão Conteúdo O governo prevê começar a calcular alternativas de como levar o auxílio emergencial de R$ 600 para pessoas sem acesso à internet a partir de maio

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, feita a pedido do Estado, mostrou que mais de 5,5 milhões de brasileiros com renda de até meio salário mínimo, elegíveis para receber o benefício de R$600, não têm conta em banco ou acesso regular à internet, o que pode impossibilitar a inscrição para recebimento do auxílio.

“A crise do coronavírus tirou renda e jogou para a pobreza muita gente que tinha pouco, mas não era alvo de programas sociais. O vírus joga luz a problemas que já existiam, como a baixa renda dos informais, e acentua uma desigualdade histórica”, diz Renato Meirelles, que é presidente do Instituto Locomotiva.

Entre os economistas, é quase um consenso que o benefício é fundamental para evitar o colapso de milhões de famílias, que ficaram sem rendimento durante a pandemia. Entretanto, fazer o recurso chegar a quem não fazia parte de programas como o Bolsa Família ou estava inscrita no Cadastro Único (um instrumento do governo que identifica as famílias de baixa renda) é mais difícil do que parece.

O casal Viviane Santos, de 26 anos, e Adriano da Silva, de 39,  ficaram aliviados com a possibilidade de receber o auxílio emergencial de R$ 600. “Mas, quando vimos a burocracia para conseguir o recurso, foi como se o fim do túnel ficasse mais longe”, diz Viviane.

Para Adriano, que é pedreiro e mora em uma ocupação na periferia de São Paulo, “o trabalho desde a pandemia está reduzido a zero”. Para Viviane, até mesmo o acesso à internet, que usaria para marcar faxinas, também é raro. “É como se a gente fosse invisível”, resume.

Mas a dificuldade para acesso e solicitação do benefício não se resume ao casal. No Rio de Janeiro, uma associação de camelôs é quem está cadastrando e fazendo o acompanhamento dos pedidos de colegas sem internet ou conta em banco. “Fazemos o pedido e monitoramos o andamento”, conta a ativista Maria de Lourdes do Carmo. “Se a gente não se unir, todo mundo vai sofrer.”

“O auxílio é bem desenhado. O desafio é chegar a todos”, diz Pedro Herculano de Souza, técnico do Ipea que estuda a desigualdade de renda.

Na sexta-feira (17), a Caixa Econômica Federal informou que 9,1 milhões de pessoas que se inscreveram para o programa pelo aplicativo ou site receberiam a parcela de R$ 600 até esta segunda-feira (20).

Alternativas

O governo prevê começar a calcular alternativas de como levar o auxílio emergencial de R$ 600 para pessoas sem acesso à internet a partir de maio, segundo o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. Entretanto, ele acredita que mesmo pessoas que não possuem acesso à tecnologia poderão contar com uma rede de apoio para fazer o seu cadastro virtual.

“Se, ainda assim, surgirem situações expressivas, vamos tentar buscar essas pessoas. Mas, pelo aplicativo e site já temos resultados expressivos, o brasileiro está muito digitalizado. Caso a pessoa não consiga (pelo site ou aplicativo), ela pode ir em uma agência da Caixa, em uma associação comunitária, enfim, tem toda uma rede de solidariedade para ajudá-la”, afirmou.

O ministro disse ainda acreditar que até o fim do mês a maioria das pessoas terá recebido duas parcelas do auxílio emergencial – com exceção dos beneficiários do Bolsa Família, que seguirão recebendo os recursos dentro dos períodos preestabelecidos, uma vez por mês.

Onyx estima que, com o aplicativo criado pela Caixa, o governo deve identificar em torno de 20 milhões a 25 milhões de pessoas consideradas “invisíveis” e que ganharão contas bancárias digitais para receber os recursos.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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