‘Já vimos esse filme com Dilma e com Levy’, diz economista

  • Por Estadão Conteúdo
  • 03/08/2016 09h36
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Brasília - Presidente interino Michel Temer e os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, durante reunião no Palácio do Planalto (Valter Campanato/Agência Brasil) Valter Campanato/Agência Brasil Henirque Meirelles

Uma demonstração de fraqueza política maior do que se esperava. Essa foi a avaliação de economistas sobre o desempenho do governo em exercício no Congresso neste início de semana. Nesta terça-feira, 2, de uma só vez, ao menos em três frentes importantes, o governo sofreu derrotas: o projeto de renegociação das dívidas dos Estados ficou sem as contrapartidas desejadas, o Projeto de Emenda Constitucional sobre a fixação do limite de gastos, a PEC do Teto, parou em uma comissão do Senado e o projeto de venda de dívidas, que busca alternativas de arrecadação, não foi à votação.

As alterações no projeto sobre a dívida dos Estados alarmaram o economista Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “O resultado foi péssimo: as propostas capitaneadas pelo deputado Esperidião Amin vão destruir o ajuste fiscal no longo prazo e, até onde tínhamos entendido, a moeda de troca era fazer concessões no curto prazo para arrumar o longo prazo”, diz Pessôa. 

Sua preocupação maior é que o governo interino de Michel Temer e a equipe do ministro da Fazenda Henrique Meirelles sigam a mesma trajetória de Dilma Rousseff e do ex-ministro Joaquim Levy, que tiveram a tentativa de ajuste fiscal abatida no Congresso. “É só resgatar a trajetória, porque vimos esse filme com a Dilma e o Levy no ano passado: quando as medidas importantes para o ajuste fiscal chegaram ao Congresso foram desfiguradas e a sinalização agora é que o governo Temer e sua equipe econômica, por melhor que seja, podem reproduzir o mesmo enredo”, diz. 

Recuar é pior

O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, define como “desconfortável” o momento do governo no parlamento. “O Palácio do Planalto precisa ter claro que quanto mais recuar, pior vai ficando, porque os profissionais do achaque no Congresso sabem que essa é a hora de conseguir o seu: o governo está enfraquecido até o impeachment”, diz ele.

Na avaliação de Mendonça de Barros, ainda dá para reverter a discussão do projeto da dívida, mas o governo precisa ter claro que não pode errar na aprovação do limite de gastos. “A PEC do Teto é o teste do pudim: se não passar como precisa ser, com substância, de verdade, aí sim vai ser um desastre”, pondera.

O economista Bernard Appy, sócio do Centro de Cidadania Fiscal e ex-secretário Executivo do Ministério da Fazenda, tem uma preocupação parecida. Espera que governo consiga reverter a posição no Congresso para aprovar não apenas a PEC do Teto, mas também a reforma da Previdência. “O que vimos não pode acontecer com corte de gastos e reforma da Previdência, que são vitais para o ajuste fiscal”.

Na opinião de Appy, o melhor a fazer em relação à negociação da dívida com os Estados é dar uma parada. “O governo precisa puxar o freio de arrumação e buscar soluções, porque não pode passar como está: vai comprometer a transparência das contas e instituir a contabilidade criativa de vez”, diz.

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