Janot mostra articulação entre Aécio e Temer para frear Lava Jato

  • Por Jovem Pan
  • 19/05/2017 14h42
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Brasília - O presidente interino Michel Temer durante cerimônia de posse aos novos ministros de seu governo, no Palácio do Planalto. À esquerda, o senador Aécio Neves (Marcello Casal Jr/Agência Brasil) Agência Brasil Aécio Neves e Michel Temer - PSDB e PMDB - ABR

Em documentos divulgados nesta sexta-feira (19), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que o senador afastado Aécio Neves agiu junto ao presidente Michel Temer para barrar a Operação Lava Jato.

Em um dos áudios entregues à Procuradoria-Geral da República, Joesley Batista, dono da JBS, questiona o tucano sobre a necessidade de parar com as investigações deflagradas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, ao que Aécio esclarece que é para “cortar tudo para trás”.

Ao explicar a frase, Aécio Neves diz: “tudo, acabar com todos esses crimes, de falsidade ideológica (…) o negócio grande não dá para assinar na surdina, tem que ser o seguinte, todo mundo assina, o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, estamos montando. A ideia é votar… porque o Rodrigo [Maia] devolveu aquela tal das ‘dez medidas’, a gente vai votar naquelas ’dez medidas’, naquela merda daquelas ‘dez medidas’, então essa porra. O que estou sentindo, estou trabalhando nisso igual um louco”.

Neste trecho, Aécio refere-se a dois projetos que tramitavam no Congresso: o projeto de anistia ao caixa dois e a lei de abuso de autoridade. O primeiro tentou ser votado na surdina por duas vezes e o projeto de lei do abuso de autoridade foi adiado no Senado.

Sobre a Lava Jato, especificamente, o tucano tentou organizar uma forma de impedir que as investigações avançassem. Para isso ele direcionaria a distribuição dos delegados que conduziriam os inquéritos. No entanto, isso não chegou a ser finalizado entre Temer, Aécio e o ex-ministro da Justiça e atual ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Na conversa com Joesley, Aécio diz: “o que vai acontecer agora, vai vir inquérito sobre uma porrada de gente, caralho, eles aqui são tão bunda mole, que eles não notaram o cara que vai distribuir os inquéritos para os delegados, você tem lá, sei lá, tem dois mil delegados na Polícia Federal, aí tem que escolher dez caras. O do Moreira, o que interessa a ele, sei lá, vai pro João, o do Aécio vai pro Zé. O outro filho da puta vai pro, foda-se, vai para o Marculino, nem isso conseguiram terminar, eu, o Alexandre e o Michel”.

Neste trecho fica nítida a intenção de Aécio em barrar a Operação Lava Jato em conluio com o presidente da República e o atual ministro do Supremo.

Na decisão do ministro relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, que determinou a abertura de inquérito para a investigação de Temer, Aécio e o deputado Rocha Loures, consta a afirmação de Janot: “verifica-se que Aécio neves, em articulação, dentre outros, com o presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio do controle de indicação de delegados de polícia que conduzirão os inquéritos. Desta forma, vislumbra-se também a possível prática do crime de obstrução à Justiça previsto no §1º do art 2º da Lei 12.850/2013”.

O art 2º da Lei 12.850/2013, da organização criminosa diz: “Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa” tem pena de reclusão de três a oito anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.

Já o § 1º diz: “Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa”.

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