João de Deus cometeu ‘estelionato sexual’ e costumava oferecer ‘presentes’ às vitimas, afirma delegado
Um dos coordenadores da força-tarefa que investiga João de Deus, o delegado Valdemir Pereira disse nesta quinta-feira (20) que a Polícia Civil de Goiás tem “provas robustas” para que o médium seja condenado por violência sexual mediante fraude. Segundo ele, o líder espiritual tinha como hábito oferecer presentes para silenciar vítimas.
A polícia concluiu nesta quinta o primeiro inquérito contra João e decidiu indiciá-lo pelo crime de “violação sexual mediante fraude”, que consta do artigo 215 do Código Penal. Os casos são considerados “fraude” porque o agressor fazia o abuso parecer uma prática comum da “consulta” espiritual”. A pena varia de dois a seis anos em regime fechado.
“Foi um estelionato sexual, a vítima foi lá [na Casa Dom Inácio de Loyola] para ser curada e ele [João de Deus], aproveitando dessa situação, enganou a vítima e abusou dela sexualmente. A Polícia Civil entende que há provas robustas contra o investigado”, afirmou o delegado. O médium está preso desde o último domingo (16).
Inquérito
No caso encerrado pelos investigadores, a vítima é uma mulher de aproximadamente 40 anos. Ela sofreu abuso sexual em outubro deste ano. Na quarta-feira (19), ela foi levada até o centro espiritual de Abadiânia (GO) e reconheceu a sala onde aconteceu o crime. “Ela descreveu onde foi abusada. A perícia esteve no local e a Polícia Civil entende que há provas para uma condenação”, afirmou o policial.
Inicialmente, a apuração considerava 15 casos, mas somente um havia acontecido depois de junho. Isso acontece porque o Código Penal determinava prazo de seis meses para a denúncia. Em setembro, uma mudança fez esse período ser extinto. As vítimas anteriores a essa data serão consideradas “testemunhas” do crime na justiça.
Caso
A vítima que integra o inquérito havia visitado a Cada Dom Inácio de Loyola diversas vezes, sempre acompanhada pelo namorado. Em uma dessas ocasiões, ela ficou sozinha com o médium em uma sala para consulta espiritual. Com as luzes apagadas, João teria começado a tocá-la na região íntima, que então, percebeu que ele estaria com o órgão sexual exposto.
Aos policiais, a mulher contou que, quando percebeu a tentativa de abuso, resistiu e interrompeu qualquer contato físico. João de Deus, então, teria oferecido a ela uma pedra “de valor” e dois quadros religiosos. Em depoimento, o médium disse não se lembrar da pedra, mas admitiu a oferta de “quadros”. O caso será remetido ao Ministério Público.
Presentes
O delegado contou ainda que João de Deus tinha a prática “comum” de oferecer presentes às mulheres após “tentar” os abusos, com o objetivo de evitar que elas o denunciassem. “Isso [tentativa de silenciar a vítima] ficou muito claro. Essa é uma prática comum dele. Ele abusa sexualmente da vítima e depois dá presentes às pessoas abusadas”, explicou.
Acusações
O líder espiritual está preso preventivamente desde o último domingo (16), quando se entregou à polícia em Abadiânia (GO). Ele é acusado de ter cometido abusos sexuais por mais de 500 mulheres de sete países. Além disso, ele movimentou R$ 35 milhões após as primeiras denúncias e a polícia encontrou dinheiro em um imóvel dele.
Habeas corpus
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, está avaliando nesta quinta-feira (20) a liberdade a João de Deus. Mais cedo, a defesa do médium havia pedido habeas corpus à Corte. Para julgar o caso, o ministro chegou a pedir informações ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Esse é a terceira tentativa de liberação.
O habeas corpus apreciado por Dias Toffoli é o terceiro impetrado pela equipe de advogados capitaneada por Alberto Toron. Na quarta, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nefi Cordeiro negou a solicitação do advogado. Um dia antes, na terça (18), o Tribunal de Justiça de Goiás já havia indeferido outro pedido.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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