JP Descomplica: Entenda a alta do preço da carne bovina no Brasil
Nos últimos meses, o preço da carne bovina disparou nas prateleiras dos mercados e açougues. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em novembro, houve um pico de 8% de aumento. No mesmo mês em 2018, por exemplo, o quilo da carne nobre no atacado estava na faixa de R$ 11. Já neste ano, chegou a R$ 20.
No dia 6 de dezembro, o Ministério da Agricultura informou que houve um recuo de 9% dos valores no mercado doméstico. No entanto, os preços continuaram elevados, o que fez com que muitas pessoas – tanto consumidores, quanto empresários – precisassem se adequar ao cenário.
O dono do restaurante Mamma De La Pasta, Fernando Quintanilha, conta que precisou alterar o cardápio em razão da alta dos preços. “Há alguns meses, o pacote de 1kg custava R$ 10. Hoje, o mesmo produto no pacote de 900 gramas custa R$ 15, é um absurdo. Infelizmente não dá para desenvolvermos um prato com carne bovina”, relata.
Helenn Prado, proprietária de um açougue na Zona Norte de São Paulo, diz que as vendas do produto diminuíram. “Temos uma procura menor da carne bovina. Nossos clientes estão fazendo uma troca para o frango, por exemplo. Esses aumentos nos prejudicam muito”, finaliza.
Perguntas e respostas:
Por que o preço da carne disparou?
Segundo a diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec), Liège Vergilli Nogueira, o aumento foi ocasionado por três motivos.
Primeiro, o crescimento natural das exportações no mês de dezembro, devido às comemorações de final de ano, o que faz com que o preço no mercado interno fique mais elevado, por causa da procura pelo produto. Além disso, este ano o Brasil teve uma grande época de estiagem, o que causou a indisponibilidade de alimento para os bois e, consequentemente, uma falta de oferta da matéria-prima.
No entanto, o motivo principal foi a alta das importações da China, que ampliou as compras em função da crise da peste suína. “Isso aumentou a demanda por proteína no mundo inteiro, e o Brasil, como um grande produtor e exportador de carne bovina – o País oscila entre o 1º e o 2º ao longo dos anos – obviamente vai ser mais demandado”, explica Liège.
De acordo com o especialista em bens de consumo Gustavo Penna, o aumento das exportações da China foi de aproximadamente 110%.
Por que a demanda da China por carne brasileira aumentou?
Em resumo, a questão é matemática e pode ser explicada pela lei da oferta e procura. Como a demanda externa e interna pela carne aumentou, o produto ficou mais escasso. Por ter menos quantidade, seu preço fica naturalmente mais caro.
De acordo com o especialista em bens de consumo e diretor comercial da Menu, Gustavo Penna, por a China estar “em um momento de conflito comercial com os EUA, essa demanda veio muito para a América Latina. Nesse período, a nossa exportação para a China cresceu quase 110%. Foi um aumento muito relevante.”
A guerra comercial entre os dois países se arrasta há quase dois anos e, só agora, caminha para um acordo. Para entender o debate é preciso ressaltar que a China exporta mais produtos para os EUA do que importa. Isso causou uma certa irritação ao governo norte-americano, que culminou até em ameaças de sobretaxa.
Nos acordos que estão sendo debatidos agora, está a exigência da maior compra de produtos dos EUA pela China. É com esse ponto que o Brasil precisa se preocupar, porque o aumento da importação chinesa pode significar uma interferência no agronegócio brasileiro – já que o Brasil é um dos principais fornecedores de produtos para eles.
O que o governo pode fazer para diminuir esse preço?
O especialista em bens de consumo Gustavo Penna afirma que o governo não tem como resolver esta questão, já que é o mercado quem define os preços. Segundo ele, a única alternativa é esperar o movimento voltar ao seu curso normal e os preços estabilizarem.
“Não existe muito o que fazer. É um movimento natural do mercado, a gente teve uma diminuição da oferta que consolidou junto do aumento grande da demanda do mercado externo e isso é um efeito natural. As empresas que comandam esse setor são grandes multinacionais, então a interferência do governo seria extremamente mal vista.”
O presidente Jair Bolsonaro e a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, falaram que o governo “não vai se meter” nessa questão e garantiram que não vai ocorrer o tabelamento do preço.
“Eu não posso agora querer tabelar o preço da carne, congelar, não vou fazer. Nossa política é de mercado aberto. Logicamente os produtores rurais, os pecuaristas, estão gostando do que está acontecendo”, disse o presidente.
Vai faltar carne nos mercados neste final de ano?
A diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec), Liège Vergilli Nogueira, avalia que essa possibilidade é muito remota. Ela explica que, embora haja um aumento da competição pelo produto por causa da oferta mais restrita e da melhor remuneração dos mercados, o volume ofertado continua muito alto.
“No Brasil, 80% do que é produzido nos frigoríficos fica no mercado interno. Então você tem um mercado muito importante e bem abastecido.”
O preço deve recuar nas próximas semanas?
O especialista em bens de consumo Gustavo Penna lembra que o preço já deu uma diminuída nessas primeiras semanas de dezembro, mas que não deve reduzir mais do que isto.
“Deve ficar neste patamar e a tendência é não acontecer um movimento muito significativo nessa linha de redução e nem voltar para o preço que estava antes. A expectativa que temos não é de um recuo grande nem no curto e nem no médio prazo”, afirma.
Para a diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec), Liège Vergilli Nogueira, o valor deve retroceder, embora não volte para os patamares anteriores. Isso porque houve um aumento no preço da matéria-prima – o boi – e uma remuneração maior do produto.
“Com uma maior disponibilidade e renda, há um aquecimento da economia e muda o cenário, que deve se consolidar para o próximo ano, recuando o valor que naturalmente já recuaria conforme histórico de ano anteriores”, explica.
Qual é a alternativa para os consumidores?
Além de consumir outros tipos de proteína animal, como frango ou porco, os consumidores também podem explorar outro mercado: o da proteína vegetal. O especialista em bens de consumo Gustavo Penna aponta que a popularidade desses produtos está crescendo.
“O consumidor pode procurar alternativas em proteínas vegetais. O mercado está crescendo bastante, você tem muito mais alternativa do que no passado. Esse movimento os consumidores já mostraram ser muito relevante em 2019 e 2020 deve ser o ano da proteína vegetal.”
Quer conferir a reportagem em áudio? No episódio da semana do podcast JP Descomplica esclarecemos por que o preço da carne aumentou e se ele deve recuar nas próximas semanas. É só dar o play!
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