JP Descomplica: O vazamento de óleo nas praias brasileiras pode afetar as suas férias?

Especialistas explicam se as manchas representam um perigo para os banhistas e se o petróleo afetou o turismo brasileiro

  • Por Camila Corsini e Carolina Fortes
  • 03/01/2020 08h00
Charles Johson/Estadão Conteúdo mancha-de-oleo A primeira mancha apareceu no dia 30 de agosto no litoral da Paraíba e se espalhou rapidamente pela costa, atingindo todos os estados do Nordeste e o Sudeste do País

Muito se falou em 2019 sobre umas das maiores tragédias que já aconteceu nos mares brasileiros: o vazamento de óleo, que atingiu mais de 900 praias no Sudeste e Nordeste do País. Segundo o Ibama, ao longo dos últimos meses, quase cinco mil toneladas do material foram recolhidas.

A primeira mancha apareceu no dia 30 de agosto no litoral da Paraíba e se espalhou rapidamente pela costa, atingindo todos os estados do Nordeste, até chegar no Espírito Santo e, mais recentemente, no Rio de Janeiro. Alguns lugares registraram, inclusive, a presença do material mais de três vezes. Isso quer dizer que a praia era classificada como limpa pelo governo, mas o petróleo voltava a aparecer.

Quatro meses depois do desastre, as polêmicas são muitas, e a origem do vazamento segue um mistério. Com a proximidade dos meses de sol, calor e férias, começa a preocupação: será que as manchas representam mesmo um perigo para os banhistas?

Perguntas e respostas

É possível se intoxicar com o óleo ao ir à praia?

O médico toxicologista da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e do Instituto Fleury, Alvaro Pulchinelli, alerta que as pessoas devem ficar atentas, já que nem todos os lugares estão efetivamente limpos.

“As pessoas devem se preocupar com o risco de intoxicação já que a mancha ainda tem alguma progressão. Por isso, devem prestar atenção em sujeiras na água, na areia, qualquer sinal estranho de poluição nas praias”, explica.

De acordo com ele, nos locais onde as autoridades já garantiram que os níveis não são prejudiciais, os banhistas podem ficar mais tranquilos. Entretanto, ele ressalta que se mantenham informados pelos meios de comunicação e avisos locais. “Nem sempre é possível atestar que o lugar está limpo a olho nu, então é importante não arriscar. A informação deve ser a mais precisa e cuidadosa nestes casos”, afirma.

O Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil (MB), Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), informa que a situação está sendo estabilizada e que, na grande maioria das ocorrências, estão sendo observados somente vestígios esparsos. “Alguns poucos municípios, distribuídos nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, têm apresentado uma maior reincidência de resíduos oleosos, com a limpeza sendo concluída ao final de cada dia”, esclarece.

O oceanógrafo especialista em emergências causadas por óleo, Jackson Krauspenhar, confirmou a informação do Governo, mas afirmou que não dá para generalizar.

“Se a gente pegar essas 900 localidades, pelo menos a metade delas já está limpa – ou seja, não tem mais o óleo presente nas praias e provavelmente não tem também os mais solúveis. Porém, ainda sobram algumas localidades que ainda estão chegando óleo, então não podemos generalizar.”

E ao consumir frutos do mar?

Para o médico toxicologista da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e do Instituto Fleury, Alvaro Pulchinelli, a ingestão de frutos do mar deve ser feita com muita cautela. Os consumidores devem procurar locais onde os fornecedores tenham controle de qualidade desses alimentos, já que eles podem estar contaminados.

“Cuidado especial com animais filtradores, como mariscos e ostras. Mas peixes e crustáceos também podem ser perigosos”, completa.

De acordo com o oceanógrafo Jackson Krauspenhar, essa contaminação não acontece a olho nu. Ou seja, você não consegue saber se um alimento está contaminado apenas por olhar para ele.

“O que mais contamina as espécies marinhas é o que está solúvel na água, que acaba entrando dentro do organismo e afetando a cadeia alimentar. Mas a contaminação não é aquela que a gente enxerga, mecânica. O problema é o que está invisível”, explica.

Quais são os sintomas da possível intoxicação por causa do óleo?

O médico toxicologista da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e do Instituto Fleury, Alvaro Pulchinelli, afirma que os sintomas da exposição aguda ao óleo e derivados de petróleo são irritação na pele e nas mucosas – uma sensação semelhante a uma queimadura.

Ele explica que a contaminação por ingestão é mais difícil, pois a pessoa teria que engolir uma grande quantidade de água. No entanto, se isso acontecer, ela vai apresentar sintomas de gastroenterite, náusea, vômitos e diarreia. “Esses quadros são benignos, mas toda vez que tiver qualquer um desses sintomas é importante procurar auxílio médico”, diz.

Além disso, segundo Pulchinelli, é importante fazer a descontaminação, que consiste em lavar a região vigorosamente com água corrente e sabão neutro. “No caso do contato com o olho é importante consultar um oftalmologista e lavar abundantemente com soro fisiológico”, alerta. O médico ressalta, ainda, que não se deve usar qualquer outro solvente orgânico, como óleo diesel.

Qual foi a origem do vazamento?

Não se sabe ao certo. A possibilidade mais provável é de que o petróleo tenha vazado durante uma transferência de carga entre dois navios ou de uma embarcação apenas, a aproximadamente 600 a 700 km da costa brasileira.

No final de outubro, a Petrobras disse que o óleo possivelmente tinha origem venezuelana, mas as análises da empresa não foram divulgadas ao público. No dia 1º de novembro, a Polícia Federal apontou um navio grego, o petroleiro Boubolina, como o suspeito pelo derramamento. No entanto, a Delta Tankers, empresa responsável pelo navio, negou a suspeita, e afirmou que não há provas de que o material partiu da embarcação.

As últimas informações foram divulgadas no início de dezembro pelo comandante de Operações Navais da Marinha, Leonardo Puntel. Segundo ele, não existem evidências que identifiquem o responsável pelo início do desastre.

O turismo nos locais afetados vai ser menor neste final de ano e nas férias de verão?

Não. Apesar das polêmicas, uma pesquisa divulgada pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), que levantou as taxas de ocupação para a festa do final de ano e para o verão 2020, mostrou números bastante positivos.

“A retomada da economia está fazendo o brasileiro investir no seu lazer e na realização dos seus sonhos, como por exemplo, conhecer novos lugares e culturas. Não podemos esquecer também que a liberação dos vistos para americanos, canadenses, japoneses, australianos, chineses e sauditas também incrementou o resultado”, explicou Manoel Cardoso Linhares, presidente da ABIH Nacional.

Em Salvador, por exemplo, os hotéis comemoram a alta procura e esperam que a ocupação no Réveillon chegue aos 100%, como no ano passado. Segundo o levantamento da ABIH-Bahia, os índices do mês de janeiro devem ficar acima dos 90%.

Pernambuco, Recife e Porto de Galinhas são os destaques. Para o final do ano, a ocupação deve se aproximar dos 100% nas duas localidades. Já em janeiro, o índice esperado está em torno de 90%. Ainda no Nordeste, Ceará é outro destino que deve apresentar números semelhantes. Dados da ABIH-Ceará apontam para 95% de ocupação na rede hoteleira do estado. Para janeiro, a perspectiva fica em torno de 80%. Em Alagoas, segundo a ABIH local, a ocupação deve chegar a 92% no Réveillon. No Rio Grande do Norte, os números são parecidos: 91% no mesmo período.

O diretor nacional do buscador de voos Viajala, Eduardo Martins, diz que dados da empresa apontaram Recife como o destino mais procurado saindo de São Paulo. O segundo é o Rio de Janeiro, e o terceiro Fortaleza, também no Nordeste do Brasil.

“Quem já tinha viagens planejadas não vai cancelar. O que deve acontecer é um ajuste nos roteiros, mas a costa do Brasil é muito grande. Ou seja, existem muitas opções de locais e programas de lazer, o turista acaba conseguindo adaptar sua viagem e realizá-la”, explica.

Quer conferir a reportagem em áudio? No episódio da semana do podcast JP Descomplica explicamos se as manchas representam um perigo para os banhistas e se o óleo afetou o turismo brasileiro. É só dar o play!

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