Juiz mantém presos brigadistas acusados de atear fogo em Alter do Chão
Suspeitos devem ficar em prisão preventiva por 10 dias

A Justiça do Pará negou nesta terça-feira (26) o pedido da defesa dos quatro brigadistas presos em caráter preventivo por suspeita de terem ateado fogo em parte da vegetação da Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão, em Santarém, no oeste paraense.
Ainda durante a audiência de custódia realizada ontem, pouco após a Polícia Civil ter deflagrado a Operação Fogo no Sairé e deter os quatro suspeitos, o juiz da 1ª Vara Criminal de Santarém, Alexandre Rizzi, decretou que os investigados permaneçam presos preventivamente por, ao menos, dez dias, conforme permite a lei.
A medida visa que os investigadores aprofundem a apuração das causas, bem como os responsáveis pelas queimadas. Encerrado o prazo de dez dias, o magistrado voltará a analisar a situação para se decidir pela manutenção da prisão.
Ontem, o diretor de Polícia do Interior, delegado José Humberto de Mello, disse que, ao longo de dois meses de investigação, os investigadores reuniram indícios que apontam que os responsáveis pela Brigada de Incêndio de Alter do Chão ateavam fogo na vegetação e, posteriormente, participavam das ações para apagá-lo. O propósito do grupo, segundo o delegado, seria se autopromover a fim de obter donativos em dinheiro de outras organizações não governamentais.
“Observamos que eles organizavam as queimadas e usavam isso para vender imagens [dos combates aos incêndios florestais] para ONGs internacionais e, assim, conseguir financiamento”, declarou Mello. De acordo com o delegado, a Brigada de Incêndio Florestal recebeu cerca de R$ 300 mil – dos quais, segundo as investigações, declararam ter gasto R$ 100 mil — em uma semana, logo após os incêndios de setembro começarem a ser noticiados.
O que disse a defesa
A defesa dos quatro brigadistas prometeu impetrar pedidos de habeas corpus para tentar obter a imediata soltura dos suspeitos. Em nota, a assessoria da Brigada de Incêndio de Alter do Chão afirmou que os advogados que cuidam do caso consideram as prisões irregulares, e, até a manhã de hoje (27), não tinham tido acesso a todos os autos do inquérito. Assim, sobre a menção a vídeos citados por jornalistas, e que supostamente mostrariam voluntários do grupo ateando fogo em matas, a Brigada declarou só poder falar em hipóteses.
“Uma delas é que as imagens sejam de treinamentos de voluntários, em que focos de fogo controlados são criados para exercícios práticos. Esse tipo de exercício, praxe no treinamento de combate a incêndios, é realizado pela Brigada com a participação do Corpo de Bombeiros local e com o respaldo de licenças emitidas pelos órgãos competentes”, informou o grupo, que, em suas redes sociais, costuma compartilhar fotos destes treinamentos.
“A outra hipótese é que os vídeos mencionados mostrem a ação conjunta de brigadistas e bombeiros utilizando a tática conhecida como “fogo contra fogo” – realizada regularmente pelo Corpo de Bombeiros no combate de incêndios”, acrescentou.
WWF repassou doações
Na nota, o grupo ainda explicou que a Brigada de Incêndio de Alter do Chão foi criada em 2018, por iniciativa da organização não governamental Instituto Aquífero Alter do Chão, responsável por manter as atividades.
Ontem, em comunicado, a WWF-Brasil confirmou ter repassado ao instituto, por meio de um convênio de parceria técnico-financeira, cerca de R$ 70 mil que recebeu em donativos. Segundo a WWF, o montante viabilizou que o Instituto Aquífero Alter do Chão comprasse equipamentos de combate a incêndios florestais como abafadores, sopradores, coturnos e máscaras de proteção usados pelos brigadistas.
“A seleção desta instituição se baseou nas boas referências recebidas de parceiros nossos e da ampla divulgação dos trabalhos prestados pelo grupo”, disse a nota da WWF-Brasil, que nega ter pago pela aquisição de fotografias supostamente feitas por brigadistas e afirma estar “acompanhando o desenrolar da operação [Fogo do Sairé] e em busca de informações mais precisas sobre as acusações”.
Também em comunicado, o governo do Pará afirmou que o trabalho das ONGs é necessário na preservação das florestas do estado e que “o poder Executivo [paraense] continua parceiro de todas as instituições e entidades que respeitam as leis brasileiras”, destacando que “a própria investigação policial ressalta que este é um episódio isolado, que não desabona a conduta de centenas de ONGs que trabalham em conjunto com o governo estadual”.
“É necessário ressaltar que a Polícia Civil do Pará não tem o poder de efetuar prisões sem a devida autorização judicial e que o governo estadual não tem nenhuma predisposição contra qualquer segmento social, não interferindo em investigações policiais”, disse.
Mais cedo, ao participar de audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles evitou comentar o assunto. “Esta é uma questão que está sendo tratada pela Polícia Civil do Pará. Portanto, vamos aguardar o encaminhamento.”
* Com informações da Agência Brasil
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