Lava Jato completa dois anos com Lula denunciado; relembre as 24 operações

  • Por Jovem Pan
  • 02/03/2016 12h23
José Cruz e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil; Paulo Pinto/Fotos Públicas Operação Lava Jato

A primeira ofensiva da Operação Lava Jato aconteceu em 17 de março de 2014, ou seja, a ação da Polícia Federal completa dois anos nesta quinta (17). O primeiro suspeito preso foi Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre, tradicional ponto de venda de combustíveis em Brasília que era utilizado para pagamentos de propinas. Daí o nome Operação Lava Jato.

Logo a PF rastreia ligações telefônicas entre Chater e Alberto Youssef, doleiro especialista em lavagem de dinheiro e velho conhecido da justiça. É com sua prisão e posterior delação premiada que a poderosa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, partidos políticos e empreiteiras começa a ser desvendada.

Atualmente, a Lava Jato encontra pontos de intersecção entre a Operação Zelotes, o petrolão e as relações suspeitas de Lula com empreiteiras, que envolvem viagens, negócios, sítio em Atibaia e um triplex no Guarujá. 

No final de janeiro, o cerco começou a se fechar em torno do ex-presidente com a operação “Triplo X”, que mira apartamentos do condomínio Solaris, no Guarujá. Há a suspeita de um esquema de offshores criadas para enviar ao exterior dinheiro desviado da Petrobras. Um triplex em nome da offshore Murray Holdings LLC, reformado com verba da OAS, seria destinado à família de Lula, suspeito de ocultar o patrimônio.

Dia 22 de fevereiro a fase denominada “Acarajé” prendeu João Santana, marqueteiro de campanhas presidenciais de Lula e Dilma. Ele é acusado de ter recebido ilegalmente ao menos US$ 7,5 milhões, depositados pela Odebrecht e pelo operador Zwi Skornicki, ligado ao pagamento de propinas derivadas do petrolão.

No dia 3 de março, a revista IstoÉ vaza a delação premiada do ex-líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral. Segundo a publicação, o delator teria apontado Lula como mandante de pagamentos à família de Nestor Cerveró.

Na manhã seguinte, Lula é levado para prestar depoimento no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em operação que fez parte da última fase da Lava Jato até o momento, batizada de “Aletheia”. A PF, contudo, nega que a condução coercitiva do ex-presidente tenha vínculo com a delação de Delcídio. Segundo a força-tarefa, a investigação está ligada a recursos desviados para as reformas do triplex e do sítio em Atibaia, e também por recebimentos ilegais em palestras e doações.

Para facilitar o entendimento do esquema, suas conexões e personagens envolvidos, a JP Online trilhou o caminho das 24 fases transcorridas até aqui. Confira:

1ª fase: Lava Jato (17/03/2014)

30 pessoas são presas, entre elas o doleiro Alberto Youssef, velho conhecido da justiça por seu envolvimento na CPI do Banestado, em 2003. À época, Youssef havia se livrado da prisão por um acordo de deleção premiada. Para evitar uma sentença pesada, colabora novamente com a Justiça, desta vez revelando o nome de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, a quem presenteou com um automóvel de 200 mil reais.

2ª fase: Bidone (20/03/2014)

Em 20 de março, a PF cumpre mandados de busca e apreensão e prende temporariamente Paulo Roberto Costa. O ex-diretor da Petrobras – quando preso, já atuava como lobista em sua consultoria – tentava destruir provas que o ligavam a Youssef. Em sua casa foram apreendidos mais de 700 mil reais, além de 180 mil dólares e 10 mil euros em espécie.

3ª fase: Dolce Vita (11/04/2014)

A doleira Nelma Kodama é flagrada no aeroporto ao tentar deixar o País com 200 mil euros na calcinha; acaba condenada a 18 anos de prisão em regime fechado. Começam a surgir citações a empreiteiras (UTC, Engevix, Queiroz Galvão) e políticos.

4² fase: Casablanca (11/06/2014)

É preso o doleiro Raul Srour, que atuava com Youssef. Paulo Roberto Costa, solto em maio por decisão do ministro Teori Zavascki (foto), relator da Lava Jato no STF, é preso novamente por ordem do juiz federal Sérgio Moro, titular de vara criminal especializada em lavagem de dinheiro e crime organizado. Segundo o juiz, o ex-diretor da Petrobras tinha 23 milhões de dólares em contas bloqueadas na Suíça.

5ª fase: Bidone 2 (01/07/2014)

São presos em São Paulo João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado e Iara Galdino da Silva, dupla que gerenciava contas de Youssef na Suíça e abria empresas de fachada para mascarar os repasses. Nas contas, 5 milhões de reais que favoreciam Paulo Roberto Costa e outros beneficiários do esquema são bloqueados. A PF apura ainda negócios de Youssef com o laboratório Labogen, supostamente em negociação de contrato com o Ministério da Saúde.

6ª fase: Bidone 3 (22/08/2014)

No Rio de Janeiro, a Polícia Federal cumpre 15 mandados de busca e apreensão que visam pessoas e empresas vinculadas a Paulo Roberto Costa. Com os documentos apreendidos, Marcelo Barbosa Daniel, sócio de Humberto Mesquita, entra na mira dos investigadores da PF. Genro do ex-diretor da Petrobras, Daniel comanda empresas que receberam pagamentos suspeitos da estatal que ultrapassam 6 milhões de reais. Nesta fase da operação, as fraudes da Petrobras que financiam partidos e enriquecem atravessadores ficam conhecidas como petrolão.

7ª fase: Juízo Final (11/08/2014)

A sétima etapa da Lava Jato coloca atrás das grades o ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque. “Juízo Final” atinge a operação de grandes empreiteiras do “clube do milhão”, algumas delas acusadas de fazer parte do esquema de corrupção com doações para políticos. A PF prende 17 executivos de empreiteiras como Camargo Corrêa Construções, Engevix , UTC Engenharia, Construtora OAS, Construtora Queiroz e Galvão e IESA Óleo & Gás. As empresas investigadas somavam contratos de R$ 59 bilhões com a Petrobras.

8ª fase (14/01/2015)

A Polícia Federal cumpre mandado de prisão preventiva contra um ex-diretor internacional da Petrobras: Nestor Cerveró, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e um dos responsáveis pela compra da refinaria de Pasadena em negociação suspeita de evasão de divisas e superfaturamento.

9ª fase: My Way (05/02/2015)

A ostensiva é batizada em referência ao codinome pelo qual o ex-gerente executivo da Petrobras Pedro Barusco (foto) se referia a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, acusado de fazer parte do esquema de corrupção. O alvo principal da PF é João Vaccari Neto, tesoureiro do PT citado por Barusco em acordo de delação premiada. A operação cumpre 62 mandatos judiciais e resulta em quatro prisões. Vaccari é levado para depor e explicar doações ao partido por empresas que mantinham contrato com a Petrobras.

10ª fase: Que país é esse? (16/03/2015)

A 10ª fase foi nomeada “Que país é esse?” em alusão à frase dita por Renato Duque ao ser preso pela Polícia Federal em dezembro de 2014. O ex-diretor volta a ser preso preventivamente, segundo os investigadores, por estar movimentando dinheiro em contas fora do país. Além de Duque, são presos os empresários Adir Assad, suspeito de desviar verba das obras da refinaria Presidente Getúlio Vargas, no Paraná; Dário Queiroz Galvão, sócio da Galvão Engenharia e Guilherme Esteves de Jesus, operador investigado na “My Way” pelo pagamento de propinas a mando do estaleiro Jurong Aracruz.

11ª fase: A Origem (10/04/2015)

São presos os ex-deputados federais André Vargas (ex-PT-PR) e Luiz Argôlo (SD-BA, foto), os primeiros parlamentares pegos em conversas comprometedoras com Alberto Youssef. A etapa investiga contratos de publicidade da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde – segundo a PF, há indícios de repasses de verba para empresas de fachada ligadas a Vargas. Outros presos são Leon Vargas, irmão de André, e Ricardo Hoffmann, publicitário. O juiz Sérgio Moro ainda manda prender preventivamente o ex-deputado mensaleiro Pedro Corrêa (ex-PP-PE).

12ª fase (15/04/2015)

Esta fase da Lava Jato mira o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Acusado de operar propinas do partido no esquema de contratos ilícitos da Petrobras, ele é investigado por corrupção e lavagem de dinheiro; segundo o procurador Carlos Fernando Lima, depósitos suspeitos nas contas de seus familiares são indícios dos crimes. Vaccari é o segundo tesoureiro do PT preso em menos de dois anos, aumentando a crise no governo de Dilma.

13ª fase (21/05/2015)

A 13ª etapa deflagrada é marcada pelo mandado de prisão preventiva contra Milton Pascowitch, indicado como operador de propinas na diretoria de serviços da Petrobras, que era comandada por Renato Duque. De acordo com os investigadores, há evidências de que o lobista efetuava pagamentos em contas no exterior para uma empresa de José Dirceu e também favorecia a Renato Duque e Pedro Barusco.

14ª fase: Erga Omnes (19/06/2015)

Os alvos desta fase da operação são as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, acusadas de formação de cartel, fraudes a licitações, desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro e corrupção. O MP estima que as empresas comandavam o cartel que faturava os maiores contratos da Petrobras e realizavam pagamentos de propinas a funcionários da estatal e políticos. Do latim, “Erga Omnes” significa “vale para todos”. O título faz referência a uma das premissas da democracia: a lei não abre exceções para ninguém.

15ª fase: Conexão Mônaco (02/07/2015)

O ex-diretor da área internacional da Petrobrás Jorge Zelada é preso no Rio de Janeiro. O sucessor de Nestor Cerveró é o quarto ex-diretor da estatal a ser preso pela Lava Jato: Paulo Roberto Costa, Renato Duque e o próprio Cerveró foram encarcerados antes dele. As acusações são de crimes de corrupção, fraudes em licitações, desvios de verbas públicas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Em Mônaco, os investigadores encontraram 11,6 milhões de euros em contas secretas. O MP identificou movimentações após o início da operação, um sinal de que Zelada tentava esconder o dinheiro da Justiça.

Politeia (14/07/2015)

Considerada um desdobramento da Lava Jato, a operação mira suspeitos com foro privilegiado, são eles: senadores Fernando Collor (PTB-AL, foto), Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE); o atual deputado Eduardo da Fonte (PP-PE); os ex-deputados João Pizzolatti (PP-SC) e Mário Negromonte (PP-BA). Todos são suspeitos de se beneficiar dos esquemas na Petrobras. Nos 53 mandados de busca e apreensão efetuados pela PF, documentos, joias, artigos de luxo, veículos e dinheiro são apreendidos. Citado por delator da Lava Jato, também é alvo da Politeia o advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz.

16ª fase: Radioatividade (20/07/2015)

A investigação dos contratos de empreiteiras com a Petrobras é ampliada e avança para o setor elétrico, culminando na prisão do presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, suspeito de receber propinas que somam 4,5 milhões de reais. O foco de “Radioatividade” são os contratos das obras da Usina Nuclear de Angra 3. A PF age após as novas informações obtidas da delação premiada de Dalton Avancini (foto), executivo da Camargo Corrêa. Há suspeitas de formação de cartel, pagamento de propina para agentes públicos e superfaturamento de obras.

17ª fase: Pixuleco (03/08/2015)

Segundo o empreiteiro Ricardo Pessoa afirmou em sua delação premiada, “pixuleco” era o termo usado pelo petista João Vaccari para falar sobre o dinheiro cobrado de empreiteiras que participavam do esquema da Petrobras. A operação decreta a prisão preventiva do ex-ministro e mensaleiro condenado José Dirceu (foto), do lobista Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura e do gerente da Petrobras, Celso Araipe. Segundo o juiz Sérgio Moro, Dirceu teria recebido propinas de contratos da estatal após deixar o governo, em 2005. A Lava Jato aponta que a JD Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro, realizava desvios de verbas, fraudes e corrupção na Petrobras, assim como faziam as empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef.

18ª fase: Pixuleco 2 (13/08/2015)

Em continuidade à ação que culminou na prisão de José Dirceu, a Polícia Federal foca o cumprimento de medidas cautelares em Brasília, Porto Alegre, São Paulo e Curitiba. O ex-vereador petista Alexandre Oliveira Correa Romano (conhecido também como Chambinho) é preso temporariamente, segundo agentes, ele seria o operador de propinas que antecedeu o lobista Milton Pascowitch, delator da Lava Jato.

19ª fase: Nessun Dorma (21/09/2015)

A Polícia Federal manda um recado para aqueles que acham que as investigações perderam força: “nessun dorma” significa “ninguém durma” em latim. No rastro das pistas das fases anteriores, é preso José Antonio Sobrinho (o Turco), um dos donos da Engevix. Ele é suspeito de pagar propina ao grupo de José Dirceu e tem o nome ligado a Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da estatal Eletronuclear. Surge um novo operador supostamente ligado ao PMDB: João Augusto Rezende Henriques.

20ª fase: Corrosão (16/11/2015)

A fase tem como alvo ex-funcionários da Petrobras, investigados por receberem pagamentos impróprios de representantes de empresas com contratos ligados às refinarias Abreu e Lima (Pernambuco) e Pasadena (Estados Unidos). Conforme a Procuradoria da República, são investigados Rafael Mauro Comino (ex-gerente de inteligência de mercado da área internacional da Petrobras), Luis Carlos Moreira da Silva (ex-gerente executivo de desenvolvimento de negócios da internacional) e Cezar de Souza Tavares (ex-empregado da Petrobras). É preso Roberto Gonçalves, ex-gerente executivo da área internacional da estatal.

21ª fase: Operação Passe Livre (24/11)2015)

As investigações desta fase têm início na apuração da contratação de navio-sonda com indícios de fraude no procedimento licitatório pela Petrobras. O empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula, é preso preventivamente em Brasília após ser citado por dois delatores. O lobista Fernando Baiano declarou ter repassado a Bumlai quase 2 milhões que seriam destinados à esposa de um dos filhos de Lula; Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras afirmou que Bumlai intermediou o pagamento de uma conta de R$ 60 milhões referente à campanha de reeleição de Lula, em 2006.

Operação Catilinárias (15/12/2015)

Desdobramento da Lava Jato, a “Operação Catilinárias” mira lideranças do PMDB. A PF cumpriu 53 mandados de busca e apreensão, incluindo a residência de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, denunciado pela Procuradoria Geral da República como suspeito de ter recebido pelo menos 5 milhões de dólares oriundos dos contratos de aluguel dos navios-sonda pela Petrobras. O presidente do senado, Renan Calheiros, também era alvo de mandados de busca, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki negou o pedido.

22ª fase: Tripo X (27/01/2016)

Deflagrada com mandados de prisão e busca e apreensão, a “Triplo X” investiga suspeita de lavagem de dinheiro em operações imobiliárias entre a construtora OAS e a cooperativa dos bancários Bancoop. Os alvos centrais da 22ª fase são João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT e presidente da Bancoop de 2004 a 2010, preso desde abril de 2015, e o triplex em nome da empresa Murray Holdings LLC – imóvel que seria de propriedade de Lula, apesar do registro em nome da offshore.

23ª fase: Acarajé (22/02/2016)

O alvo principal da operação “Acarajé” é o publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas presidenciais de reeleição de Lula, em 2006, e das duas de Dilma Rousseff, em 2010 e em 2014. “Acarajé” investiga supostos pagamentos a Santana e sua esposa, Monica Moura, em contas não declaradas no exterior. De acordo com a Polícia Federal, os repasses que somam US$ 7,5 milhões vinham do engenheiro Zwi Skornicki, apontado como operador de propinas na Petrobras, e por meio de offshores ligadas à construtora Odebrecht. O publicitário é preso preventivamente.

24ª fase: Aletheia (04/03/2016)

A última fase da Lava Jato resultou na condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Suspeito de ser beneficiado pelo esquema de corrupção da Petrobras. Lula teria usado verba desviada para reformar o tríplex do Guarujá e um sítio em Atibaia; a PF apura também pagamentos ao ex-presidente, feitos por empresas investigadas na Lava Jato, a título de supostas doações e palestras.

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