Bolsonaro diz querer ‘legalizar o garimpo’, ao contrário de quem quer índios em ‘zoológico’ como ‘animal pré-histórico’
Logo após indígenas da aldeia Wajãpi, no estado do Amapá, pedirem ajuda de autoridades para denunciar uma invasão de garimpeiros em suas terras, que supostamente também teriam matado um cacique, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse, nesta segunda-feira (29), que pretende “legalizar o garimpo” no Brasil, incluindo permitir a exploração do trabalho em terras indígenas.
“É intenção minha regulamentar o garimpo, legalizar o garimpo, é intenção minha, inclusive para índio. Tem que ter o direito de explorar o garimpo na tua propriedade”, declarou o presidente ao comentar sobre o conflito.
Bolsonaro afirmou, ainda, que quem for contrário à medida – ele falou em ONGs e outros países, sem citar quais – são pessoas e entidades que querem ver os indígenas presos em um “zoológico”, como se fossem “animais pré-históricos”. Ele também citou que as organizações desejam “ter para si a soberania da Amazônia”.
“Esses territórios que estão nas mãos dos índios, mais de 90% nem sabem o que tem lá e mais cedo ou mais tarde vão se transformar em outros países. Está na cara que isso vai acontecer, a terra é riquíssima. Por que não legalizaram indígena em cima de terra pobre? Não existe. Há um interesse enorme de outros países de ganhar, de ter para si a soberania da Amazônia”, disse o presidente.
Para Bolsonaro, não é possível dizer que o cacique realmente foi assassinado por garimpeiros. “Usam o índio como massa de manobra, para demarcar cada vez mais terras, dizer que estão sendo maltratados. Esse caso agora aqui. . Não tem nenhum indício forte que esse índio foi assassinado lá Chegaram várias possibilidades, a PF (Polícia Federal) está lá, quem nós pudemos mandar já mandamos. Buscarei desvendar o caso e mostrar a verdade sobre isso aí”,
Ele falou, ainda, que índio não faz lobby e não tem dinheiro. Na sequência, indagou: “Qual poder eles têm para demarcar uma terra deste tamanho? Poder de fora, será que não consegue enxergar isso? São milhares de ONG’s na Amazônia”, declarou.
Entenda o caso
Segundo o Conselho das Aldeias Waiãpi-Apina, garimpeiros invadiram a terra indígena e atacaram ao menos uma aldeia, a Yvytotõ, na semana passada. O chefe da aldeia Waseity, Emyra Waiãpi, foi morto na tarde de segunda-feira (22). De acordo com o conselho, entretanto, a morte não foi testemunhada por indígenas e só foi percebida na manhã de terça-feira (23).
Ainda de acordo com o conselho, grupos de Waiãpi encontraram não índios armados entre sexta-feira (26) e sábado (27), quando a aldeia Yvytotõ foi invadida e tiros foram ouvidos próximos à aldeia Jakare. O conselho comunicou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) na sexta-feira.
Na tarde de sábado, policiais federais e do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Amapá foram acionados e se deslocaram para a região a fim de apurar as denúncias. A Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para investigar a morte do cacique.
*Com Estadão Conteúdo
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.