Liderada por Temer, quadrilha recebeu R$ 1,8 bilhão em propinas
A organização criminosa liderada pelo ex-presidente Michel Temer recebeu R$ 1,8 bilhão em propinas ao longo de todas ações investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, informaram procuradores nesta quinta-feira (21). Pela manhã, o emedebista foi preso preventivamente em São Paulo, tendo sido levado para o Rio de Janeiro.
“Essa é a soma dos valores que a organização criminosa comandada por Michel Temer teria desviado, que ele já foi acusado de ter recebido. Esse valor foi colocado na peça para mostrar o quão perigosa é essa organização. Ocupando o cargo mais alto da República, praticou os crimes mais graves da legislação penal”, disse o procurador Eduardo El Hage.
Esses valores envolvem empresas que participaram da fraude de contratos públicos mediados por grupo político quando Temer ocupava cargos públicos. Pelo menos quatro delitos foram identificados na “Operação Descontaminação” (como foi batizada a ação desta quinta): peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e corrupção passiva.
De acordo com o superintendente da Polícia Federal do Rio, Ricardo Andrade Saadi, grande parte do esquema criminoso envolvia a contratação de empresas sem qualificação para serviços que não eram efetivamente prestados, bem como a emissão de notas fiscais frias e criação de companhias sem funcionários para receber milhões.
“A organização teria um núcleo político, o qual tornaria possível o benefício a empresas e empresários dispostos a pagar vantagens para conseguir benefícios; um núcleo empresarial; um núcleo financeiro, que cuida de recebimento e ocultação dos valores; e um núcleo administrativo, que fazia a ligação entre o grupo político e o empresarial.”
Investigações
Conforme El Hage, as apurações que levaram Temer à cadeia tinham inicialmente o objetivo de investigar contratos da Eletronuclear, responsável pela contrução da usina Angra 3, cuja construção teria sido objeto de licitação fraudada. Contudo, a polícia descobriu que o presidente (Othon Luiz Pinheiro) havia sido plantado no cargo por Temer, em 2005.
Essa indicação teria o objetivo de facilitar o esquema de corrupção liderado pelo emedebista. A partir dessa descoberta, o inquérito passou a reunir provas de que a empresa Engevix repassou ao menos R$ 1,1 milhão para uma das empresas criadas pelo coronel João Batista Lima Filho, amigo próximo de Temer, o real beneficiário da propina.
Muito do que os procuradores descobriram foi revelado “após um período de negociações” ao fim do qual “um dos executivos condenados fez acordo de colaboração premiada”. Empresários da Engevix já haviam tido participação comprovada no esquema durante a “Operação Radioatividade”. A delação acabou levando a Lima e Temer.
“O Coronel Lima, um dos operadores financeiros do ex-presidente Michel Temer, tinha como função arrecadar valores espúrios e de vantagens indevidas em razão de obras que eram contratadas pelo governo federal”, detalhou o El Hage. Segundo ele, computadores apreendidos guardavam documentos que se tornaram provas no processo.
Em troca do lobby pela nomeação de amigos para cargos na Eletrobras, o ex-presidente e seu operador financeiro, Lima, exigiram como contrapartida a contratação da Argeplan, empresa do coronel, “como forma de verter todo o dinheiro público para Temer”, conforme o procurador. Telefonemas e e-mails comprovam a afirmação.
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