Limitação de gastos dificultou manutenção do viaduto, diz governo de Brasília

  • Por Agência Brasil
  • 07/02/2018 17h12
Marcelo Camargo/Agência Brasil Viaduto que caiu em Brasília nunca passou por manutenção e desabamento pode ter sido motivado por infiltração

A falta de manutenção do viaduto que desabou nesta terça-feira (6) em uma área central de Brasília deve-se, entre outros fatores, à limitação de gastos condicionada ao governo do Distrito Federal.

De acordo com o secretário da Casa Civil Distrito Federal (DF), Sérgio Sampaio, os compromissos assumidos pelo governo local para renegociar suas dívidas e, em especial, o teto de gastos causam impacto direto no volume de recursos disponíveis e, em consequência, tornam necessário, à administração, “fazer o máximo com o mínimo”.

“A crise fiscal do país dificulta financiamentos e impacta no planejamento de gastos como este, principalmente porque boa parte dos nossos recursos vai para folha e para custeio. Não sobra para investimentos. Com isso, temos de fazer o máximo com o mínimo”, afirmou Sampaio durante visita ao local do desabamento.

Ele disse que não sabe exatamente qual é o tamanho desse impacto, mas que repercute no volume de recursos disponível. Sampaio, no entanto, garante que não faltarão recursos para remediar o problema. “Vamos remanejar do jeito que for necessário porque não podemos deixar uma via dessa importância imobilizada.”

Diversas autoridades e técnicos visitaram o local nesta quarta-feira, dia seguinte ao do desabamento. Entre os técnicos estava o engenheiro calculista Bruno Contarini, que integrou a equipe que projetou o viaduto nos anos 50. Contarini, que vai participar da comissão que avaliará o plano de recuperação do viaduto, visitou os destroços logo após chegar a Brasília. Ao deixar o local, o engenheiro disse que já havia identificado indícios de que o problema foi falta de manutenção. “São 40 ou 50 anos sem manutenção. A armação falhou e provocou isso. Provavelmente, houve penetração de água, atingindo e corroendo o aço.”

Em tom emocionado, ele acrescentou: “Isso é muito chato porque é uma obra que fiz para ficar inteira, não arrebentada por corrosão. Mas não me sinto responsável por ela porque, com manutenção, não haveria nenhuma chance de isso (desabamento) acontecer”.

Frentes de atuação

O secretário da Casa Civil informou que o governo atuará em três frentes para lidar com a situação. “A primeira frente será para cuidar do fluxo de trânsito na região, de forma a minimizar os efeitos das obras na rotina dos motoristas. Outra frente será para estabelecer uma ordem de prioridades para outras obras de infraestrutura, em especial pontes e viadutos. A terceira frente será para definir as medidas que serão tomadas especificamente para este viaduto.”

Sampaio acrescentou que a decisão sobre o que será feito com a estrutura será tomada em 12 dias, com a ajuda de um grupo de trabalho formado por integrantes da Novacap, do Departamento de Estradas de Rodagem, da Secretaria de Infraestrutura e da Defesa Civil, além de técnicos do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) e da Universidade de Brasília (UnB). Entre as primeiras ações a serem implementadas está o escoramento da estrutura, antes mesmo de decidir se ela será reformada ou reconstruída.

A perícia da Polícia Civil já deu início a alguns exames de local para tentar descobrir as causas do desabamento. Entre os equipamentos usados estão um drone e um scanner 3D (em três dimensões). De acordo com o diretor do Instituto de Criminalística da polícia Civil do DF, Gustavo Dalton, o scanner fez um registro de toda a estrutura, inclusive interna, do viaduto.

“O equipamento permitirá a remontagem [em ambiente virtual] de toda a estrutura em 3D, de forma a melhor compreender onde e como ocorreu o rompimento”, explicou a perita Larissa Martins, que é engenheira civil. Não há ainda prazo para a conclusão da perícia no local. Depois de finalizado, o laudo será entregue ao delegado encarregado do caso que, em posse de outros documentos como o plano de manutenção do viaduto, apresentará a conclusão oficial sobre o ocorrido.

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