Lula diz que imprensa mente contra ele como Bush mentiu contra Saddam
Dois dias depois de se tornar réu pela sétima vez, acusado de “vender” medida provisória para beneficiar montadoras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está “convencido de que finalmente o PT acordou para o processo de criminalização que estão tentando fazer contra o PT”.
Durante evento do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Fundação Perseu Abramo para lançamento de uma plataforma digital de participação popular, o ex-presidente ironizou a suposta participação de seu ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que teria recebido R$ 6 milhões ao seu lado de empresas automobilísticas, segundo o Ministério Público Federal.
“Dizer que o coitadinho do Gilberto pegou R$ 6 milhões? Gilbertinho, você ainda não me contou o que você fez, Gilbertinho”, disse Lula para Gilberto, que também estava no evento, para risos da plateia.
“Eles conseguem jogar lama nas pessoas e depois não pedem desculpas porque pedir desculpa é uma palavra grande. Só pede desculpa quem tem grandeza”, afirmou.
Lula disse também que “essa (denúncia) da Medida Provisória é a excrescência da excrescência da excrescência”.
Brasil-Iraque
Lula comparou as “mentiras” de que diz ser alvo às causas que motivaram a guerra do Iraque de 2003. O ex-presidente lembrou quando o ex-ditador Saddam Hussein foi “encontrado dentro de um buraco no Iraque” e capturado em dezembro daquele ano por tropas norte-americanas.
“Por que aquele homem (Saddam) terminou daquele jeito? Porque mentiu a vida inteira,que tinha armas químicas para destruir os Estados Unidos. Quando foi testado, ele não tinha”, relatou.
O ex-presidente sugeriu ainda uma solução diplomática que em sua visão teria sido a salvação de Saddam. “Ele (Saddam) poderia ter dito: ‘gente, pelo amor de Deus, eu não tenho armas químicas, gente. Vamos ficar de bem. Ô, Bush, eu to numa boa, Bush, eu não tô ‘de guerra’ com você, Bush’. Não. Ele continuou contando que tinha. O Bush sabia que não tinha (armas químicas) e falou outra mentira, que tinha, para fazer aquilo (guerra)”, disse.
Em seguida, Lula comparou: “A imprensa mente, a Polícia Federal faz um inquérito mentiroso, o Ministério Público faz uma denúncia criminosa e o juiz aceita. Depois eu que tenho que provar que não fizemos aquilo, quando eles têm que provar que eu fiz”.
Estímulo e “honra”
Lula afirmou que as denúncias a que respondem o estimulam: “essa é uma coisa que me estimula. Eu digo todos os dias com a minha consciência: eles mexeram com quem não deveriam mexer”, ameaçou.
“Eles estão mexendo com um político que não roubou, que não tem medo deles e que a única coisa que tem é a sua honra para defender nesse momento”, defendeu-se o petista.
“Analfabetos políticos”
Lula ainda relembrou situação em que teria dito ao diretor da Polícia Federal: “Vocês precisam dar uma formação política a esses delegados de vocês. Eles são verdadeiros analfabetos políticos”.
O ex-presidente citou “jovens bem intencionados, às vezes bem formados”, que quando passam em um concurso, pensam: “virou o julgador do mundo”.
O “erro” do PT
Lula também voltou a citar o “power point” que o apontou como chefe da organização criminosa em denúncia de setembro do ano passado no caso do tríplex do Guarujá, pelo qual já foi condenado pelo juiz a nove anos e seis meses de prisão. A defesa do ex-presidente aguarda julgamento de recurso do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
“O power point é a maior desfaçatez mentirosa contra o partido que a esquerda criou e mais fez política de inclusão social da história deste País”, disse, após citar conquistas sociais de seu governo.
“Criminaliza qualquer um se o cara tiver cometido erro. Mas o pt cometeu um erro: governou para o povo pobre”, afirmou.
“O PT podia entrar com um pedido ao Ministério Público para que eles fossem visitar as cidades brasileiras para saber se os prefeitos estão cumprindo a lei que obriga os prefeitos a comprar 30% da merenda escolar dos pequenos agricultores, porque não estão comprando”, sugeriu Lula no momento em que fez a transição do discurso do PT para a denúncia de que é alvo.
Falta de liderança
O cacique petista e pré-candidato a 2018 disse também no evento que a sigla deve renovar suas lideranças. Comparando a situação a uma escolinha de futebol, Lula disse: “o PT tem que fazer escolinha de base. O PT está carecendo e está precisando produzir não apenas novos programas, mas novos dirigentes”.
Para ele, a sigla deve buscar “gente com a cabeça no século XXI, gente pensando para frente, gente mais esperta do que eu”.
Lula afirmou que “não existe similar na história partidária como o PT”. O ex-presidente reconheceu que o partido vive um “momento difícil, mas excepcional”.
“As pessoas estão procurando alguma coisa, as pessoas estão procurando um caminho, as pessoas estão procurando alguém que ajude a achar esse caminho”, afirmou, em tom messiânico, antes de enumerar as conquistas de seu governo, como os programas Bolsa Família, Luz para Todos e Minha Casa Minha Vida.
Lula cogitou visitar a ocupação da Frente Povo Sem Medo em São Bernardo do Campo, grande SP, “se não for para atrapalhar”.
Participações
Também discursaram no evento o vereador Eduardo Suplicy, a presidente do PT e senadora Gleisi Hoffmann (RS) e o ex-prefeito de São Paulo e pré-candidato da sigla Fernando Haddad, entre outras lideranças petistas.
Eles prestaram homenagem a Lula. Suplicy ainda prestou homenagem a “um homem honrado e justo”, referindo-se a Gilberto Carvalho. O vereador declarou “minha confiança em vocês (Lula e Carvalho)”.
Haddad disse que a “revolução da educação retomada em 1º de janeiro de 2019. “Lula lá, todo mundo junto”, bradou Haddad ao final da fala.
Veja o evento transmitido pelo partido (a fala de Lula começa aos 47 minutos):
Lançamento da plataforma Brasil Que O Povo Quer
AO VIVOAcompanhe o lançamento da plataforma Brasil Que O Povo Quer. Lula, Gleisi Hoffmann e o Diretório Nacional do PT inauguram ferramenta, em parceria com a Fundação Perseu Abramo, que irá debater um novo programa para o Brasil! #BrasilQueOPovoQuer
Publicado por Partido dos Trabalhadores em Quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Rap
Durante o evento, uma jovem partidária cantou um rap em que rejeita o nacionalismo, diz que “seu sangue é rubro e não azul, muito menos amarelo” e afirma: “Se for preciso terermos guerra, ressuscitaremos (o ex-guerrilheiro na época da Ditadura Militar Carlos) Marighella”.
E concluiu: “Mas essa é nossa conduta. Mesmo com golpe, vai ter luta”.
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