Lula pediu R$ 30 milhões em propina de Belo Monte para Delfim Netto e Bumlai, delata Palocci
O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci afirmou em delação premiada que Antônio Delfim Netto recebeu R$ 4 milhões de um acerto de R$ 15 milhões de propinas destinadas ao Partido dos Trabalhadores e supostamente repassados pela construtora Andrade Gutierrez. Valores superiores a esse já foram rastreados por investigadores.
Delfim Netto foi ministro da Fazenda durante a ditadura militar, nos anos de 1967 e 1974 – indicado pelo então presidente Artur da Costa e Silva. Ele ficou famoso como o responsável pelo chamado “milagre econômico” registrado durante o regime e também assinou o Ato Institucional Número Cinco, que suspendeu habeas corpus e aprofundou a censura.
No âmbito da Operação Buona Fortuna – uma das fases da Lava Jato -, em nove de março de 2018, Delfim foi alvo de buscas e apreensões. Na época, foi possível rastrear propinas em valor superior aos R$ 4 milhões indicados por Palocci, que é o primeiro delator do número político de comando do esquema de corrupção sistêmica dos governos do PT.
Antonio Palocci detalhou sua atuação no acerto de R$ 135 milhões em propinas na construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte – equivalente a 1% do total do contrato de R$ 13,5 bilhões. O valor dividido de forma igualitária: metade para o PT, metade para o MDB, que na época era PMDB. Além disso, o ex-ministro envolveu correligionários no esquema.
Lula se envolveu diretamente
Segundo a delação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “se envolveu diretamente” na corrupção de Belo Monte. O petista teria exigido que o amigo José Carlos Bumlai, pecuarista com livre acesso ao Palácio do Planalto na gestão, e Delfim Netto recebessem “milhões” no negócio, por terem formulado o consórcio vencedor do contrato.
Palocci disse ainda que “Lula informou que Bumlai e Delfim Neto deveriam receber R$ 30 milhões pela formação do consórcio alternativo”. Segundo o ex-ministro Lula estava “irritado” porque Dilma Rousseff não havia autorizado o pagamento de propinas ao PT pela construção de Belo Monte, já que haveria outro acerto com o PMDB.
O ex-presidente teria pedido para que Palocci ajudasse o então tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, a remunerar Delfim e Bumlai, cuja presença – para o ex-ministro – “significava que havia interesses também de Lula no recebimento dos valores”. Palocci ainda relatou ter recebido “visita de do executivo da Andrade Gutierrez” para tratar do assunto.
Nessa reunião, Otávio Marques de Azevedo, executivo da construtora, indagou se havia necessidade do repasse e afirmou que “iria abater os pagamentos dos valores que eram devidos pelas empresas do consórcio construtor ao PT e ao PMDB, ou seja, seriam abatidos R$ 15 milhões dos valores de cada agremiação’, segundo a delação.
De acordo com Palocci, “pela presença de Bumlai na reunião, confirmava-se o que posteriormente Lula confidenciou, de que também Bumlai pretendia receber parte dos 30 milhões” e que “os trabalhos de Bumlai eram feitos, muitas vezes, para a sustentação da família de Lula”. O ex-ministro relata que R$ 15 milhões foram quitados a Delfim e ao PT.
Defesas
Os advogados Ricardo Tosto e Jorge Nemr, que defendem Delfim Netto, informaram por meio de nota que ele “não ocupa cargo público desde 2006 [quando encerrou mandato de deputado federal por São Paulo] e não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer tempo. Os valores que recebeu foram honorários por consultoria prestada”.
A assessoria de imprensa da ex-presidente Dilma Rousseff alegou que o antigo companheiro “mente em delação premiada, tentando criar uma cortina de fumaça porque não tem provas” e que “na verdade, a delação implorada de Palocci se constitui num dos momentos mais vexaminosos da política brasileira, porque revela o seu verdadeiro caráter”.
Em nota, assessores de Lula afirmaram que o ex-ministro “inventou histórias” e “todos os sigilos fiscais foram quebrados sem terem sido encontrados valores irregulares.” Em outros trechos de delação, Palocci diz que o ex-presidente recebeu propinas em caixas de uísque e que Dilma “deu corda” para a Lava Jato sufocar o antecessor.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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