Lula vê americanos por trás da Lava Jato e quer punição a Moro e desembargadores
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado em 2ª instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por receber propina por meio de um apartamento tríplex no Guarujá, voltou a reafirmar seu discurso de perseguido político e defendeu a punição de seus acusadores e dos magistrados que o sentenciaram.
“Acredito que essas pessoas [juiz Sergio Moro e desembargadores do TRF4] mereciam ser exoneradas a bem do serviço público”, disse Lula em entrevista a Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo, divulgada nesta quinta (1º).
“Quem deveria ser punido era o Moro, o MPF, a PF e os três juízes que fizeram a sentença lá”, declarou ainda.
Lula também citou delatores que o acusaram. O ex-presidente diz ter “pena” de seu ex-ministro Antonio Palocci, que o acusou em depoimento ao juiz Sergio Moro de firmar um “pacto de sangue” por propina da Odebrecht. Para Lula, Palocci “gosta de dinheiro” e “quer ficar com uma parte daquilo de que se apoderou”.
O ex-presidente cita como contraste o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, também preso na Lava Jato, que mantém a alegação de que Lula é inocente. Para o petista, Vaccari está “demonstrando que caráter e dignidade não são compráveis”.
EUA por trás da Lava Jato
Na entrevista, Lula insinuou que a Operação Lava Jato, que revelou esquema de desvios bilionários da Petrobras, foi influenciadas por interesses dos “americanos”.
Lula disse que não tem como comprovar a acusação (“ô, querida, não me peça provas de uma coisa que eu não tenho”, disse), mas citou viagem de Sergio Moro aos Estados Unidos.
“Hoje eu estou convencido de que os americanos estão por trás de tudo o que está acontecendo na Petrobras. Porque interessa para eles o fim da lei que regula o petróleo, o fim da lei que regula a partilha. O Brasil descobriu a maior reserva de petróleo do mundo do século 21. E não se sabe se tem outra”, afirmou o ex-presidente.
Para Lula, depois dos grandes protestos de junho de 2013, “o Brasil virou protagonista demais” e “começava o processo de tentar dar um jeito no Brasil”. “Eu não acredito muito em conspiração. Mas também não desacredito”, disse.
Lula não fala sobre sítio
Questionado quatro vezes pela entrevistadora sobre o sítio que ele e sua família usavam em Atibaia, no interior de São Paulo, e que foi reformado por empreiteiras envolvidas em delitos, como OAS e Odebrecht, objeto de outro processo a que responde na Lava Jato, Lula preferiu não responder.
“Essa pergunta eu espero que seja feita em juízo, pelo Moro. Porque primeiro disseram que o sítio era meu. Aí descobriram que ele tem dono. Então mudaram [para dizer que] me fizeram favor. Se fizeram, não me pediram. Eu fiquei sabendo desse sítio no dia 15 de janeiro de 2011”, limitou-se a dizer o petista.
“Você não é juíza. Eu vou esperar o juiz. Porque se eu responder para você, o Moro vai fazer outras. Aí, quer discutir a questão da ética, vamos discutir. É um outro processo. Eu quero saber onde eles vão chegar. Eu quero saber o limite da mentira”, desviou-se.
Não sabia de corrupção
O ex-presidente voltou a afirmar que não sabia da corrupção que assolou o seu governo.
“É possível não saber até hoje. Você tem filho? Sabe o que ele está esta fazendo agora? Quando você esta na cozinha e ele no quarto, você sabe?”, comparou Lula. “Ninguém é colocado no governo pra roubar. Ninguém traz na testa “eu sou ladrão”. Há um critério rigoroso de escolha [de diretores de estatais]”, disse,
Apesar de defender a punição a seus julgadores, Lula afirma que apoia a Lava Jato. E tenta capitalizar politicamente: “Muita gente pensa que eu sou contra a Operação Lava Jato. Eu tenho orgulho de pertencer a um partido e a um governo que criou os mecanismos mais eficientes de combate à lavagem de dinheiro e à corrupção nesse país”, afirmou o ex-presidente condenado e pré-candidato às eleições deste ano.
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