Mães relatam que alunos são xingados por professora em escola de São Paulo
Um caso vem chamando a atenção nas redes sociais, principalmente de mães que possuem filhos em idade escolar. Pelo Facebook, Tatiana Batista denunciou que seu filho, de nove anos, não quer ir à escola de jeito nenhum. O que seria apenas um caso normal de uma criança que não quer estudar se mostrou mais grave, segundo os relatos de mães da Escola Estadual João Firmino de Campos.
No último dia 15 de fevereiro, Tatiana contou a seguidores o que ocorria com o seu filho: “Meu filho de 9 anos não está querendo ir à escola de jeito nenhum! Tem crises de choro, passa mal, com vômito, febre, sentei com ele para saber o que estava acontecendo, pois ele está na 4ª série B e nunca me deu trabalho na escola! Ela relatou que tem muito medo da professora, na verdade ele tem pânico dela”.
A postagem contando todo o ocorrido teve mais de 500 compartilhamentos e mais de 450 comentários – entre eles alguns indignados com a atitude da professora chamada Márcia Alexandre.
“No dia 13 ele foi à escola. Estava na sala de aula quando foi tomar água na garrafinha que mando e acabou derramando um pouco de água no chão. Ele ficou com tanto medo da professora que chamou ela e relatou que havia derramado água pois ela não tinha nem visto e perguntou a ela o que era para ele fazer. Ela vira para o meu filho e diz em voz alta ‘oh seu idiota agora você vai ou pega papel suficiente para limpar a merda que você fez ou desce e pede um pano para tia da limpeza!’. Ele optou pelo pano, limpou o chão desceu para devolver o pano. Quando voltou à sala de aula a professora disse a ele: ‘Aí você foi fazer hora e não copiou toda a lição da lousa, né?’. Ele disse que não e ela simplesmente foi e apagou a lousa!!”, continuou o relato no Facebook.
Tatiana afirma ainda que outras crianças também estão com medo da professora. Em relatos enviados à reportagem, três mães contam alguns casos envolvendo seus filhos, todos no 4º ano B.
“Minha filha está na 4ª B e estou preocupada pois ela não está querendo ir à escola, ela vai chorando. Nunca tive problema com a escola. Ela disse que a professora só grita com os alunos, chama de ‘burro’, tudo é motivo de castigo para fazer tabuada (…) muitas mães estão insatisfeitas e minha filha não quer ir para a escola. A direção não faz nada e só fala que vai verificar e me ajudar. Não é só a minha filha que está passando por isso”, diz uma delas.
“Ela chamou meu filho de burro e já estou de orelha em pé”, afirma a mãe de um aluno.
“O comportamento da minha filha mudou perante a escola. Ela tem medo, crises de pânico, chora, treme. Ano passado ela era aluna superaplicada, com notas boas, esse ano ela mudou bruscamente devido a professora ser muito bruta ao falar. Se alguém pergunta alguma coisa ela diz ‘se vira’ ou ‘não interessa’. As crianças ficam com medo e isso causa transtorno psicológico sem tamanho. A escola tem que ter ambiente agradável para a criança estudar e gostar de ir para a escola. É inaceitável que a escola passe a ser um lugar horrível para a criança”, pede mais uma das diversas mães que seguem chocadas com a situação.
“Ano passado, 2018, meu filho estudou na escola João Firmino de Campos, período da manhã e por volta do mês de Março ou Abril, não me lembro exatamente, fui obrigada a mudar ele para o período da tarde devido a falta de ânimo de ir para a escola, o que nunca houve. Questionei o que estava acontecendo e ele me disse que se tratava da professora Márcia, o tratamento segundo ele era opressor. Situações do tipo, ‘se não copiou problema seu’ e apagava a lousa, termos como ‘seu idiota’, não deixar ir ao banheiro e ridicularizar o aluno em sala de aula”, contou mais uma mãe.
A escola
Nos dias que se seguiram da postagem feita por Tatiana Batista, a direção da escola a atendeu para uma reunião. A diretora Marilei de Paula Leite ouviu o relato do filho de Tatiana e, por fim, decidiu mudá-lo de sala – fato confirmado pela mãe na mesma postagem na rede social.
Mas o caso já havia tomado proporções maiores. A Jovem Pan tentou entrar em contato com a direção da Escola Estadual João Firmino de Campos, mas sem sucesso. Por telefone, duas atendentes disseram que a diretora “não atendia por telefone” e que “estava de saída para a Diretoria de Ensino”.
Fatos esses contestados por Tatiana, que disse que minutos depois a diretora estava no colégio na “hora da saída” dos alunos. Novamente a reportagem tentou contato com a diretora, desta vez via e-mail, mas recebeu a resposta por telefone de que “a escola precisa da autorização da Secretaria de Educação para dar entrevista”.
Procurada, a Secretaria de Educação disse, em resposta da assessoria de imprensa via e-mail, que “o caso está em averiguação pela Diretoria de Ensino, inclusive, um supervisor está cuidando do caso. Portanto, ainda não temos muitos detalhes a passar”.
Reunião com os pais
Diante da dimensão a que o caso chegou, a diretora da escola chamou os pais para uma reunião na manhã desta terça-feira (19), às 7h, mas não comunicou de imediato Tatiana, que foi quem fez a primeira denúncia pública.
“O supervisor fez questão da minha presença. Ele pediu para me convocarem e me convocaram, porque a reunião foi feita por minha causa”, explicou.
Nesta reunião, de cerca de duas horas, segundo Tatiana, estava presente ainda um supervisor de ensino da Secretaria da Educação.
Segundo Tatiana, todos os pais e responsáveis foram ouvidos pelo supervisor e ficou decidido o afastamento provisório da professora. “Ela pegou uma licença de 45 dias e vão tentar aposentar a professora neste período (…) Vão entrar com um inquérito e processo administrativo por conta dos diversos relatos”, disse.
“Estava estampado no rosto dela [diretora] que ela estava insatisfeita com a minha presença lá. Houve desentendimento com nós, pais, porque ela tentou jogar para a gente que estávamos sendo preconceituosas porque a professora era negra. Quando chegou na minha vez ela tentou jogar que nós pais fazíamos isso por racismo. Eu disse que ela jogava sujo ao tentar mudar o foco da reunião. Tem muito pai que ficou embasbacado com a atitude dela”, relata Tatiana. “Estou satisfeita em partes, porque não basta afastar apenas. Tem que alguma ser feita para essa diretora também. Vários pais fizeram reclamação e muitos não sabem do livro de registro que tem lá [na escola]. Ela não fala, então fica só verbal. Ela disse que estava surpresa com tanta reclamação, mas é mentira”.
Contato com a professora
A reportagem solicitou contato, via escola, com a professora envolvida no caso, mas não recebeu retorno. O mesmo foi vivido por Tatiana, que disse ter tentado falar com a educadora, mas que ela “se recusou a falar por quatro vezes”.
“Eu também queria conversar com a professora e ela não quis. Queria ouvir a versão dela. Ela tem o direito de se explicar”, reconhece. Quando vi que não teria jeito, que não iriam fazer nada, aí joguei para todos os lados. Fui ao conselho tutelar, diz denúncia na Secretaria da Educação, Diretoria de Ensino”, completa.
Tatiana acusa ainda a escola de tentar “abafar” os relatos das mães de alunos que fizeram reclamações sobre as atitudes da professora. “Eu quero justiça, ela não pode fazer o que faz com as crianças e ficar por isso”, pede.
Resposta das autoridades
A Jovem Pan solicitou um posicionamento tanto da direção da escola quanto da Secretaria de Educação. Até o fechamento desta reportagem, nem a escola e nem o órgão estadual se pronunciaram.
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