Manifestantes tentam impedir que grupo contra aborto assedie pacientes em hospital de SP
Após conhecimento de um caso de agressão contra uma paciente do hospital Pérola Byington, na região central de São Paulo, manifestantes se reuniram no local na manhã deste sábado (26) para tentar impedir que um grupo contrário ao aborto interpele mulheres que procuram atendimento médico.
Desde o final de setembro, o grupo católico “40 dias pela vida” monta uma estrutura diariamente em frente à entrada do hospital. Com cartazes, faixas, imagens de santos e fetos de plástico, o grupo tem como objetivo persuadir as pacientes para desistirem do aborto.
O hospital Pérola Byington é um centro de referência no atendimento a mulheres, principalmente as vítimas de violência, além de ser um dos poucos que realiza o procedimento para interromper a gravidez de forma legal no país.
A legislação brasileira permite o aborto apenas em três casos: quando a mulher é vítima de estupro, quando a mãe corre risco de morrer por causa da gestação ou ainda quando o feto for anencéfalo.
A escritora Daniela Neves, que organizou o movimento contra o grupo pró-vida neste sábado, reuniu ativistas pelas redes sociais e chegou bem cedo para ocupar o local.
De acordo com os manifestantes, alguns integrantes do movimento “40 dias pela vida” chegaram ao local, mas logo foram embora.
“Eles não conversaram com ninguém daqui, chegaram, viram que tinha outro grupo e chamaram a polícia”, conta o programador Marcelo Gasparian.
A Polícia Militar apareceu no local, mas não houve objeção ao protesto do novo grupo.
“Eles têm o mesmo espaço liberado para montar a barraquinha deles”, afirma Marcelo. O programador decidiu sair de casa por não concordar com a abordagem realizada pelo grupo católico: “Me dói ver as pessoas sendo constrangidas por buscarem atendimento médico absolutamente dentro da legalidade, são pessoas já fragilizadas.”
Junto com a filha de sete anos, a assistente comercial Carla Cabral soube da manifestação pelas redes sociais e decidiu participar. Ela esclarece que o objetivo do ato não é armar confusão, mas sim garantir que pessoas com direito ao aborto legal não sejam constrangidas na porta do hospital. “É fácil eu montar uma barraca e ficar rezando mil ave marias aqui, só que do outro lado da praça tem crianças abandonadas na rua, vamos rezar por elas?”, questiona.
Carla acha legítimo o direito do grupo pró-vida de manifestar a opinião contrária ao aborto, mas critica quando os integrantes passam do limite: “Eu acho que as pessoas têm o direito de ser a favor ou contra alguma coisa desde que respeitem a liberdade do indivíduo (…) Imagina uma mãe de uma mulher que foi violentada vem acompanhar a filha no hospital e chega aqui e encontra um grupo de beata… É surreal.”
Segundo a assistente comercial, funcionários do hospital também se sentiram incomodados com a presença dos manifestantes católicos ao longo dos últimos dias. Há relatos até de médicos que foram hostilizados.
O movimento “40 dias pela vida” (40 Days For Life) é internacional e faz intervenções em diversos locais pelo mundo. A página do subgrupo paulista no Facebook aponta que a “campanha comunitária” é global e “adota uma abordagem pacífica e determinada para mostrar às comunidades locais as consequências do aborto em seus próprios bairros”.
Procurados pela reportagem, o grupo “40 dias pela vida SP” não retornou o contato até o fechamento desta reportagem.
* Com informações da repórter Marcela Lorenzetto.
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