Marcelo Odebrecht comandava setor especializado em pagamento sistemático de propinas, diz MPF
Havia dentro da empreiteira Odebrecht um setor informatizado e especializado em pagamento de propinas, disse o Ministério Público Federal em explicação da 26ª fase da Operação Lava Jato, denominada “Xepa”, nesta terça-feira (22). Esta fase mira executivos da empresa e doleiros.
“Havia um setor próprio, de operações estruturadas, dentro da Odebrecht, que cuidava do pagamento de propinas no Brasil”, explicou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. Antes, sabia-se apenas de propinas da empreiteira para o exterior. O setor que operacionalizava o esquema era denominado de “setor de Operações Estruturadas”. A “organização criminosa montada dentro da companhia” possuía um “sistema informático, inclusive com distribuição de alçadas dentro dessa empresa”.
A Petrobras não era a única recebedora de propina, esclarece a investigação. Setores de óleo e gás, de infraestrutura, obras da empreiteira em estádio de futebol (Arena Corinthians), canal do sertão e “diversas outras” teriam recebido dinheiro ilegal. “Quando (o juiz Sergio) Moro baixar os sigilos, os fatos ficarão mais claros”. Há de “25 a 30” receptores idenficados ou em fase de identificação. “A quantidade de destinatários certamente é bem superior a isso”, ressaltou.
“Nesta fase foram identificados pagamentos em relação a uma diretoria que cuida especificamente de contratos da Arena Corinthians”, explicou o procurador. Em outras fases da Lava Jato, foram encontradas irregularidades em outros estádios da Copa do Mundo.
Entre os alvos desta fase da operação, “não há agentes políticos ou detentores de foro, mas há pessoas ligadas a partidos políticos”, esclareceu Carlos Fernando. João Santana, publicitário de campanhas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, “certamente recebeu dinheiro no Brasil”, disse um delegado da Polícia Federal. Outros publicitários e “várias agências que trabalharam em várias campanhas”, de vários partidos, foram identificados.
“Ousadia”
Foram encontrados registros de trocas de e-mail para o pagamentos de propinas até dezembro de 2015, data em que o presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, já estava preso, o que é “assustador” na descrição da procuradora Laura Tessler. “Mesmo com a prisão de Marcelo, ainda se teve a ousadia de se operar o pagamento de propina para o poder público”.
O presidente da empresa, segundo o MPF, “não só tinha conhecimento como comandava toda essa sistemática de pagamento de proipina”. Em vários registros de pagamentos de propinas foi encontrada a sigla MBO (de Marcelo Bahia Odebrecht) ou de presidente da companhia. “Anotações constantes no celular (de Marcelo) compatibilizam com a própria tabela”, explicou a procuradora Laura Tessler. Não há indícios, no entanto, que o próprio Marcelo tenha liderado o esquema da cadeia – como fazia enquanto exercia a função de presidente.
Os valores foram considerados altos. Há registros de pagamento de propinas de até R$ 9 milhões de um dia para o outro em pagamento em espécie. Em planilhas do setor foram identificados registros de R$ 21 milhões em apenas uma das contas, denominada de “paulistinha”. Em outra, o saldo era de R$ 70 milhões. As tabelas que registravam saídas e entradas mostram outra conta chamada “carioquinha”. São dados de contas paralelas mantidas pela Odebrecht junto a vários operadores financeiros. Uma das contas paralelas registram pagamento de propina de R$ 69 milhões, número considerado impressionante pelos investigadores.
Operadores financeiros ligados ao mercado de câmbio não autorizado (mercado negro) também foram investigados nesta nova fase da operação. Casas de câmbio foram alvos de busca e apreensão.
Estavam sendo cumpridos 67 mandados de busca e apreensão, 28 mandados de condução coercitiva, 11 mandados de prisão temporária e 4 mandados de prisão preventiva pela Polícia Federal. São 110 ordens judiciais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco. As sedes da Odebrecht em Brasília e Salvador são alvos de buscas.
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