“Me senti obrigado moralmente a contar o que sabia”, diz autor de livro sobre o caso Nardoni

  • Por Jovem Pan
  • 19/04/2018 17h50
Reprodução Convidado desta semana, o jornalista Rogério Pagnan fala sobre seu livro "O pior dos crimes: A história do assassinato de Isabella Nardoni"

Em 2008, um caso de assassinato chocou o Brasil e causou grande repercussão: na noite do dia 29 de março, a menina Isabela de Oliveira Nardoni, de cinco anos, morreu após ser jogada de uma janela do sexto andar do Edifício London, situado na Zona Norte da cidade de São Paulo. Depois das investigações, Alexandre Nardoni, pai da vítima, e a madrasta da menina, Anna Carolina Jatobá, foram julgados e condenados por homicídio doloso qualificado. O episódio foi o ponto de partida para a criação do livro “O pior dos crimes: A história do assassinato de Isabella Nardoni”, escrito pelo jornalista Rogério Pagnan.

“Nos últimos dez anos, 550 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, e eu ouso dizer que não houve um caso que tenha causado tanta comoção no País quando esse. Até hoje, as pessoas se emocionam com ele, até mesmo ao olhar a capa do livro. E esse livro foi produzido se utilizando de um jornalismo que eu acho que nos faz falta, um jornalismo independente de versões da acusação e da defesa. É a defesa do jornalismo. No Brasil, o jornalista nunca escreve um livro para ficar famoso, para ficar rico. Ele escreve por uma obrigação moral. Eu me sentia obrigado moralmente a contar o que eu sabia, que era uma informação diferente daquela que as pessoas conheciam”, disse Rogério, convidado do programa Perguntar Não Ofende desta semana.

“Como todo jornalista deve ser, sempre se deve desconfiar da versão de todo mundo, inclusive a da Polícia. Nesse caso, o cuidado das autoridades foi ‘caindo’ ao longo da semana, fazendo com que informações inverídicas fossem vazadas, com o intuito, inclusive, de prejudicar a imagem dos acusados. Até hoje, algumas dessas informações são vistas como verdadeiras pela população em geral porque ela só teve acesso ao que foi dito inicialmente e não ao reparo. Muitas vezes, esse reparo nem acontece”, afirmou.

Além de relembrar os principais momentos do caso, Rogério falou também sobre algumas das falhas que a polícia cometeu durante as investigações e que conseguiu encontrar durante a apuração feita para a realização do livro. Entre elas, a análise do material biológico achado dentro do carro da família, um dos pontos cruciais para a construção da tese da acusação.

“Perícia e acusação sustentaram que a agressão teria se iniciado ainda dentro do carro. A coleta de vestígios feita no veículo apontava para a tentativa de limpeza por parte do casal. Quando o teste de DNA confirmou que os vestígios pertenciam a menina, a acusação pôde eliminar a tese de que uma terceira pessoa teria realizado o crime. Com a ajuda de especialistas, eu analisei todas essas provas e uma das avaliações que recebi era a de que o material encontrado no carro não era sangue e não era da Isabella. O mais provável é que fosse de algum dos filhos do casal”, afirmou.

“O que eu acho que aconteceu nesse caso. Tenho mais de 20 anos de jornalismo, já acompanhei vários crimes. Nunca vi um caso que despertasse tamanho interesse das pessoas e uma cobertura jornalística desse tamanho. Eu acho que a polícia acabou nesse momento, quando tem uma pressão muito grande da imprensa para resultado, que ela quis demonstrar uma eficiência que ela não tinha”, apontou.

Por fim, Rogério ainda falou um pouco sobre o atual momento de Alexandre e Anna Carolina. Segundo ele, o casal mantém a versão de inocência até hoje, segue se correspondendo por meio de cartas, mostrando que ainda existe uma relação amorosa entre eles.

“Isso não é comum em situações como essa. O normal é que, em determinado momento, uma pessoa acabe entregando a outra. Eles continuam juntos, mantendo a versão de inocência e demonstrando amor um pelo outro. O Alexandre, se ele cometeu o crime e não se acusou, ele levou a mulher para a prisão e destruiu a vida da família Nardoni, que virou uma coisa ‘amaldiçoada’. Eles seguem dizendo para os filhos que são inocentes. Em uma das cartas que eu reproduzo no livro, ele diz que o objetivo dele é provar que não foi ele e descobrir o que realmente aconteceu”, finalizou.

Confira a entrevista completa do jornalista Rogério Pagnan:

 

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