Ministro anula decisão do CNJ contra juiz participante de ato contra impeachment

  • Por Estadão Conteúdo
  • 01/01/2018 17h41
Valter Campanato/Agência Brasil ministro ricardo lewandowski com a mão no pescoço e olhando para o lado Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, esclareceu que o regimento interno do CNJ não prevê a atuação como instância recursal

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STJ), anulou decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que determinou a abertura de revisão disciplinar contra o juiz de direito Rubens Roberto Rebello Casara, do Rio, por sua participação em ato que repudiava o impeachment da então presidente da República Dilma Rousseff. Ao decidir sobre o caso no Mandado de Segurança (MS) 35434, o ministro esclareceu que o regimento interno do CNJ não prevê a atuação como instância recursal.

As informações foram divulgadas no site do Supremo dia 29. A decisão de Lewandowski foi tomada no dia 19 de dezembro.

Em 2016, a Corregedoria-Geral de Justiça do Estado do Rio instaurou processo administrativo disciplinar contra Casara e outros três magistrados, visando à apuração de possível violação ao artigo 95, parágrafo único, inciso III, da Constituição – que veda aos juízes dedicar-se a atividade político-partidária -, diante de sua participação em manifestação contrária ao impeachment ocorrida em abril daquele ano.

O processo, no entanto, foi arquivado pelo Tribunal de Justiça do Rio, que decidiu, por 15 votos a 6, que os juízes não atuaram em partido político, “devendo prevalecer o direito à liberdade de expressão e pensamento”.

A partir da comunicação do arquivamento, o CNJ instaurou a revisão disciplinar, por entender que a decisão da Corte fluminense foi dada “em desacordo com a evidência dos autos”.

No Mandado de Segurança 35434, o juiz sustentou “a ausência de fundamento para a instauração da revisão”. Ele argumentou que o Conselho, ao pretender alterar a conclusão jurídica do Tribunal de Justiça do Rio, estaria “atuando como verdadeira instância recursal, não autorizada pelo texto constitucional e pelo seu Regimento Interno”.

Segundo o magistrado, “o tratamento da revisão disciplinar é idêntico ao da revisão criminal, cabendo verificar se matéria de fato teve tratamento desarrazoado”.

“Tratando-se de valoração jurídica tem-se hipótese recursal, jamais revisional, jamais rescindenda”, afirmou, pedindo a anulação da decisão.

Ao examinar o caso, Lewandowski assinalou que, de acordo com o artigo 83 do Regimento Interno do CNJ, a revisão dos processos disciplinares será admitida em três hipóteses – quando a decisão for contrária a texto expresso da lei, à evidência dos autos ou a ato normativo do CNJ; quando se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; ou quando, após a decisão, surgirem fatos, provas ou circunstâncias novas que determinem ou autorizem a sua modificação.

“O próprio CNJ reconhece que a revisão disciplinar não possui natureza recursal. Assim, ela só pode ser proposta nas hipóteses taxativas ali expressas e não serve para proceder ao reexame da decisão proferida pelo Tribunal local”, ressaltou o ministro, citando precedente.

Lewandowski observou que o TJ do Rio, após analisar os fatos, considerou que a conduta do juiz não se enquadrava no conceito de atividade político-partidária, vedada aos magistrados, e o CNJ, por sua vez, discordou dessa conclusão.

Citando trechos das duas decisões, o ministro ressaltou que os fatos não foram desconsiderados pelo Tribunal fluminense.

“Dessa maneira, não poderia o CNJ instaurar a revisão disciplinar sob pena de inaugurar verdadeira instância recursal, inexistente pelo regimento e, como visto, pela própria jurisprudência”, concluiu Lewandowski.

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