Moro deixa o governo e fala em defesa da autonomia da Polícia Federal

  • Por Jovem Pan
  • 24/04/2020 11h58 - Atualizado em 24/04/2020 12h08
Jovem Pan Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmou nesta sexta-feira (24) que deixou o governo para defender a autonomia da Polícia Federal. Em entrevista coletiva, em Brasília, o ex-juiz federal disse que a exoneração de Maurício Valeixo da diretoria-geral da PF foi uma interferência política do presidente Jair Bolsonaro na corporação.

“Falei ao presidente que seria uma interferência política e ele disse que seria mesmo”, relatou Moro sobre a conversa com Bolsonaro em relação à troca de Valeixo. “O problema não é a questão de quem colocar, é por que trocar e permitir a interferência política na Polícia Federal”, continuou.

Segundo Moro, o presidente Jair Bolsonaro queria que Valeixo fosse substituído por alguém da confiança dele e de quem fosse próximo. “O presidente me disse mais de uma vez que queria uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações e relatórios de inteligência”, explicou. “Não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, defendeu o ex-ministro, citando que nem os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, investigados pela Lava Jato, fizeram isso.

“Ele me disse isso expressamente, pode ou não confirmar, mas não entendi apropriado. Se esse alguém [novo diretor-geral], sendo da corporação e aceitando substituição, não conseguir dizer ‘não’ a uma proposta assim, fico na dúvida se vai dizer ‘não’ em relação a outros temas”, continuou o ex-juiz federal.

Compromisso

Sergio Moro revelou que Bolsonaro ofereceu carta branca a ele quando o convidou para o governo, após ser eleito em 2018, mas não cumpriu o combinado. “Nós teríamos um compromisso com o combate à corrupção, crime organizado e criminalidade violenta. Foi me prometido carta branca para nomear todos os assessores, inclusive desses órgãos policiais, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Federal”, disse. “O presidente tem essa competência [de nomear o diretor-geral da PF], mas assumiu o compromisso de que seria uma escolha técnica e eu faria essa escolha”, ressaltou.

O agora ex-ministro ainda voltou a negar que tenha negociado uma indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) para aceitar o cargo no Ministério da Justiça e contou que só fez um pedido: proteção da família. “Como estava abandonando 22 anos da magistratura e contribuí 22 anos para a previdência, pedi apenas, já que íamos ser firmes contra a criminalidade, que se algo me acontecesse, minha família não ficasse desamparada sem uma pensão. Única condição que eu coloquei.”

Exoneração de Valeixo

Moro também falou que a exoneração de Maurício Valeixo não foi a pedido do ex-diretor, como publicado no Diário Oficial. “Eu fiquei sabendo da exoneração pelo Diário Oficial, não assinei esse decreto. Em nenhum momento o diretor-geral da PF apresentou um pedido formal de exoneração”, sustentou.

Ele não escondeu a frustração com a forma como Valeixo, indicação dele para o cargo e ex-superintendente da PF no Paraná na época da Lava Jato, foi exonerado. “Sinceramente fiquei ofendido, achei ofensivo. Esse último ato é uma sinalização de que o presidente me quer fora do cargo, não me quer no cargo.”

Futuro

Agora fora do governo e sem cargo público, Sergio Moro disse que vai tirar um tempo para descansar. “Abandonei 22 anos de magistratura, infelizmente é um caminho sem volta, mas sabia dos riscos. Vou descansar um pouco, foi muito trabalho nesses 23 anos”, disse.

Depois do descanso, Moro prometeu voltar a trabalhar. “Não enriqueci no serviço público, nem como magistrado, nem como ministro”, ressaltou. “Sempre vou estar à disposição do país para ajudar como quer que seja. Sempre respeitando o mandamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública nessa gestão, que é fazer a coisa certa sempre.”

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