MPF denuncia ex-governador Sérgio Cabral pela 21ª vez na Lava Jato
Apontado como chefe de organização criminosa, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral foi denunciado pela 21ª vez no âmbito de investigações da Lava Jato. A denúncia será analisada pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas. Caso aceita, Cabral se torna réu em um novo processo.
A denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) é um desdobramento da Operação Calicute aponta mais de 200 atos de lavagem de dinheiro do ex-governador.
Entre eles, haveria 165 atos, entre 2007 e 2014, que transferiram R$ 6,8 milhões de contas de empresas do Grupo Dirija para a companhia Gralc Consultoria (LRG Agropecuária).
Outro R$ 1 milhão teria sido transferido do Grupo Dirija para o nome da empresa Falci Castro Advogados e Consultoria, em 39 ações identificadas.
Mais R$ 157 mil teriam sido lavados em transferência do mesmo Grupo Dirija para a empresa SFB Apoio Administrativo, em oito atos de lavagem de dinheiro.
Um último ato de lavagem teria se dado com a venda da Gran Barra Empreendimentos e Participações S/A para Ary Filho.
Cabral é apontado como líder de uma organização criminosa que contava com quatro núcleos: núcleo econômico (formado por empreiteiras cartelizadas com contratos com o governo), núcleo administrativo (com gestores públicos do Estado), núcleo financeiro (composto pelos responsáveis pelo recebimento e repasse de propinas) e núcleo político, formado pelo próprio ex-governador.
Além de Cabral, outras seis pessoas foram denunciadas pelo MPF: Ary Ferreira da Costa Filho, agente fazendário apontado como operador de Cabral, conhecido como “Sombra”; Sérgio Castro de Oliveira, o “Serjão”, ex-assessor de Cabral e também apontado como operador financeiro do esquema de corrupção; Gladys Silva Falci de Castro Oliveira, sócia da Falci Castro Advogados; Sonia Ferreira Batista, ex-secretária de Cabral; Jaime Luiz Martins e João do Carmo Monteiro Martins, controladores do grupo Dirija e delatores.
O Grupo Dirija, que participa de boa parte dos atos de lavagem apontados nesta denúncia, reúne diversas concessionárias fluminenses.
Segundo o Ministério Público Federal, “as empresas Gralc Consultoria (LRG Agropecuária), SFB Apoio Administrativo e Falci Castro Advogados e Consultoria nunca prestaram nenhum serviço para o Grupo Dirija”.
“Na sistemática estabelecida, que se estendeu de 2007 a 2014, Ary Filho realizava a entrega periódica para os representantes do grupo Dirija de dinheiro em espécie e notas fiscais emitidas pelas empresas Gralc Consultoria (LRG Agropecuária), de Carlos Miranda, SFB Apoio administrativo, de Sonia Ferreira Batista, e Falci Castro Advogados e Consultoria, de Sérgio de Castro Oliveira e Gladys Silva Falci de Castro Oliveira, e, em seguida solicitava que João do Carmo e seu filho Jaime Luiz fizessem a transferência bancária dos recursos para as referidas empresas como se estivessem fazendo pagamento por prestação de serviços, que na realidade não existiam”, dizem os procuradores.
Em casos semelhantes, o MPF já havia apontado que o ex-governador utilizava empresas amigas para fazer contratos fictícios e lavar dinheiro sujo.
Em outubro do ano passado, a defesa de Sérgio Cabral tentou afastar Marcelo Bretas da condução dos casos da Operção Calicute, mas o pedido foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Ao jornal O Globo, o advogado de Cabral, Rodrigo Roca, afirmou que “a denúncia recicla material usado em outros processos para chegar ao ex-governador baseada exclusivamente em artifícios teóricos e nas palavras de delatores”. Ele também não vê “um só indício” da participação dos ex-governador nos fatos investigados.
Penas somadas
Com as penas somadas contra Cabral nas ações que investigam atos corrupção na administração pública fluminense, o ex-governador já soma 87 anos de prisão. São três condenações impostas pelo juiz da Lava Jato no Rio, Marcelo Bretas, e uma aplicada pelo magistrado da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sergio Moro.
Preso há um ano e dois meses, Cabral foi transferido no último dia 18 de janeiro para Curitiba (PR). Procuradores identificaram benesses concedidas ao ex-governador na prisão do Rio, como entrada de comidas especiais e instalação de uma sala de cinema.
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