Mulher é vítima de assédio dentro de ônibus na Av. Paulista

  • Por Marina Ogawa/Jovem Pan
  • 29/08/2017 13h37 - Atualizado em 29/08/2017 18h15
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Marina Ogawa/Jovem Pan Marina Ogawa/Jovem Pan Mulher é consolada após sofrer abuso de passageiro em ônibus na Avenida Paulista

Uma mulher foi vítima de assédio dentro de um ônibus municipal que fazia a rota entre o Metrô Ana Rosa – Morro Grande, enquanto ele circulava pela Avenida Paulista no início da tarde desta terça-feira (29). O ato ocorreu por volta das 12h30 na altura da Alameda Joaquim Eugênio de Lima.

Segundo o cobrador do ônibus, Bruno Vieira Costa, os demais passageiros só notaram o que aconteceu após ouvirem gritos dela pedindo que tirassem o homem de perto. “Eu não reparei se ela estava sonolenta ou dormindo. De repente escutei os gritos. Acho que ela nem se deu conta do que tinha acontecido até a hora que ela viu que o rapaz tinha ejaculado no pescoço dela. A hora que eu vi o espanto dela eu levantei. Ela começou a falar ‘tira ele de perto de mim, tira ele daqui’”, contou com exclusividade à reportagem da Jovem Pan.

O agressor, diante dos gritos, chegou a querer descer pelo fundo do ônibus, mas foi impedido pelo cobrador que pediu que o motorista não abrisse a porta. Passageiros do ônibus quiseram agredir o homem, mas foram impedidos pelo cobrador: “não deixei ele sair do carro, foi quando peguei minha blusa para ela se limpar. E uma moça ligou para a polícia, encontramos o policial do outro lado da rua. Mas a gente não deixou ele descer, não poderíamos deixar as outras pessoas baterem nele. Aqui ninguém é carrasco de ninguém. Seria pior. O que eu pensei foi em chamar a polícia para que ninguém mais se sujasse com esse ato que ele cometeu. Violência só gera violência”.

Relato de uma testemunha

A economista Rosângela Pereira estava sentada do outro lado do corredor, próxima à vítima, que ela disse se chamar Cinthia, e contou o que ocorreu dentro do ônibus.

“Dentro do ônibus não tinham 20 pessoas. Entrei e sentei do lado direito e a vítima do lado esquerdo. Tanto eu como ela estávamos próximas ao corredor e, de repente, vi uma pessoa em pé. Achei estranho, porque tinha um monte de lugar vazio. Essa pessoa ficou parada do lado da Cinthia. De repente ela deu um grito e começou a falar ‘que nojo, se afasta de mim’. Quando eu olhei, o cara virou para mim e ela fez o movimento de tirar todo o gozo que o cara ejaculou nela. Nisso que ele virou, veio uma parte para cima de mim, mas eu tive reflexo e então o gozo dele não me acertou. Ficou tudo no chão. Ela entrou em choque dentro do ônibus”, contou Rosângela.

A economista, em um ato de solidariedade, ficou o tempo todo ao lado de Cinthia, e a acompanhou até o 78º DP. Segundo ela, ainda dentro do ônibus, o homem foi agredido por um outro passageiro.

Rosângela contou ainda sobre o momento em que a multidão começou a se juntar do lado de fora tentando abrir a porta para tirar o homem de dentro do ônibus. “Com certeza iriam linchar, iam bater muito. Eu estava tentando acalmar as pessoas, porque sei que uma situação dessa é muito difícil. Na hora vem a revolta, mas acho que iria acontecer uma tragédia ainda maior se aquela porta estivesse aberta”, relatou em entrevista exclusiva à reportagem.

Já no 78º DP, a economista, que também prestou depoimento junto à vítima, afirmou algo que causou surpresa: o agressor já tinha cinco boletins de ocorrência contra ele, e apenas nesta delegacia este era o terceiro caso. “Pelo que eu entendi, do mesmo crime. Só que dessa vez a coisa ficou muito feia. A dra. Denise [delegada] lavrou o flagrante e colheu nossos depoimentos (…) com certeza uma pessoa que faz isso não pode ser uma pessoa normal”, disse.

Após os depoimentos, Rosângela contou que levou Cinthia para sua casa, pois ela pedia “desesperadamente” para tomar um banho. “A blusa que ela estava ficou na delegacia para perícia. Eu a trouxe para a minha casa. Ela tomou um banho, ficou mais calma e o marido dela veio nos encontrar”.

Enquanto a Polícia apurava o ocorrido ainda na Avenida Paulista, transeuntes e passageiros do ônibus confortaram a vítima do assédio. Já outras observavam o agressor, que permanecia dentro do veículo na companhia de alguns policiais, tentando a todo momento esconder o rosto.

O homem, que saiu pelo lado da Avenida Paulista, e não pela porta que dava na calçada, foi levado para o 78º Distrito Policial, que fica a poucos minutos da Av. Paulista, entre a Rua Augusta e a R. Estados Unidos e autuado em flagrante.

Mais assédio contra a mulher

O caso acontece apenas um dia após a escritora e ativista do feminismo Clara Averbuck denunciar que sofreu assédio de um motorista do Uber. A história repercutiu e ela acabou alvo de acusações nas redes sociais.

Pelo Facebook, Clara explicou que estava bêbada e o motorista se aproveitou da situação. “Bom, virei estatística de novo. Queria chamar de ‘tentativa de estupro’, mas foi estupro mesmo”, disse.

“O nojento do motorista do Uber aproveitou meu estado, minha saia, minha calcinha pequena e enfiou um dedo imundo em mim, ainda pagando de que estava ajudando ‘a bêbada’. Estou machucada mas estou em casa e medicada pra me acalmar”, completou.

A Uber divulgou nota de repúdio e afirmou que baniu o suspeito. Clara decidiu, horas depois da divulgação do ocorrido, não prestar depoimento na delegacia da mulher.

Ela reclamou de pessoas que “duvidaram da vítima”. Averbuck mostrou o olho roxo e deixou seu recado em vídeo:

não aguento mais me repetir. mas vamos lá.

Publicado por Clara Averbuck em Terça-feira, 29 de agosto de 2017

*Colaboração dos repórteres Thiago Navarro, Adriano Sarafim e Amanda Garcia 

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