Nuvem de areia do Saara não causa problemas à saúde e pode ser boa para a Floresta Amazônica; entenda
Fenômeno pode ser benéfico ao bioma amazônico por transportar fósforo, um fertilizante natural que auxilia o crescimento das plantas
A nuvem de areia do Saara que viaja através do Oceano Atlântico e deve chegar ao Brasil nos próximos dias não deve causar grandes problemas ao país nem à saúde dos brasileiros. Pelo contrário: a poeira desértica pode até ajudar a tornar o solo da Floresta Amazônica mais fértil. Em termos atmosféricos, ela deve inibir a formação de ciclones, como furacões e tempestades tropicais. As tempestades de areia são um fenômeno que se repete de forma praticamente anual, principalmente do final da primavera ao início do outono no Hemisfério Norte, entre janeiro e maio, e se houver ventos favoráveis, costumam atingir áreas do norte da América do Sul e do Caribe. A explicação para sua ocorrência deriva da existência de zonas de alta e baixa pressão na atmosfera da Terra – o deserto é uma área seca e arenosa de alta pressão, e os ventos que saem de lá carregam areia para as de pressão menor. Esses ventos são chamados de “alísios” e, no caso do continente americano, vêm do Saara carregando a poeira.
Outras características do clima, como a umidade e direção dos ventos, afetam na quantidade de areia transportada que chega a cada região. Uma imagem de satélite compartilhada nas redes sociais por Mark Pattington, cientista sênior do Serviço de Monitoramento Atmosférico do programa Copernicus, mostrou boa parte da areia seguindo em direção ao hemisfério norte, e uma pequena parte vindo para o Brasil. Por isso, a areia deve evitar o surgimento de tempestades mais fortes no oceano nos próximos dias. “A poeira saariana chega com ar extremamente seco e isso tende a inibir a formação de ciclones tropicais como tempestades tropicais e furacões. Um ciclone tropical precisa de um ambiente quente, úmido e calmo. Por isso, no curto prazo a temporada de furacões do Atlântico Norte estará calmíssima”, indica a empresa de meteorologia Metsul.
#Saharandust update. The big plume Is moving westward, as forecasted by @CopernicusECMWF CAMS, heading to #Brazil and #Caribbean.
In the opposite direction the Dust cloud is fliyng toward #Greece, as detected on March 5th by #Copernicus #Sentinel5p. #AirQuality @WMO pic.twitter.com/BRyAWE6UJR— ADAM Platform (@PlatformAdam) March 6, 2022
#SaharanDust transport across the Atlantic to South America & Caribbean predicted to continue for the next few days in the @CopernicusECMWF Atmosphere Monitoring Service @ECMWF aerosol optical depth forecast initialiazed on 7 March 00 UTC https://t.co/AvLMy4uk0J https://t.co/1nY6JST7W1 pic.twitter.com/8ur5qxNvc6
— Mark Parrington (@m_parrington) March 7, 2022
Quando a areia chega ao Brasil, não costuma causar efeitos negativos – uma tempestade ocorrida em 2020, maior que a atual, é um exemplo disso. No máximo, pode haver mudanças na coloração do céu em dias claros e sem muitas nuvens. Por outro lado, um estudo da Nasa indica que o poeira do Saara pode ser benéfica para a Floresta Amazônica: quando ela é proveniente da Depressão Bodélé, no Chade, um antigo leito de lago formado por minerais rochosos compostos de microrganismos mortos, está carregada de fósforo, nutriente essencial para as plantas poderem crescer. Enquanto a matéria orgânica decomposta é abundante na mata e rapidamente absorvida pelas plantas vivas, o fósforo é escasso em solos tropicais como o da Amazônia por ser levado rapidamente pela chuva para os corpos aquáticos. O estudo da agência espacial americana estimou que cerca de 22 mil toneladas de fósforo cruzem o Atlântico por ano, quase a mesma quantidade perdida por chuvas e inundações. As nuvens de areia também pode beneficiar o Oceano Atlântico por carregarem ferro, importante para as formas de vida aquáticas.
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