Osmar Terra defende isolamento vertical e condena quarentena

  • Por Jovem Pan
  • 26/03/2020 20h12 - Atualizado em 26/03/2020 20h19
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Valter Campanato/Agência Brasil Deputado Osmar Terra concedeu entrevista exclusiva ao programa Os Pingos Nos Is, da Jovem Pan

O deputado Osmar Terra (MBD), ex-ministro da Cidadania e médico, teceu severas críticas às medidas de distanciamento social adotadas no Brasil com a chegada da epidemia de coronavírus no país. A favor do isolamento vertical, onde apenas o grupo de risco é colocado em quarentena, Terra afirmou que fechar o comércio e pedir para que as pessoas não saiam de casa “não resolve”, posicionamento diferente do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Fechando ou não o comercio, escolas, parando ônibus, o vírus tem uma velocidade. Na epidemia de H1N1, quando fechamos a escola, o surto aumentou. A curva começou a ficar mais aguda. Nós vimos que as crianças se contaminavam fora da sala de aula, brincando na rua, na praça, na casa dos amigos, vinham para casa e o pai e a mãe tinham que parar de trabalhar. Nesse caso de coronavírus é pior, porque elas vem para casa e são portadoras assintomáticas”, afirmou, em entrevista exclusiva ao programa Os Pingos Nos Is, da Jovem Pan.

“Na Itália, que criou uma quarentena rigorosa depois que chegou mais de 1.500 casos em único dia, o número de casos triplicou 12 dias depois. As pessoas se contaminavam dentro de casa. Um menino que tinha o vírus ficou fechado com a vó, o vô, as famílias italianas vivem agregadas, e isso aumentou o contágio. Explodiu. Não resolve. Nós temos que cuidar do grupo de risco e levar a vida”, completa.

Para Osmar Terra, os números brasileiros vão continuar crescendo, obedecendo a logica das pandemias, que duram 12 semanas. O isolamento causaria dano maior ao país. “Fechar comércio, quebrar o país, por quanto tempo? Eu digo quanto tempo dura uma epidemia: 12 semanas. Com quarentena ou sem quarentena. Eu quero ver alguém que defende a quarentena fixar data. Não resolve nada. Ela não diminui um caso. Os casos vão acontecer independente da quarentena. O vírus já está nas casas, dentro das famílias”.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 2.975 casos, e 77 mortos. Terra estima que o pico da pandemia no Brasil deve acontecer por volta da terceira semana de abril, e reforça que não é possível realizar testes em toda a população. “Está subindo [a estatística], muita gente pode ficar assustada. São casos diagnosticados, não quer dizer que estão morrendo. Existe muitos mais, mas não dá para testar toda a população. Em um dia a pessoa está com o vírus, outro não. Teria que testar todo dia. Não tem como fazer isso. Tem que esperar ter algum tipo de sintoma. Os números estão dentro do previsto. Se fizer mais testes, diminui a letalidade, mas vai ficar por aí e vai ser assim até a 6ª semana, até começar a cair. Termina no final de maio, começo de junho”.

Na quarentena vertical, apenas pessoas acima dos 65 anos ficam em quarentena. “[O idoso] deve ficar em um espaço da casa apropriado. As pessoas que se relacionarem com eles tem que lavar as mãos o tempo todo, não falar perto. Todo mundo que entrar na casa tem que deixar o sapato de fora. Passar água e sabão nos lugares que mais tocamos, como maçanetas, assim como pessoas com doenças crônicas, baixa imunidade ou transplantados. Quem tem febre ou tosse também tem que se resguardar junto com a família por 15 dias”, orientou. “As demais, lavar as mãos, manter distancia, cuidados normais. Não precisa parar o funcionar. Não vai aumentar o número de casos por isso”.

O ex-ministro comparou os estragos da pandemia de covid-19 com os números da gripe H1N1 no Rio Grande do Sul, Estado que soma muitos casos por ser mais frio. “A gripe sazonal no RS mata em torno de 1.200 pessoas. No Brasil, provavelmente, os casos de coronavírus sejam dessa ordem. Muito menos que o H1N1 – e não se faz quarentena”, comentou. “Nunca permiti quarentena, e me pediam. Nunca deixamos. A vida tem que continuar. Não dá pra quebrar o país por um motivo que não melhora”, defendeu.

Os impactos econômicos, como a falta de renda para o trabalhador que recebe por dia são os argumentos do deputado. “Quantos anos de recessão nós vamos ter pela frente? Os diaristas estão passando fome em casa de quarentena. Não tem sentido isso. Não tem sentido proibir ônibus, fechar shopping, não existe nenhum trabalho publicado mostrando que isso melhora alguma coisa. O vírus é uma força da natureza, ele vai contaminar. Nós temos que proteger os mais frágeis, evitar que eles peguem o vírus e garantir que eles tenham assistência médica. E nisso o ministro Mandetta está indo muito bem”.

“O isolamento tem que ser vertical. A quarentena tem que acabar logo. Tem que acabar amanhã. Deixe as pessoas decidirem se elas querem ficar em casa. Não pode impedir as empresas de funcionarem. Deixem elas decidirem”, finalizou.

Anticorpos

Terra explica que os brasileiros acima dos 50 anos não sofreram com a epidemia de H1N1 porque já haviam adquirido imunidade ao enfrentar a epidemia de gripe asiática, nos anos 50. Segundo ele, foi o que o presidente Bolsonaro quis dizer quando afirmou que brasileiro  “não pega nada”. “O que o presidente quis dizer é que as pessoas são infectadas, adquirem resistência e nem sabe que são infectadas. 99,6% das pessoas que forem infectadas [com o coronavírus] não vão sentir nada. Só vai ficar aquela outra parte, pessoas mais sensíveis, até chegar nas pessoas mais idosas que vão evoluir e morrer”.

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