Pais transformam experiência de filhos com câncer em projetos e ações de conscientização para público infantojuvenil
Campanha de Setembro Dourado busca conscientizar a população sobre o câncer em crianças e adolescentes; Incra estima que 8 mil novos casos sejam diagnosticados a cada ano
A campanha de Setembro Dourado tem como objetivo conscientizar a população sobre o câncer infantojuvenil. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que o número de casos novos de câncer infantojuvenil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, seja de 7.930. No Brasil, a doença já representa a primeira causa de morte entre crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos. Contudo, o diagnóstico precoce possibilita uma chance de 80% de cura. Para lidar com o processo de enfrentamento ao câncer, diversos pais tem utilizado a situação para desenvolver projetos e ações de conscientização sobre o assunto ou para honrar o legado dos filhos que faleceram da doença.
Um exemplo recente é do apresentador Tiago Leifert e a esposa Daiana Garbin, que promovem uma campanha de conscientização sobre o retinoblastoma, tumor ocular do qual a filha Lua foi diagnosticada. Com quase três anos, a criança já luta contra o câncer há dois. Desde a descoberta do diagnóstico, o casal tem se dedicado a disseminar informação sobre o diagnóstico precoce. “Nesse momento, em algum lugar do Brasil, tem um câncer se desenvolvendo dentro dos olhos de uma criança pequena e os pais não têm a menor ideia do que está acontecendo. As pessoas que estão em volta dessa criança nem desconfiam, como eu e a Dai não desconfiávamos lá atrás”, afirma Leifert na campanha “De Olho nos Olhinhos”. A mensagem do casal se espalhou pelas redes sociais e gerou interesse de pais em geral.
Já o ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, decidiu apostar em outra forma de atuação. Após perder o filho Luiz Felipe Figueiredo para o câncer, ele decidiu fundar o Instituto Fefig, que apoia projetos de educação com potencial de se transformem em políticas públicas e melhorar a qualidade da educação básica no Brasil. Luiz Felipe foi diagnosticado com um astrocitoma [tumor cerebral] próximo à medula óssea aos 10 anos e faleceu em 2017, após lutar 13 anos contra a doença. O pai relembra que, até os 20 anos, o jovem conseguiu viver uma vida normal. Mas, nos últimos anos de vida, o tumor retornou de forma mais agressiva.
“Eu era muito, muito próximo do Luiz Felipe. Ele teve uma vida boa e se tornou uma pessoa maravilhosa ao longo do tempo. Foi um privilégio ter sido pai dele pelo tempo que eu pude conviver com ele. Nós dois compartilhávamos muito essa cabeça de que a educação multiplica mais o esforço social que você está fazendo. Tinha tudo a ver fazer uma coisa assim em homenagem a ele e permitir com que outras pessoas pudessem ter uma vida plena. Mesmo com tanta coisa adversa, ele conseguiu se humanizar e se tornar uma âncora para todos”, relata Luiz Fernando em entrevista à Jovem Pan.
O instituto realiza uma curadoria de projetos educacionais, com resultados comprovados e impacto possível de gerar escala. O objetivo é alavancar a eficácia da iniciativa, alcançar o maior número de crianças possíveis e viabilizar que o trabalho vire futuramente uma política pública. Ao longo dos cinco anos de existência, o instituto já atendeu mais de 38 mil estudantes em oito estados brasileiros por meio do apoio de projetos. Durante 2023, o número já ultrapassou 50 mil crianças e adolescentes. Todos os custos operacionais são mantidos por Luiz Fernando, que busca diminuir os abismos sociais presentes no Brasil em homenagem ao filho.
Luiz Fernando complementa que tem como meta que o instituto se torne referência na área e que as ações desenvolvidas se tornem políticas públicas. “A gente não deveria perguntar para as perguntas se elas praticam alguma atividade filantrópica, mas sim qual. Deveria ser uma obrigação nossa enquanto cidadão em contribuir com tanta gente que precisa. Precisamos disseminar mais essa cultura”, argumenta.
Atenção às crianças e busca pelo diagnóstico precoce
De acordo com o clínico geral Vital Araújo, o câncer infantil é diferente do câncer em adultos, pois tem causas, tipos e tratamentos específicos.”O diagnóstico precoce é fundamental para aumentar as chances de cura e reduzir as sequelas do tratamento. Ele depende da atenção dos pais, dos médicos e dos professores para os sinais e sintomas iniciais da doença, que muitas vezes podem ser confundidos com outras condições comuns na infância”, aponta. O especialista afirma que os tipos mais comuns são as leucemias, tumores do sistema nervoso central, linfomas e tumores sólidos como o neuroblastoma, sarcomas e o tumor de Wilms.
“As leucemias são o tipo de câncer mais comum entre as crianças, responsável por 28% dos diagnósticos. Os tumores cerebrais são o segundo tipo de câncer mais comum em crianças, representando cerca de 26% dos casos. Alguns dos sinais e sintomas que devem alertar para a possibilidade de câncer infantil são: manchas roxas e caroços pelo corpo, dores nos ossos, principalmente nas pernas, com ou sem inchaço, perda de peso, aumento ou inchaço na barriga, palidez inexplicada e fraqueza constante, aumento progressivo dos gânglios linfáticos, dores de cabeça acompanhadas de vômitos, febre ou suores constantes e prolongados”, exemplifica.
O especialista ressalta que esses sinais e sintomas não são específicos do câncer infantil e podem estar relacionados a outras doenças benignas. Por isso, é essencial que a criança ou o adolescente seja avaliado por um médico pediatra sempre que apresentar algum desses sinais ou sintomas de forma persistente ou inexplicável. “O diagnóstico precoce do câncer infantil é uma responsabilidade de todos: pais, médicos, professores e sociedade em geral. Somente com a conscientização e a educação sobre essa doença podemos garantir que as crianças e os adolescentes tenham acesso ao tratamento adequado no tempo certo e possam ter uma vida saudável e feliz”, finaliza.
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