Palocci recebeu R$12 milhões de empresas em 2010, boa parte sem contrato, diz revista

  • Por Jovem Pan
  • 19/04/2015 14h51
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O ex-ministro Antonio Palocci vota no colégio Otoniel Mota Edson Silva/Folhapress - 26.10.2014 O ex-ministro Antonio Palocci vota no colégio Otoniel Mota

Reportagem da revista Época mostrou que a empresa de consultoria do ex-ministro Antonio Palocci (chamada Projeto) recebeu R$ 12 milhões suspeitos das empresas JBS, Caoa e do escritório de advocacia de Márcio Thomaz Bastos. O valor deste último teria origem no grupo Pão de Açúcar.

Os valores foram pagos em 2010, ano em que a presidente Dilma Rousseff foi eleita ao seu primeiro mandato. Palocci atuava informalmente na arrecadação da campanha da presidente, informa o texto. Logo depois da eleição, ele foi escolhido como ministro-chefe da Casa Civil, cargo que exerceu apenas até junho, após ser acusado de aumentar 20 vezes seu patrimônio em 4 anos.

Palocci não conseguiu provar que prestou serviço a essas empresas. A revista teve acesso a documentos internos, contratos e notas fiscais, da empresa Projeto, papéis de posse do Ministério Público.

Dos R$ 12 milhões, R$ 5,5 mi vieram do escritório de Thomaz Bastos, R$ 2 milhões da JBS entre 2009 e 2010 e R$ 4,5 milhões do grupo Caoa, entre julho e dezembro.

Apenas para o escritório de Bastos, houve 11 pagamentos sem contrato que somaram R$ 3,5 milhões, durante campanha e pré-campanha de Dilma. A matéria mostra registros de cheques de pagamentos de R$ 500 mil e de R$ 250 mil.

Em 3 de dezembro de 2010, dia em que foi anunciado como novo ministro-chefe da Casa Civil, Palocci recebeu em sua empresa R$ 1 milhão sem contrato oficial.

Márcio Thomaz Bastos, que faleceu em dezembro do ano passado, era conhecido por defender envolvidos em casos de corrupção, como réus do mensalão. Reconhecido advogado criminalista, ocupou o ministério da Justiça no primeiro mandato de Lula.

Advogados de Palocci e do escritório de Thomaz Bastos alegam que a origem do dinheiro seria o grupo Pão de Açúcar, numa contratação indireta.

Os pagamentos seriam para Palocci ajudar na fusão do Pão de Açúcar com as Casas Bahia, que seria aprovada dois anos e meio depois, em abril de 2013.

Porém, a consultora Estáter, contratada de forma exclusiva para conduzir a fusão, disse ao Ministério Público que a empresa de Palocci não prestou nenhum serviço de consultoria, informa a apuração de Época.

A rede de concessionárioas automobilísticas Caoa também nega serviço prestado por Palocci, que supostamente seria para encontrar parceiro chinês. Caoa disse que “não tem e nunca teve nada” com a consultoria de Palocci.

No caso da atacadista de carnes JBS, Palocci teria ajudado no fechamento da compra da Pilgrims, gigante norte-americano do mercado avícola. Ao Ministério Público, a empresa diz, contudo, que já estava em “fase adiantada de negociação” com a Pilgrims no período em que os R$ 2 milhões foram pagos a Palocci, reportam os jornalistas.

Palocci respondeu em nota à publicação que contratos que sua consultoria faz com clientes possuem cláusula de confidencialidade, mas que já disponibilizou todos os documentos ao Ministério Público. Ele fala ainda que os fatos “nada têm a ver com a Operação Lava Jato”.

Palocci também negou à revista qualquer relação das atividades da Projeto com a campanha de Dilma em 2010. “Repudiamos com indignação, qualquer insinuação ou ilação gratuita nesse sentido”, afirmou.

Na investigação da Lava Jato, já há inquérito contra Palocci para investigar denúncia em delação de Paulo Roberto Costa, de que o ex-ministro teria pedido a Costa R$ 2 milhões. O processo ocorre em Curitiba, sob a guarda do juiz Sergio Moro.

O ex-deputado do André Vargas foi preso por receber R$ 200 mil da mesma JBS por serviços não prestados de sua própria consultoria, relembra ainda a matéria.

A revista, por fim, comparou os valores pagos à assessoria de Palocci em prestações de serviços corriqueiras (a outras das 30 empresas que atendeu), de R$30 mil a R$50 mil, com os dados às supostas consultorias de MTB e Pão de Açúcar, JBS e Caoa, cheques de R$ 250 mil a R$ 300 mil.

(Foto do texto: Thomaz Bastos: Alexandre Rezende/Folhapress)

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