Para além do sétimo dia, Brumadinho

  • Por Victoria Abel, de Brumadinho (MG)
  • 01/02/2019 10h37 - Atualizado em 03/02/2019 13h40
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Daniel Oliveira/Estadão Conteúdo As buscas por vítimas em Brumadinho (MG) chegam ao sétimo dia

O sétimo dia de buscas chegou junto ao sétimo dia das mortes. 30, 60, 110, o número de óbitos sobe exponencialmente, tal qual a dimensão de uma tragédia que marcará Brumadinho para sempre em luto. A rapidez na geração numérica de óbitos se reflete também na dinâmica dos velórios. Cerimônias a jato que produzem a imagem do descanso eterno, mas nem de perto dão o tempo necessário de choro as famílias

Cerca de 20 minutos se passaram entre a chegada do corpo de Eudes José de Souza Cardoso no Velório Municipal e sua saída para o cemitério, em meio a aplausos calorosos de um público de aproximadamente 300 pessoas. Um pequeno culto com louvor e oração foi encerrado com as lágrimas desesperadas de seu pai, que apenas agradecia a passagem de seu filho pela vida.

Eudes, de 43 anos, era eletricista da Vale e trabalhava há 18 anos na empresa. A sexta-feira, dia rompimento da Barragem, era seu último dia como empregado da companhia. Ele pegava o micro ônibus de volta a Brumadinho, quando foi atingido pelo mar de lama e rejeitos.

Segundo seu irmão, Jeferson de Souza Cardoso, Eudes deixava a Vale para tomar conta do próprio negócio, uma quadra de futebol society que construía para atender ao público e promover a inserção de crianças no esporte. Ele era formado em administração e educação física. Figura querida na cidade e conhecido por sua generosidade, Eudes deixa duas filhas e esposa.

Questionado sobre a possibilidade a possibilidade da família reclamar indenização a Vale ou ao governo, Jeferson respondeu que “dinheiro nenhum no mundo paga a vida do ser humano” e que “a ganância pelo dinheiro é a causa da tragédia.”

Quem também não pensa em pedir por indenização é Aparecida da Paixão Campos que enterrou um filho e o irmão, vítimas da tragédia. Fabricio Henrique da Silva, o filho, era mecânico em uma empreiteira que prestava serviços à Vale. “Era ele quem cuidava da casa. Muito carinhoso, muito amoroso”, conta a mãe sobre o jovem de 27 anos.

Segundo a mãe, o corpo de Fabrício foi um dos primeiros a ser achado e a expectativa de encontrá-lo vivo, durou pouco. Identificado poucos dias depois, o irmão de Aparecida, Claudio Silva, de 35 anos, foi enterrado nesta quinta-feira. O eletricista da Vale e mediador de das discussões de família era conhecido por sua alegria. “Quando ele ouvia os meninos brigando, já batia lá em casa perguntando o que estava acontecendo”, lembra Aparecida.

O cemitério Parque das Rosas, já preparou 98 covas para receber os corpos da vítimas. egundo responsáveis pela administração do local, a aberta de jazigos é um trabalho difícil que exige tempo para ser bem feito. No cemitério do Córrego do Feijão, outras 20 covas também já foram abertas. A cidade de Brumadinho conta com 10 cemitérios no total.

Nem todo espaço reservado para as vítimas dessa tragédia, no entanto, será suficiente para enterrar as lembranças do desastre que assola e abate os rostos da cidade. Para além do sétimo dia, Brumadinho permanecerá em luto.

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