Para especialista, MEC precisa detalhar mudanças do Enem: ‘Pode ser uma troca de 6 por meia dúzia’
Ministério anunciou nesta quarta-feira (3) que o exame será totalmente digital até 2026
A mudança do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o digital pode ser positiva se vier acompanhada dos benefícios que a tecnologia proporciona. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação precisam, no entanto, detalhar como será essa alteração. A avaliação é do coordenador do Núcleo de Inteligência do Todos pela Educação, Caio Sato.
Nesta quarta-feira (3), o Inep anunciou que o exame será totalmente digital até 2026. Já no ano que vem, haverá um projeto-piloto que terá custo de R$ 20 milhões e será aplicado para 50 mil candidatos de 15 capitais — o que corresponde a 1% dos participantes.
“Se a aplicação digital vier acompanhada da robustez tecnológica, que pode elevar a aplicação do exame para um outro patamar de qualidade, então a gente enxerga esse movimento de forma positiva”, explica Sato. “Mas, se transferir o modelo significar apenas a troca de uma prova de papel para um questionário digital, essa mudança não agrega valor nos termos de qualidade”, continuou. “Será como trocar seis por meia dúzia.”
Ele cita como exemplo um modelo de avaliação que é chamado por alguns especialistas de “teste avaliativo”. “Ele realmente agrega valor na hora de medir aprendizado das pessoas”, diz. Segundo o coordenador do Todos pela Educação, esse modelo lança novas perguntas para o candidato, com nível mais avançado, conforme ele acerta as respostas.
“Se ele lança uma questão fácil e você acerta, e faz isso de forma sistemática, a inteligência desse modelo conclui que o nivel básico já foi absorvido por você e começa a te lançar perguntas mais difíceis”, afirma Sato. “Ele consegue medir melhor a proficiência e, em alguns casos, usando até mesmo menos perguntas.”
Para o especialista, algumas questões ainda não foram esclarecidas pelo Inep nem pelo Ministério da Educação. Uma das dúvidas é em quais computadores a prova será aplicada — se será em escolas ou na casa do candidato, por exemplo.
Sato lembra ainda que o Inep tem alguns critérios, atualmente, para aplicar a prova física. Um deles é que, em localidade remotas, é preciso ter pelo menos 600 participantes no município para que o exame seja realizado.
“Se no modelo físico existem barreiras, no tecnológico pode ser que se acentue mais em locais remotos. Pode ser que aumente os custos para se levar o Enem para esses lugares porque você vai precisar levar computadores, instruir pessoas realizar o exame”, explicou.
Porém, dependendo de qual decisão o MEC tomar, o Enem pode ser tornar mais barato, uma vez que a logística da prova física envolve diagramação, impressão, embalagem e distribuição. “Quando se faz a transferência para o modelo digital, o governo terá economias. Por outro lado, é preciso construir um banco de itens que seja usado nesse modelo digital.”
O banco de itens é um servidor que protege todas as questões que podem ser incluídas em provas do Enem. Ele é localizado fisicamente em uma sala de proteção especial na sede do Inep em Brasília, conhecida como “sala segura”.
Tecnicamente, as questões são chamadas de itens porque, além de serem um conjunto de enunciados e alternativas, carregam outras informações importantes, como o nível de dificuldade e a habilidade que ela exige que o candidato tenha para acertar a resposta.
Outro ponto que precisa ser esclarecido, na opinião de Caio Sato, é em relação à acessibilidade da prova. É preciso fazer uma adaptação para os participantes que precisam fazer a prova em braile e que teriam, com a mudança, de realizá-la por áudio.
“No fundo”, diz Sato, “a nossa conclusão é um pouco híbrida: a mudança pode apontar para um movimento muito positivo, mas tem algumas ressalvas que precisam ser feitas”, afirma.
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