Pessoas com epilepsia devem passar por avaliações específicas antes de tirar CNH
O atropelamento de 18 pessoas da noite da última quinta-feira (18), na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, resultou na morte de um bebê. De acordo com a Secretária Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, 13 pessoas ainda estão internadas, sendo um turista australiano, de 61 anos, em estado gravíssimo. O motorista responsável pelo atropelamento estava com a Carteira de Habilitação suspensa desde 2014, com 62 pontos e 14 infrações cometidas nos últimos 15 anos. Em depoimento no 12º DP, de Copacabana, o condutor disse que sofria de epilepsia.
Em entrevista à Jovem Pan, o Dr. Lécio Figueira, integrante do departamento científico de epilepsia da Acadêmia Brasileira de Neurologia, explicou que, antes de tirar a CNH, pessoas com epilepsia são submetidas a avaliações específicas e rigorosas. Por isso, a autorização para dirigir é feita mediante laudo médico.
“Isso está bem definido. Pessoas que têm epilepsia respondem um questionário revelando se tomam remédio, se tem desmaios ou convulsões. Existem perguntas explícitas. Se a resposta for sim, há uma avaliação específica em relação a isso”.
O especialista pontuou que faz parte da avaliação uma solicitação ao médico, que acompanha essa pessoa, se ele julga que o seu paciente está realmente apto a dirigir.
“O médico deve informar se a pessoa está há mais de um ano sem ter crise, tomando o remédio regularmente e em seguimento de pelo menos um ano com aquele médico. Ou seja, ele (médico) realmente tem conhecimento para saber se o paciente está controlado. O médico dá o parecer favorável”, disse.
Figueira revelou ainda que há outra situação em que o paciente não sofre crises há pelo menos dois anos e, inclusive, já parou de tomar a medicação. “Dependendo do tipo de epilepsia, cujos riscos de voltar de novo são menores, também é factível liberá-lo para dirigir”.
“Qualquer um de nós pode sofrer um mal estar súbito e causar um acidente. Botar esse ônus de que uma pessoa que já teve crise, mas está tratada e controlada, de nunca mais poder dirigir é um peso muito grande”, completou.
Figueira salientou ainda que muitos pacientes continuam dirigindo, mesmo com a não aprovação do médico. “Do ponto de vista médico, eu não posso romper o sigilo médico e denunciar o paciente. O paciente orientado é quem deve se declarar como tendo crise”, explicou.
O especialista afirmou que mais de 70% dos pacientes com epilepsia controlam as crises com medicações, porém 1/3 não faz esse controle. “Essas pessoas são as que deveriam ser privadas de dirigir (…) Há também aquelas que ainda vão controlar, mas ainda não obtiveram esse controle. Não é tomar o remédio por um mês e achar que pode dirigir”, alertou.
“É preciso ficar por um período prolongado tomando o remédio adequadamente e com acompanhamento médico. Quando isso é feito de forma correta, o legalmente o especialista consegue liberar o paciente (…) Vários pacientes que eu acompanho só deixaram de dirigir após causar um acidente sério (…) As pessoas devem ter consciência e entender que a lei foi feita para ser seguida”, ressaltou.
De acordo com o Dr. Lécio Figueira, o grande problema está no fato de que a maior parte das pessoas não declara que têm epilepsia para que, assim, não sofram a avaliação mencionada.
*Com informações do repórter Vitor Brown
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.