Grupo na PGR pede demissão após subprocuradora-geral buscar dados em Curitiba

Um dos procuradores que pediu demissão nesta sexta-feira (26) atuava no inquérito que apura interferência do presidente Jair Bolsonaro na PF

  • Por Jovem Pan
  • 27/06/2020 13h54
Antonio Augusto / Secom / PGR PGR Procuradoria-geral da República Sede da Procuradoria-geral da República (PGR)

Procuradores que integram o núcleo da Operação Lava Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR) pediram demissão nesta sexta-feira (26) por divergências com a gestão Augusto Aras e sua aliada, a subprocuradora-geral Lindora de Araújo. O fato que precipitou a saída foi uma suposta “diligência” feita por Lindora na sede do Ministério Público Federal em Curitiba, nesta semana, segundo acusou a força-tarefa da Lava Jato.

Pediram demissão os procuradores Hebert Reis Mesquita, Luana Vargas de Macedo e Victor Riccely. O grupo era responsável pela condução de inquéritos envolvendo políticos com foro privilegiado no Supremo, além de atuar em habeas corpus movidos na Corte em favor dos investigados e a negociação de delações premiadas. Um deles, Hebert, atuava no inquérito que apura interferência do presidente Jair Bolsonaro na PF.

A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba enviou ofício a Aras e à corregedoria da PGR acusando a subprocuradora Lindora, braço-direito de Aras, de ir à sede do MPF do Paraná para consultar arquivos que originaram a Lava Jato, em 2014. No documento, os procuradores alegam “estranhamento” gerado pela “busca informal” de dados e o uso do nome da corregedoria do MPF.

O ofício presta “informações sobre reuniões e atos realizados pela excelentíssima subprocuradora-geral da República Lindora Maria Araújo”, nos dias 24 e 25 deste mês, “em que se buscou acesso a informações, procedimentos e bases de dados desta força-tarefa em diligência efetuada sem prestar informações sobre a existência de um procedimento instaurado, formalização ou escopo definido”.

Apesar de Lindora negar que tenha pedido compartilhamento informal de dados, houve mal-estar após o relato da Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba. Um dos eventos que causaram desconforto dentro da PGR foi a retomada das negociações para um acordo de colaboração premiada com Tacla Duran, advogado alvo da Lava Jato foragido da justiça. Duran acusa o advogado Carlos Zucolotto, que foi padrinho de casamento de Sergio Moro e sócio da esposa do ex-ministro, de pagar propina para obter vantagens em um acordo de delação premiada que terminou não se concretizando.

Hebert e Luana já haviam feito parte do grupo de trabalho da Lava Jato na gestão Raquel Dodge e também entregaram os cargos por discordâncias com a então procuradora-geral. Interlocutores de Aras dizem que a saída dos três procuradores do grupo coordenado por Lindora já estava prevista independentemente do episódio do Paraná. Permanecerá atuando com Lindora o procurador da República Galtienio da Cruz Paulino, que era do grupo de atuação no Superior Tribunal de Justiça.

Lava Jato

Além de Curitiba, o ofício para consulta de informações da Lava Jato também foi enviado para as forças-tarefas do Rio e de São Paulo. Assim como em Curitiba, a solicitação de dados inclui materiais de interesse para a PGR, como relatórios de inteligência financeira do Coaf (atual Unidade Inteligência Financeira), dados de cooperações internacionais, entre outros.

A ação de Lindora foi considerada inusitada pela Lava Jato Curitiba e um risco para os dados das investigações. No documento enviado a Aras, os procuradores afirmaram que embora a subprocuradora-geral “tenha afirmado que não buscava a transferência de dados sigilosos”, na reunião defendeu-se que o entendimento da equipe da PGR era de “que materiais, mesmo obtidos mediante decisão judicial, podem ser compartilhados para acesso para fins de inteligência no âmbito do Ministério Público”.

Em nota, Lindora negou irregularidades na visita e disse que se tratava de uma reunião previamente agendada. “Não houve inspeção, mas uma visita de trabalho que visava à obtenção de informações globais sobre o atual estágio das investigações e o acervo da força-tarefa, para solucionar eventuais passivos” Segundo ela, não se “buscou compartilhamento informal de dados, como aventado em ofício dos procuradores”. A solicitação de compartilhamento foi feita por meio de ofício no dia 13 de maio

*Com informações do Estadão Conteúdo

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