Planalto diz que Temer pediu ajuda à Odebrecht, mas nega irregularidades

  • Por Jovem Pan com Estadão Conteúdo
  • 24/02/2017 18h39
EFE Michel Temer e Eliseu Padilha EFE

Para se posicionar em relação às declarações do ex-assessor especial José Yunes, que disse ter sido “intermediador” do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o presidente Michel Temer decidiu soltar uma nota pública para reiterar que não tem participação no episódio.

“Quando presidente do PMDB, Michel Temer pediu auxílio formal e oficial à Construtora Norberto Odebrecht. Não autorizou, nem solicitou que nada fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral”, diz o texto, divulgado nesta sexta-feira, 24, pela Secretaria de Comunicação da Presidência. “A Odebrecht doou R$ 11,3 milhões ao PMDB em 2014. Tudo declarado na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral. É essa a única e exclusiva participação do presidente no episódio”, completa o texto.

Assessor especial da Presidência da República até o final do ano passado e amigo pessoal do presidente Michel Temer há mais de 40 anos, o advogado José Yunes confirmou nesta sexta-feira que recebeu um pacote do doleiro Lúcio Funaro, a pedido do hoje ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, um mês antes da eleição presidencial de 2014 que reelegeu a chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, mas alegou que não viu o conteúdo. Apesar da afirmativa, Yunes negou que tenha atuado como operador dos recursos de campanha do PMDB.

“Nunca operei dinheiro de campanha para o PMDB. Nego peremptoriamente que recebi dinheiro para a campanha do PMDB”, reiterou, ironizando que, se isso fosse verdade, conforme relatos de delatores da Operação Lava Jato que Padilha teria sido o destinatário de R$ 4 milhões em caixa dois para a campanha, “o dinheiro não iria em um envelope, mas num caixa forte”.

Yunes disse que conversou na quinta-feira, 23, pessoalmente com o presidente Michel Temer e falou sobre o depoimento espontâneo que fez à Procuradoria-Geral da República sobre o imbróglio, em razão da delação premiada de Claudio Melo, lobista da Odebrecht, que disse que ele teria recebido dinheiro vivo em seu escritório de advocacia, em São Paulo. Segundo ele, Temer não demonstrou preocupação com o fato e lhe disse que “o melhor é sempre contar a verdade”.

Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, Yunes também narrou o encontro suspeito com Padilha em 2014:

“Padilha, à época, telefonou-me e perguntou se poderia receber em meu escritório se uma pessoa poderia entregar um documento e outra iria levá-lo. E foi o que ocorreu. O Padilha pediu que uma pessoa iria entregar um documento. Para surpresa minha, no dia, o Lucio Funaro [tido como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha], que eu não conhecia, foi ao meu escritório, e eu recebi, ele me entregou o pacote, que não era grande. Como eu poderia colocar em suspeição o conteúdo do pacote? Depois de 40, 50 minutos, foi uma outra pessoa e pegou o pacote. Não foi identificada a outra pessoa. Foi muito rápido”, disse.

Yunes relatou ainda seu incômodo com a situação e defendeu que o caso fosse investigado. O empresário dispôs-se ainda a prestar quantos depoimentos forem necessários. “Já estou com advogado e me propus a ir à Procuradoria e dar quantos depoimentos forem necessários para elucidar os fatos e preservar minha honra”.

Questionado ainda se sentiu traído por Padilha, o empresário José Yunes pediu esclarecimentos: “eu diria que após o fato, eu esperava dele [Padilha] um esclarecimento. Algum gesto de reconhecimento do problema que foi criado para mim. Isso me deixou realmente um pouco confuso e eu diria decepcionado. Porque realmente as consequências disso foram altamente danosas”.

Yunes declarou ainda que conversou pessoalmente com o presidente Michel Temer sobre o ocorrido. “Dei os detalhes para ele do fato ocorrido e do meu depoimento. Ele sabe que foi assim que aconteceu e falou ‘nada como ficar com a verdade’”.

Confira a entrevista completa:

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