Policial do Senado aponta retaliações por se recusar a fazer varreduras

  • Por Estadão Conteúdo
  • 24/10/2016 18h55
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Rio de Janeiro - A Polícia Federal e a Receita Federal deflagraram nesta manhã os trabalhos da 30ª fase da Operação Lava Jato, a operação Vício. Na foto carros da Polícia Federal chegam com malotes e computadores na sede da polícia, região portuária do Rio (Tânia Rêgo/Agência Brasil) Tânia Rêgo/Agência Brasil Polícia Federal - AGBR

Além do policial legislativo Paulo Igor Bosco de Silva, que denunciou à Polícia Federal a atuação da Polícia do Senado para supostamente tentar obstruir investigações contra parlamentares, outros agentes revelaram à PF ter sofrido retaliações internas na Polícia do Senado.

O ex-chefe de Serviço de Suporte Jurídico da Polícia Legislativa Carlos André Alfama, por exemplo, relatou à PF no dia 8 de junho ter se recusado a participar de uma varredura no Maranhão a pedido do ex-senador Lobão Filho (PMDB-MA), em 2014. Alfama disse ter avisado seus colegas que isso seria uma infração funcional.

No ano seguinte, segundo contou à PF, acabou sendo afastado do cargo de chefe de Suporte Jurídico. Isso ocorreu em abril de 2015, conforme declarou, por não concordar com as varreduras que vinham sendo feitas a serviço de parlamentares após operações da Polícia Federal.

“Que acredita que, por sempre ter opinião de encontro às ordens do Diretor de Polícia do Senado e por ter se negado a participar das varreduras, foi dispensado da Chefia de Serviços de Suporte Jurídico e Correcional”, disse. Ele afirmou que sempre foi contrário à realização de varreduras da Polícia Legislativa em escritórios políticos e até em residências de parlamentares, “o que não é uma atribuição do órgão” e que, segundo Alfama, “poderia captar escutas legais”.

Alfama depôs no inquérito da Operação Métis, aberto a partir da primeira denúncia feita por seu colega, Paulo Igor Bosco Silva. A varredura na residência de Lobão Filho foi apontada pela Polícia Federal como irregular e que embasou a Operação Métis, deflagrada na última sexta-feira (21) – quatro policiais legislativos foram presos.

Em 2014, Lobão Filho era candidato ao governo do Maranhão e um avião de sua campanha e a comitiva da chapa chegaram a ser alvo de buscas da PF por suspeita de caixa 2 após denúncia anônima. Ele foi derrotado nas eleições daquele ano. Segundo os policiais legislativos, depois desse episódio os agentes do Senado foram acionados para fazer varreduras no Maranhão, inclusive na residência de um genro de Lobão Filho. Essa informação foi dada pelo policial Geraldo Oliveira, um dos detidos na Operação Métis que foi solto horas depois de prestar depoimento e revelar detalhes da rotina da Polícia Legislativa.

“O senador Lobão desde 2007, esporadicamente ele faz na tentativa de encontrar grampos ilegais. O mais importante é que não foi encontrado. Se não foi encontrado, não tem como se falar em obstrução. Se fosse encontrado, teria de ter uma formalização Ele pediu para efeitos de grampo ilegal e eu acho que é natural Você tem um cidadão do naipe, do porte de Sérgio Machado que grampeia o presidente do Senado e um ex-presidente da República, é natural que você queira saber se tem grampo ilegal”.

Defesa

O advogado que defende o atual ministro Edison Lobão (PMDB) e também Lobão Filho, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que Lobão disse que a ordem de varredura na residência do ex-senador, no Maranhão, foi legal e que se o policial Alfama não cumpriu ele teria agido de forma ilegal, pois os policiais do Senado devem cumprir ordens. “É absolutamente legal, o senador tinha o direito de ter, não só a casa dele, como também o escritório alvo de varredura”, disse.

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