Presidente de entidade dos delegados da PF foi do PT por 12 anos

  • Por Estadão Conteúdo
  • 02/06/2016 10h32
Reprodução/Youtube Carlos Henrique Sobral

O atual presidente da principal entidade de classe dos delegados de Polícia Federal , a Associação Nacional dos Delegados da PF (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, foi filiado ao PT de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, de 1997 até 2009

O delegado conta que pediu sua desfiliação, em dezembro de 2003, quando tomou posse na Polícia Federal. No sistema de registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), consta que a desfiliação, a pedido de Sobral, foi efetivada em maio de 2004. A Justiça Eleitoral, porém, também registra que houve uma desfiliação de Sobral, por motivo judicial, em maio de 2007.

Questionado sobre a duplicidade, o delegado explicou que pediu o afastamento da sigla quando entrou na PF e o processo de desfiliação, na Justiça Eleitoral, demorou alguns meses para ser concluído. Ele disse que o segundo afastamento nos registros do TSE pode ser consequência de um erro administrativo do PT, que, diz, teria sido corrigido pela própria Justiça Eleitoral.

Sobral conta que se filiou ao PT para ajudar a então campanha de seu pai, José Carlos Sobral (morto em 2010), para o cargo de vereador da cidade interiorana pelo Partido dos Trabalhadores. “Naquela época, a campanha de vereador era muito familiar, éramos nós, eu, meu irmão, minha mãe e os amigos, todo mundo se filiou e passou a participar da campanha”.

Naquele ano, seu pai não conseguiu se eleger. Em 2000, contudo, ele se saiu vitorioso e virou vereador na mesma época em que Antonio Palocci (PT) exercia seu segundo mandato de prefeito da cidade. Atualmente investigado na Lava Jato, Palocci não concluiu o mandato para assumir o Ministério da Fazenda no governo Lula, em 2003. 

Segundo Sobral, seu pai nunca exerceu cargo na gestão de Palocci, “sendo, inclusive, do grupo político interno da legenda contrário ao ex-ministro”. Desde que assumiu o cargo de delegado, o delegado já está há 13 anos longe de sua cidade natal, tendo atuado, nos últimos dez anos, na PF de Rondônia e em Brasília.

A ADPF foi responsável por organizar, na última segunda-feira (30), a eleição da categoria para a escolha da lista tríplice de delegados a ser encaminhada ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e ao presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), para que ele possa escolher um substituto ao atual diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, que ocupa o cargo desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff, em 2011.

A rigor, a escolha do chefe da PF é uma atribuição do Executivo, mas, desde 2014, os delegados da corporação defendem a eleição de uma lista tríplice para orientar a decisão do presidente, da mesma forma como ocorre com o pleito para indicar o procurador-geral da República. 

A mais votada pela eleição, que agitou a PF, mas não agrada o governo Temer, foi a delegada Erika Marena, que atua nas investigações da Operação Lava Jato em Curitiba. Na votação, podem participar todos os delegados da Polícia Federal, inclusive os que não são filiados à ADPF.

Para Sobral, o fato de ter sido filiado ao PT não prejudica em nada a defesa da lista tríplice, uma demanda, segundo ele, apoiada pela categoria em todo o País. “A decisão de fazer a lista tríplice é da categoria adotada em Congresso nosso, em 2014, e já foi ratificada por todos os delegados”, pontua, lembrando que o atual diretor-geral da PF é Leandro Daiello, que foi reconduzido ao cargo após a reeleição de Dilma.

“Não tem qualquer relação político-partidária, mesmo porque quem indicou o Leandro Daiello foi o PT”, disse, lembrando que partiu da própria ADPF a proposta de sugerir uma mudança na direção-geral da PF, apoiada pela categoria com a chegada de Michel Temer, que está provisoriamente na Presidência.

Com os avanços da Lava Jato sobre s principais nomes do PT e de outros partidos, o partido tem criticado de forma agressiva a PF. Em um dos grampos da operação, o próprio ex-presidente Lula aparece atacando os federais e a chamada “República de Curitiba”, em referência à cidade sede da Lava Jato. Também com seus principais políticos na mira da operação, o PMDB é outra sigla que não é entusiasta da proposta, que desagrada o governo interino.

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