Presidente de instituto que mapeia favelas: ‘Primeiro se salvam vidas, depois se recupera a economia’
Dados do Instituto Locomotiva estimam que há cerca de 13,6 milhões de pessoas que moram em favelas no Brasil – número que ultrapassa o total de habitantes do Rio Grande do Sul, segundo o Censo de 2010.
Em entrevista ao Jornal da Manhã 2ª edição nesta quinta-feira (26), Renato Meirelles, presidente do instituto, falou quais são as medidas já adotadas e o que ainda falta para a prevenção efetiva do coronavírus nas favelas brasileiras.
Para Meirelles, o foco dos governos deve ser as vidas humanas e não os dados econômicos. “O debate atual é entre economia e sociedade civil, mas quando olhamos as atitudes das demais potências mundiais [contra o coronavírus] vemos que primeiro se salvam vidas, depois se recupera a economia. Não se recupera economia com corpos empilhados”, disse.
Pesquisa realizada pelo Data Favela indica que 72% dos moradores de comunidades não têm poupanças. “Eles não têm reservas financeiras para viver sequer um dia à frente, mas as favelas estão preocupadas e 97% dos moradores já tiveram mudanças de hábitos para lidar com o coronavírus, mas faltam condições básicas”, complementou Meirelles.
Entre as faltas, ele citou as estruturas básicas como água potável, moradia adequada e a estabilidade de emprego.
“Metade dos trabalhadores das favelas são autônomos. Vemos um impacto econômico e social muito maiores para eles do que para os demais profissionais que conseguem fazer home office. É fácil ficar de quarentena com a geladeira cheia, água potável saindo da torneira e uma casa de 100m². Mas não é vivendo num barraco com até seis pessoas e o pacote de internet no fim”, explicou Meirelles.
Possíveis soluções
Renato Meirelles disse que há diversos voluntários atuando nas favelas brasileiras para ajudar na prevenção do coronavírus e minimizar os impactos econômicos nessas regiões.
“Temos um trabalho grande de voluntários da sociedade civil e a realização de campanhas informando sobre o vírus com carros de som, distribuição de panfletos. Há a distribuição de cestas básicas, mas são ações que tem prazo de validade para acabar, que durarão no máximo mais 10 dias.”
Para o presidente do instituto, é necessário ações governamentais para que a população das favelas não seja excluída e, consequentemente, mais afetada pela pandemia de coronavírus.
“O processo de retomada de economia passa por colocar dinheiro na veia e pode ser feito em duas frentes: com processos efetivos de distribuição de renda, com garantias de uma renda mínima para a população de um lado, e por outro financiando a juros muito baixos as micro e pequenos empresas para garantir a manutenção dos empresas nas comunidades.”
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.