Procurador diz que parlamentares podem agir para encobrir seus crimes

  • Por Estadão Conteúdo
  • 07/09/2016 11h04
Cerimônia de devolução a Petrobras de valores recuperados pela Operação Lavajato. Na Foto: Deltan Dallagnol, procurador e coordenador da Operação Lavajato (José Cruz/Agência Brasil) José Cruz/Agência Brasil - 2015 Deltan Dallagnol - ABR

A força-tarefa da Operação Lava Jato sustenta que a propina de R$ 10 milhões para barrar a CPI da Petrobras, em 2009, ao então senador Sérgio Guerra (presidente do PSDB – morto em 2014) e ao deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) “não foi prática isolada”.

Nesta terça-feira, 6, os procuradores da República denunciaram Ildefonso Colares Filho, ex-executivo do grupo Queiroz Galvão, e Erton Medeiros, empresário ligado à Galvão Engenharia, pelo crime de corrupção ativa – eles ofereceram, segundo a acusação do Ministério Público Federal, R$ 10 milhões em propina aos parlamentares.

Esta é a segunda denúncia da Lava Jato que atinge as Comissões Parlamentares de Inquérito que foram instaladas com o objetivo de apurar desvios em contratos da Petrobras.

Em 6 de maio deste ano a Procuradoria denunciou o ex-senador Gim Argello e outros investigados que teriam acertado o pagamento de propina para barrar as investigações de CPIs da Petrobras em 2014. Nesta época, a fase ostensiva da Lava Jato já havia sido deflagrada.

Os procuradores sustentam que, mesmo com a Lava Jato em curso, Gim Argello agiu com o objetivo de obstruir os trabalhos das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) instauradas no Senado e na Câmara, “as quais tinham também por objetivo investigar crimes praticados no âmbito da Petrobras”.

“Com mais esta denúncia, as investigações da Lava Jato indicam que o pagamento de vantagem indevida para impedir ou atrapalhar os trabalhos de CPIs não foi uma prática isolada”, afirma a Procuradoria da República.

Para o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, a provas do pagamento de propinas a parlamentares para barrar CPIs da Petrobras, em 2009 e em 2014, “são perturbadoras”.

“Não só porque a casa foi assaltada e o guardião subornado para garantir a impunidade. Não só porque isso aconteceu na mais alta esfera da República. Isso perturba especialmente porque se os parlamentares agiram para barrar a investigação de crimes praticados por terceiros, há uma perspectiva de que poderão agir para barrar a investigação dos crimes que eles próprios praticaram. Na medida em que o número de parlamentares investigados aumenta, nossa preocupação cresce. A sociedade precisa ficar atenta, porque reações contra a Lava Jato já começaram e se fortalecerão, tanto mediante campanhas difamatórias como por meio de iniciativas legislativas”, afirma Dallagnol.

O PSDB afirma que nunca recebeu valores ilícitos.

O deputado Eduardo da Fonte nega taxativamente envolvimento com a trama para abafar a CPI da Petrobras em 2009.

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