Procuradora revela que Grupo Bellini fazia negociatas com recursos da Lei Rouanet

  • Por Jovem Pan
  • 06/11/2017 17h10 - Atualizado em 06/11/2017 18h53
Rovena Rosa/Agência Brasil Procuradora da República, Karen Kahn revela que o Grupo Bellini simulava eventos para impressionar o Ministério da Cultura

O Ministério Público Federal acusou o grupo Bellini Cultural de desviar mais de R$ 21 milhões dos recursos obtidos pela Lei Rouanet, na chamada Operação Boca Livre, e denunciou 32 pessoas por envolvimento na organização criminosa. As ações deveriam se reverter em benefício cultural à sociedade, mas se transformaram em shows e livros institucionais de grandes empresas.

Em entrevista à Jovem Pan, a procuradora da República Karen Kahn revelou como funcionava o esquema do grupo criminoso composto comandado por Antonio Carlos Bellini Amorim e os filhos Felipe Amorim e Bruno Amorim.

“Foi apurado a partir de investigações iniciadas da Controladoria-Geral da União (CGU), PF e MPF, que esse grupo fazia junto ao Ministério da Cultura a apresentação de propostas para projetos e eventos culturais. Uma vez aprovada a proposta, acabavam recebendo aportes que eram por buscados pelos integrantes do grupo cultural Bellini junto à empresas patrocinadoras. Ao mesmo tempo que os aportes eram solicitados também havia contrapartidas para eventos institucionais e divulgações de livros com o logotipo das empresas”, descreveu a procuradora.

“Isso acabava se tornando uma negociata entre patrocinadores, incentivadores e integrantes do grupo Bellini. O objeto não era realizado e transformava-se em eventos institucionais que apenas favoreciam a promoção da empresa”, completou.

Festas e simulações

Na operação deflagrada pela Polícia Federal ficou constatado que o grupo chegou a utilizar os recursos federais para patrocinar uma luxuosa festa de casamento na praia de Jurerê Internacional, em Santa Catarina. “A rigor as prestações de contas eram lastreadas por notas fiscais falsas, superfaturadas, que serviam para promover estes eventos festivos, como festas de finais de ano com contratação de orquestras, shows de MPB e humorísticos”, ressaltou Karen Kahn.

Segundo a procuradora da República, o grupo criminoso também simulava eventos para gerar uma impressão ao Ministério da Cultura de que os recursos estavam sendo empregados corretamente. “Os projetos não eram realizados e esses eventos eram feitos para um grupo seleto, quando o objetivo da Lei Rouanet era a difusão destes projetos para um público que normalmente não tem acesso a eventos culturais”, completou a procuradora.

Denúncia anônima

De acordo com Karen Kahn, a PF recebeu uma denúncia anônima e passou a investigar quais os projetos culturais eram realizados. “A princípio o MC (Ministério da Cultura) realizou uma investigação, mas concluiu inicialmente que não haveria irregularidades. Mas foram tantas fraudes detectadas pela própria CGU que acabou desencadeando no inquérito policial. Com as buscas e apreensões realmente pode se constatar que esses fraudes realmente aconteciam e têm mais de décadas”, afirmou a procuradora.

A Operação Boca Livre vai estudar medidas de recuperação dos valores e os envolvidos devem responder criminalmente.

*Com informações do repórter Tiago Muniz

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.