PT nunca perdoou Cardozo por denúncia há duas décadas contra advogado de Lula

  • Por Agência Estado
  • 01/03/2016 09h12
Brasil, Brasília, DF. 18/06/2008. O advogado Roberto Teixeira tem seu depoimento adiado na Comissão de Infra-estrutura do Senado, em Brasília. A oposição conseguiu adiar o depoimento de Teixeira. A jornalistas, ele negou qualquer ingerência sua, de seu escritório, da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na venda da Varig. Compadre do presidente Lula, Teixeira foi acusado pela ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu de ter atuado de forma imoral no processo de venda da Varig. O escritório de Teixeira representou os compradores da VarigLog e posteriormente da Varig. - Crédito:SERGIO DUTTI/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:32836 Sergio Dutti/Estadão Conteúdo Roberto Teixeira

Tratou-se de “gigantesco esquema de falcatruas”, “gigantesco esquema de corrupção” e “grave falta ética” do advogado Roberto Teixeira. Palavras do agora ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao tempo em que integrou, no PT, uma comissão de ética interna para investigar o chamado “caso CPEM”. O escândalo nasceu com as denúncias do economista e então dirigente petista Paulo de Tarso Venceslau, em maio de 1997.

Além de condenar os contratos da CPEM (Consultoria Para Empresas e Municípios) com prefeituras petistas, a comissão pediu que a executiva nacional do PT aceitasse a denúncia contra o ontem e hoje advogado de Lula. A executiva aceitou, mas, logo depois, em outra insólita votação, voltou atrás e livrou o advogado de uma segunda investigação. Venceslau, o denunciante, foi expulso do partido.

“No PT, lamentavelmente, as denúncias de violações éticas são apuradas ou não de acordo com critérios valorativos e subjetivos dos nossos dirigentes em relação à sua farejada plausibilidade inicial”, escreveu Cardozo na época.

“Não existe institucionalizado na nossa cultura política o dever objetivo de investigar com autonomia e independência qualquer denúncia.” Com o grifo em itálico no original, o texto com essa análise foi publicado na revista Teoria & Debate, em setembro de 1997.

Lá se vão quase 19 anos. Cardozo tinha, então, 38. Era vereador pelo PT de São Paulo, professor de Direito da PUC e ex-secretário de governo petista da prefeita Luiza Erundina. Foi dos três escolhidos, pela executiva nacional, para integrar Comissão Especial de Investigação para apurar as denúncias do economista. Seus outros integrantes foram o economista Paul Singer e o jurista Hélio Bicudo.

A comissão trabalhou durante dois meses, ouviu 35 pessoas – inclusive Lula e Roberto Teixeira – e apresentou um relatório final. No artigo citado, onde faz um circunstanciado balanço do trabalho dessa comissão, Cardozo escreveu: “Se em outros partidos comportamentos desta natureza (o de Roberto Teixeira) podem ser aceitos sem maiores questionamentos ou reprimendas, no PT isso não nos parece possível. Submetemos então à Executiva Nacional a proposta de que fosse aberto processo ético-disciplinar contra o militante Roberto Teixeira, por suspeita de grave violação ética. A proposta foi aceita pela Executiva Nacional”. Depois, numa reviravolta singular, a executiva nacional mudou de posição.

Lula nunca perdoou Cardozo e os outros integrantes da comissão por essa posição contra o advogado. Jamais o guindaria a ministro, nem que tivesse dez mandatos. E não gostou, como continua não gostando, que a presidente Dilma o tenha feito, além do mais integrando Cardozo no chamado “núcleo duro” do poder. A comissão de ética que o hoje ministro integrou nunca mudou de posição a respeito do caso CPEM.

“Ataque”

Recentemente, em uma das notas em que protestou contra a Operação Lava Jato, o advogado de Lula pediu “urgente posicionamento” do ministro da Justiça contra o que entende ser “um ataque aos advogados e às suas prerrogativas” por parte da Polícia Federal. “O ministro da Justiça não pode se calar diante de tais fatos”, escreveu Teixeira. Procurado pela reportagem, o ministro não se pronunciou a respeito do caso.

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