Reabertura de bar da cervejaria Backer em BH irrita vítimas e familiares

Caso ocorreu um dia após os três sócios da empresa se tornarem réus no processo que apura 10 mortes e 16 clientes gravemente feridos após ingerir bebidas da empresa

  • Por Jovem Pan
  • 20/10/2020 00h45
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LUIDGI CARVALHO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Bar que abriu foi o Templo Cervejeiro, no bairro Olhos D'água, região oeste da capital mineira

A reabertura de um bar da Backer, cervejaria de Belo Horizonte interditada em janeiro por causa de casos de morte por intoxicação, irritou parentes de vítimas e quem ficou com sequelas após ingerir o produto. O caso ocorreu neste sábado, 17, um dia após os três sócios da empresa se tornarem réus no processo que apura 10 mortes e 16 clientes gravemente feridos. A Backer nega que tenha havido uma festa, e destacou a necessidade de continuar funcionando, gerando “empregos, impostos e receitas”. O bar e restaurante, que se chama Templo Cervejeiro, fica no bairro Olhos D’água, região oeste da capital mineira. Do estabelecimento, os clientes podem ver os tanques que a empresa usava para produção de bebidas. Em um desses equipamentos foi constatada, durante as investigações, a existência de uma rachadura, por onde teriam entrado substâncias como o dietilenoglicol e monoetilenoglicol, normalmente utilizados para refrigeração externa.

Extremamente nocivas, as substâncias são apontadas como possíveis causadoras das intoxicações nas vítimas. Conforme determinação da Prefeitura de BH, bares e restaurantes podem vender bebida alcoólica de quarta a domingo até às 22h. Os três sócios da Backer, que agora responderam à Justiça, são Ana Paula Silva Lebbos, Hayan Franco Khalil Lebbos e Munir Franco Khalil Lebbos, acusados de participação em adulteração de bebidas alcoólicas e crimes contra o Código de Defesa do Consumidor, que, no caso, são manutenção em estoque e não realização de recall para retirada do mercado de produtos que colocam em risco a saúde pública. A sete dos oito funcionários que também viraram réus, incluindo um que morreu em setembro, foram atribuídos os crimes homicídio culposo (sem intenção de matar), lesão corporal grave e gravíssima, além dos crimes imputados aos sócios. Um dos funcionários virou réu por ter mentido em depoimento, conforme a acusação do Ministério Público de Minas. As penas tanto dos sócios como dos sete funcionários vão de quatro a oito anos de prisão. Já o funcionário que mentiu durante interrogatório pode pegar de dois a quatro anos de prisão e pagar multa.

A empresária Eliana Reis, de 56 anos, mulher de José Osvaldo de Faria, 66 anos, uma das vítimas, afirmou que ficou sabendo da reabertura pelo filho de um amigo de outra vítima do dietilenoglicol. “Ele fez uma selfie na festa. A cerveja Capitão Senra, que era produzida pela Backer, foi distribuída de graça. Um tapete vermelho foi colocado na entrada para receber os convidados”, afirmou. Conforme a empresária, uma outra cervejaria, que seria de São Paulo, produziu as bebidas servidas no local, já que a Backer está proibida de continuar sua fabricação pelo Ministério da Agricultura. A reportagem entrou em contato com a cervejaria para confirmar a procedência das bebidas da festa e sobre a suposta distribuição gratuita de cerveja na reabertura, conforme afirmou Eliana, mas não houve resposta. Eliana avalia que a reabertura poderia ocorrer, mas de outro modo. “Se houvesse um pedido de desculpas, ou se destinassem parte das vendas para as vítimas, poderia até ser que conseguissem alguma empatia. Mas o que ficou parecendo é que todos querem colocar a Backer para funcionar e as vítimas não deixam. Meu marido morreu e não recebi sequer uma mensagem de condolências por parte da empresa”, afirmou. Osvaldo ficou um ano e meio internado após a intoxicação e morreu em 15 de julho.

Defesa

A reportagem entrou em contato com a defesa da cervejaria, que enviou a seguinte nota: “A reabertura do Templo Cervejeiro advém do respeito da Backer a todos os requisitos e condições legais de funcionamento. A empresa é a principal interessada no esclarecimento de toda e qualquer irregularidade relacionada com suas atividades e, nesse sentido, tem colaborado com o trabalho de autoridades e dos órgãos de fiscalização e controle, ao mesmo tempo que reafirmou a certificação da excelência de seus processos produtivos. A empresa afirma ainda que diante dos fatos que tanto repercutiram na mídia, ainda que pendentes de apuração, “fechar as portas definitivamente teria sido o caminho mais fácil”. Ainda conforme a cervejaria, têm sido acatadas “rigorosamente todas as orientações emanadas pelas autoridades competentes, sejam elas administrativas ou da magistratura mineira”.

A Backer nega ainda a realização de festa de reabertura. “Permanecemos absolutamente transparentes em todas as nossas ações. A reabertura do Templo Cervejeiro, bar e restaurante que possui todas as licenças para funcionar, gera empregos, impostos e receitas, trouxe nova repercussão de matérias pela imprensa, nas quais foi afirmado que teria ocorrido uma ‘festa’ de reinauguração e relançamento de produtos”. Ainda segundo a empresa “jamais ocorreu a mencionada festa. A notícia é absolutamente inverídica. Reabrimos sim, e o público que sempre nos prestigiou compareceu em bom número, graças a Deus. O ambiente de descontração de um bar e restaurante não pode ser confundido jamais como uma festa. Não deixamos de sentir muita dor pelo o que ocorreu, mas entendemos que a única forma de poder ajudar é continuarmos com as nossas atividades, e assim faremos”.

* Com informações do Estadão Conteúdo

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