Relator de CPI que investigou o mensalão entende que lista de Janot é “cortina de fumaça” para desviar foco dos bilhões

  • Por Jovem Pan
  • 07/03/2015 12h47

Deputado federal Osmar Serraglio (PMDB) Alan Marques /Folhapress- 06/04/2006 Deputado federal Osmar Serraglio (PMDB)

Deputado do PMDB que foi relator da CPI dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão entre 2005 e 2006, Osmar Serraglio vê com muitas suspeitas a divulgação de nomes de políticos que estariam envolvidos nos desvios da Petrobras investigados pela Operação Lava Jato. O parlamentar chamou a atitude de “cortina de fumaça” para esconder o que realmente ocorre e crê que se evidencia uma “fatiazinha” da pizza ou do bolo, ou “uma gota no oceano para que não se olhe o oceano”.

“Aparentemente o que se está fazendo é jogando lama em cima dos parlamentares para que eles se desmoralizem e eles não possam investigar”, opinou, citando o copartidário Renan Calheiros, presidente do Senado, cujo nome está na lista e que pediu no Supremo acesso ao inquérito da Lava Jato.

Foi aberto inquérito de investigação contra 34 deputados federais ou ex-deputados, 12 senadores e uma ex-governadora. A lista (veja aqui) elaborada pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot foi divulgada pelo mionistro do STF Tori Zavascki na noite desta sexta (06).

Para Serraglio, a divulgação da lista interessaria “àqueles de fato vinculados aos desvios biliardários (bilhonários) que aconteceram”, disse. “Você imagina onde nós estamos mexendo. Se o mensalão assustava, isso agora é um tsunami perto de umas ondinhas que nós tínhamos”, comparou. “Por que no meio de bilhões desviados, está focando em cima de alguém que recebeu R$ 50 mil, R$ 100 mil. Está errado e tem que punir. Mas é esse o foco?”, questionou.

“Isso é um vigésimo do que está acontecendo”, escalonou. “Parece que é uma coisa proposital”, insinuou Serraglio.

“O nó principal, em que deve ser centrada (a investigação) é os partidos políticos, que levaram a soma de milhões e milhões”, sugeriu o peemedebista, citando o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, “um cara de terceiro escalão”. “Onde é que está o resto?”, perguntou. “Por que essa evidência toda, esse oba-oba em cima do congresso?”.

Quem eu?

Outra coisa que incomoda o parlamentar é que não se consegue acessar os detalhes das investigações no site do Supremo Tribunal Federal (STF). “Envolveram inúmeros parlamentares, mas sobre os quais a gente não sabe nada objetivamente”, afirmou. “Muitos deles não sabem sequer do que pode estar acontecendo”, disse.

Serraglio também mostra estranheza em não ter sido aberto nenhum processo judicial, mas apenas inquérito (para investigação) “depois de tantas provas”. Disse: “Posso suspeitar”.

Ele projeta que, por isso, todo o trâmite judicial a respeito dos desvios na Petrobras “seguramente vai demorar mais que os quase 10 anos do mensalão”.

O deputado diz ainda acreditar na possibilidade de a lista de nomes ter sido manipulada. “Para que divulgar que está excluindo?”, pergunta, em relação aos congressitas que tiveram pedido de abertura de inquérito arquivados, como Aécio Neves (PSDB), Henrique Alves (PMDB), Romero Jucá (PMDB) e Ciro Nogueira (PP). “Está se divulgando um fato que não existe.”

Experiência

Em mais uma metáfora, Serraglio comparou a divulgação dos nomes a uma “casca de banana” para as reais investigações, com as quais o próprio deputado estava acostumado a lidar quando liderava a CPI dos Correios. “A gente que trabalhou numa CPI sabe quantas cascas de banana são colocadas no caminho”, afirmou.

“Sem ter percebido”, Serraglio reconheceru que “em muitas eu percebia que estava sendo conduzido”.

“Isso me dá o direito a ser cético”, concluiu.

Ouça a entrevista completa no áudio acima.

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