Ofensas, provocações e ajuda financeira; relembre a discussão entre Bolsonaro e Macron

Troca de farpas completa uma semana e parece não ter chegado ao fim

  • Por Jovem Pan
  • 31/08/2019 13h00
EFE O presidente Jair Bolsonaro se reuniu nesta sexta-feira (28) com o presidente francês, Emmanuel Macron, durante a cúpula do G20 no Japão Estopim foi uma declaração de Macron sobre os incêndios na Amazônia

Já completa uma semana que os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e da França, Emmanuel Macron, trocam farpas pela mídia e redes sociais. O estopim da discussão foram os incêndios na Amazônia, sobre os quais Macron foi o primeiro líder internacional a se posicionar.

Na quinta-feira passada (22), o mandatário francês publicou um apelo nas redes sociais para que os membros do G7 – grupo de países ricos que inclui França, Estados Unidos, Alemanha e outros – discutissem o assunto “com urgência”.

“Nossa casa está queimado. Literalmente. A floresta Amazônica – os pulmões que produzem 20% do oxigênio do nosso planeta – está em chamas. É uma crise internacional. Membros da cúpula do G7, vamos discutir essa emergência em primeira ordem em dois dias”, escreveu.

O presidente brasileiro, no entanto, não gostou do comentário. Em live feita na mesma noite, sem citar Macron diretamente, Bolsonaro provocou: “Um presidente teve a desfaçatez de falar ‘a nossa Amazônia’. Tu acha que eles estão interessados no nosso país? Estão interessados em ter um espaço para eles!”, criticou.

Já nas redes sociais, Bolsonaro acusou o francês de usar “tom sensacionalista” e lamentou “que busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil para ganhos políticos pessoais”. Além disso, deixou claro que a discussão do assunto no G7 sem a participação do Brasil evocava uma “mentalidade colonialista”.

 

Acordo UE-Mercosul

A discussão continuou ao Macron acusar Bolsonaro de ter “mentido” sobre seus compromissos ambientais. Mais do que isso, ele disse que, por essa razão, “iria se opor à assinatura do tratado de livre-comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul”.

“Dada a atitude do Brasil nestas últimas semanas, só se pôde constatar que o presidente Bolsonaro mentiu durante a cúpula de Osaka”, assegurou.

A declaração e o uso de uma foto antiga na publicação do francês para se referir a queimadas recentes irritaram Bolsonaro, que rebateu, na última sexta-feira (23).

“Lamento a posição de um chefe de Estado, como o da França, se dirigir ao PR [presidente] brasileiro como ‘mentiroso’. Não somos nós que divulgamos fotos do século passado para potencializar o ódio contra o Brasil por mera vaidade. Nosso país, verde e amarelo, mora no coração de todo o mundo”, escreveu, desejando “ao povo francês paz e felicidades”.

Vídeo de conversas na cúpula do G7

Dois dias depois, Bolsonaro voltou a se manifestar sobre o assunto. No Twitter, ele publicou um vídeo captado pela transmissão oficial da cúpula do G7 em que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, sugere a outros líderes europeus ligar para o chefe de Estado brasileiro para falar sobre a questão da Amazônia.

No vídeo, Merkel diz a Macron e Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, que pretende ligar para Bolsonaro para que ele “não tenha a impressão” de que os europeus estão trabalhando contra o Brasil. “Sim, acho que isso é importante”, responde Johnson.

Em suas redes sociais, Bolsonaro replicou o vídeo e “agradeceu aos líderes que o ouviram”. “Somos uma das maiores democracias do mundo, comprometidos com a proteção ambiental e respeitamos a soberania de cada país. Meu muito obrigado a dezenas de chefes de estado que me ouviram e nos ajudaram a superar uma crise que só interessava aos que querem enfraquecer o Brasil!”, escreveu.

Macron afirmou, então, que os líderes da cúpula estavam chegando a um acordo sobre como apoiar o Brasil e disse que a parceria envolveria mecanismos técnicos e financeiros.

Ofensas à primeira-dama Brigitte Macron

A discussão entre ambos parecia, assim, ter chegado ao final. Entretanto, também no final de semana, Bolsonaro reagiu com risadas a um comentário em que um seguidor seu postou uma foto dos chefes de Estado com suas respectivas primeiras-damas e questionou: “Entende agora por que Macron persegue Bolsonaro?” O perfil oficial do mandatário brasileiro respondeu “Não humilha cara (sic)”.

Dias depois, Bolsonaro apagou o comentário para evitar “dupla interpretação”, de acordo com o porta-voz da presidência da República.

Macron, no entanto, ficou ofendido com a “piada” e, ao ser questionado pela imprensa na segunda-feira (26), disse que desejava que os brasileiros viessem “ a ter um presidente que se comporte à altura” do cargo. “Penso que as mulheres brasileiras devem ter vergonha de ouvir isso do próprio presidente”, afirmou.

O mandatário brasileiro também não deixou barato e, no mesmo dia, retrucou: “Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma ‘aliança’ dos países do G7 para ‘salvar’ a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém”.

“Outros chefes de Estado se solidarizaram com o Brasil, afinal respeito à soberania de qualquer país é o mínimo que se pode esperar num mundo civilizado”, escreveu Bolsonaro nas redes sociais. Ele questionou, ainda, o interesse de Macron no combate aos incêndios na Amazônia. “Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, sem retorno? O que ele está de olho na Amazônia?”.

Ajuda de U$ 20 milhões do G7

Contudo, apesar do clima nada amigável, Macron anunciou, ainda na segunda (26), que o G7 disponibilizaria uma ajuda imediata de US$ 20 milhões para o combate aos incêndios na região Amazônica.

A declaração gerou polêmicas, já que, inicialmente, o Planalto disse que não aceitaria. Depois, Bolsonaro condicionou o recebimento a um pedido de desculpas do chefe de Estado da França e, por fim, o porta-voz da presidência da República afirmou que aceitaria o dinheiro se o Brasil tivesse “governança sobre ele”.

Além disso, Macron declarou que considerava conferir “status internacional” à floresta, “caso os líderes da região tomassem decisões prejudiciais ao planeta”. Isso desgostou Bolsonaro, que informou que “não tinha nada contra o G7, mas sim a um presidente do G7”, porque “sabia da sua intenção”.

No mesmo dia, e sem citar o nome do brasileiro, Macron respondeu que “alguns dirigentes confundem soberania com agressividade” e defendeu ser um erro pensar desta forma.

‘Macron é de esquerda’

Já quarta-feira (28), Bolsonaro voltou a provocar Macron. Ele falou que “as inverdades” ditas pelo francês “ganharam força porque ele é de esquerda e eu sou de centro-direita”.

Bolsonaro acusou, ainda, o presidente francês de se “aproveitar da situação [incêndios na Amazônia] para se capitalizar diante do mundo como a pessoa única e exclusiva interessada em defender o meio ambiente”. “Somente após ele se retratar a mim e ao povo brasileiro voltaremos a conversar”, esclareceu.

Na sexta-feira (30), ao confirmar que havia aceitado conversar com a chanceler Angela Merkel pelo telefone, Bolsonaro provocou: “Estou pronto a conversar com qualquer um, exceto nosso querido Macron, a não quer que ele se retrate sobre a nossa soberania da Amazônia”.

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