Renan orienta defesa de Delcídio em gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro

  • Por Jovem Pan
  • 26/05/2016 15h32
Brasília - Presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, durante apreciação de vetos e destaques, antes de iniciar a discussão e apreciação do PL da nova meta fiscal (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) Agência Brasil Renan Calheiros

Reportagem exibida nesta quinta-feira (23) pelo Jornal Hoje, da Rede Globo, mostra uma conversa gravada em que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),  orienta uma pessoa identificada como Wanderberg – suposto representante de Delcídio do Amaral -, sobre como atuar na defesa do então senador petista. O áudio foi gravado no último dia 24 de fevereiro por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro e delator da Operação Lava Jato.

A gravação foi feita quando o processo de Delcidio estava no Conselho de Ética, portanto antes de seu mandato ser cassado pelo Senado. Na época, Renan não tinha conhecimento que o ex-petista era delator da Lava Jato. No áudio, o presidente do Senado afirma que o senador João Alberto Souza (PMDB-MA), presidente do conselho, precisaria pedir diligências para parecer que a investigação estava sendo realizada. Renan sugere que Delcídio assuma seus erros em uma carta e que já pagou por isso.

Veja trecho do diálogo entre Renan e Wandemberg:

RENAN: O que que ele (Delcídio) tem que fazer… Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde… Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias… Família pagou… A mulher pagou…

WANDEMBERG: Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora.

RENAN: Conselho de ética. Falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras… O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado…

WANDEMBERG: (João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada…

Investigadores da Lava Jato veem Machado como o caixa da cúpula do PMDB. Para uma possível redução de pena, o delator realizou as gravações com Renan e outros líderes do partido que levaram a assinatura do acordo de delação para o ministro Teori Zavascki, do STF, nesta quarta-feira (25). Machado presidiu a Transpetro por 12 anos, desde 2003, no primeiro mandato de Lula.

Nesta quinta-feira (26), a assessoria de Renan Calheiros afirmou em nota que o presidente do Senado acelerou o processo de cassação de Delcídio. “O senador [Renan Calheiros] lembra que acelerou o processo de cassação no plenário às vésperas da votação do impeachment. O desfecho do processo de cassação é conhecido, foi público e a agilização do processo foi destaque em vários jornais. Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou”, diz o texto.

Mais gravações

Em gravação de 11 de março, Machado critica o procurador-geral da república, Rodrigo Janot, em nova conversa com Renan. Os dois falam em “fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla, para poder segurar esse pessoal”, dando a entender que falavam da Lava Jato.

Machado e Renan ainda criticam vários políticos. Entre os citados, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, o deputado Pauderney Avelino (AM), líder do DEM; o agora ministro da Educação, deputado Mendonça Filho (DEM-PE), senador José Agripino (RN), presidente do DEM, senador Fernando Bezerra (PSB-PE), senador José Serra, do PSDB, atual ministro das Relações Exteriores e a presidente afastada Dilma Rousseff.

Confira a conversa entre Sérgio Machado e Renan Calheiros:

SÉRGIO MACHADO: Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra.

RENAN: Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava-jato) quer.

SÉRGIO MACHADO: É ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula  de dar um chega pra lá nessa negociação ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava-jato). Eles estão se achando o dono do mundo.

RENAN: Dono do mundo.

SÉRGIO MACHADO: E o PSDB pensava que não, mas o Aécio agora sabe. O Aécio, Renan, é o cara mais vulnerável do mundo.

RENAN: É…

SÉRGIO MACHADO: O Aécio é vulnerabilíssimo. Vulnerabilíssimo! Há muito tempo.

SÉRGIO MACHADO: Como que você tem cara de pau, Renan, aquele cara Pauderney que agora virou herói. Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino.

RENAN: Pauderney Avelino.

RENAN: Mendocinha.

SÉRGIO MACHADO: Mendocinha, todo mundo pô? Que *** é essa querer ser agora o dono da verdade?

SÉRGIO MACHADO: O Zé (Zé Agripino) é outro que pode ser parceiro, não é possível que ele vá fazer maluquice.

RENAN: O Zé nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio e ao Serra. Que no próximo encontro que a gente tiver tem que botar o Zé Agripino e o Fernando Bezerra. Ei acho.

SÉRGIO MACHADO: O PSB virou uma oposição radical. O Zé não tem como não entrar na roda.

RENAN: O PSB quer o impeachment, mas o Fernando (Bezerra) é um cara bom.

SÉRGIO MACHADO: Porque também entende disso que a gente está falando.

RENAN: É.

SÉRGIO MACHADO: Porque tem que tomar cuidado porque esse *** desse Noblat [se referindo ao colunista Ricardo Noblat, do jornal “O Globo”] botou que essa coisa de tirar a Dilma é maneira de salvar os corruptos.

RENAN: Tirar a Dilma? Manter a Dilma?

SÉRGIO MACHADO: Tirar a Dilma. Que é um processo de salvação, de salvação.

RENAN: Que é a lógica que ela fez o tempo todo.

SÉRGIO MACHADO: É porque esse processo. Porque Renan vou dizer o seguinte: dos políticos do congresso se “sobrar” cinco que não fez é muito. Governador nenhum. Não tem como, Renan.

RENAN: Não tem como sobreviver.

SÉRGIO MACHADO: Não tinha como sobreviver.

RENAN: Tem não.

SÉRGIO MACHADO: Não tem como sobreviver. Porque não é só, é a eleição e a manutenção toda do processo.

RENAN: É.

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