Renato Duque declara que ‘recebeu R$ 1,5 milhão em propinas que iriam para o PT’
O ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, um dos investigados pela Operação Lava Jato, declarou que “pegou R$ 1,5 milhão em propinas que iriam para o PT”. Segundo ele, o montante foi oferecido por não ter emperrado contratos envolvendo a Torre de Pituba, sede da Petrobras em Salvador.
Duque é um dos réus na ação penal referente à 56ª fase da Lava Jato, batizada de Sem Limites, que aponta fraudes e propinas de R$ 67,2 milhões na construção do edifício. Segundo a Procuradoria, os desvios teriam abastecido campanhas petistas. O fundo de Pensão Petros se comprometeu a realizar a obra, e a Petrobras a alugar o prédio por 30 anos.
A história
O ex-diretor disse que, em 2009, foi avisado por João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, que a a Petrobras iria alugar um prédio da Petros em Salvador.”Para minha surpresa, ele já sabia que isso seria feito e que quem iria construir esse prédio seria a Odebrecht”.
“Ele [Vaccari] me disse o seguinte: “Eu não estou satisfeito com essa solução de ser a Odebrecht a construtora. Eu quero incluir também a OAS, porque a OAS tem uma grande relação com o PT. O Leo Pinheiro é um grande amigo e não tem porque uma empresa baiana ficar de fora de um prédio em Salvador. Então, vou trabalhar para que isso ocorra”, contou.
Segundo Duque, a partir daquele momento, ele “já sabia que o prédio da Pituba tinha algum ilícito envolvido”. Ele declarou ainda que “a área financeira fez a avaliação e optou pelo prazo de trinta anos de aluguel, que era R$ 3 milhões.
“Mas paralelamente a isso, a área financeira pediu que a Petros informasse qual era a avaliação da obra, qual o valor da obra, e a Petros informou R$ 588 milhões. A área financeira ficou surpreendida porque, internamente, a avaliação da obra variava em torno de R$ 100 milhões a menos”.
O ex-diretor revelou que a área financeira sugeriu que o assunto fosse abordado com a Petros, ideia com a qual ele não concordou. Na época, Duque disse que a Petrobras estava alugando o imóvel, e que a Petros, como proprietária do imóvel, teria que questionar o valor, mas não a Petrobras. “Por isso eu submeti a diretoria, o parecer foi anexado ao documento, onde eu peço a solicitação para alugar e a diretoria aprovou o aluguel de R$ 3 milhões, bem abaixo do teto estabelecido pela avaliação”, afirmou.
Neste momento veio, então, a suposta oferta de Vaccari que, após a diretoria ter aprovado a locação, disse que não achava justo e razoável que Duque “não levasse nenhuma vantagem no negócio”. ” E por que eu não levaria nenhuma vantagem? Porque a questão ali era a Petros construindo um prédio e a Petrobras alugando”, justificou. “Não tinha porque alguém da Petrobras, no caso, eu, levar vantagem, uma vantagem ilícita, uma propina que fosse”, continuou.
O ex-dirigente afirmou que Vaccari perguntou “se estaria bom”, para ele, “receber R$ 1,5 milhão do valor ilícito envolvido nessa obra”. “É claro que R$ 1, 5 milhão é muito dinheiro. Eu aceitei, falei: ‘Aceito, você está querendo me oferecer um milhão e meio, dinheiro que iria pro PT, eu aceito'”.
“Ele, então, me perguntou se eu gostaria de receber esse dinheiro da Odebrecht ou da OAS, que eram os parceiros no consórcio. Aí eu disse para ele o seguinte: “Eu quero receber da Odebrecht, porque eu já tenho um outro dinheiro de um outro ilícito para receber da Odebrecht, combinado com Rogério Araújo” – que era o representante junto à Petrobras”, concluiu.
Resposta do PT
Em nota, a defesa de Vaccari afirmou que “a manifestação do Renato Duque não corresponde à verdade, além do que trata-se de palavra de delator, destituída de qualquer prova a corroborá-la”.
“O Sr. Vaccari, enquanto tesoureiro do PT, solicitava doações legais ao partido e todas elas foram realizadas por meio de depósito bancário na conta do partido, com recibo e prestação de contas às autoridades competentes.”
* Com informações do Estadão Conteúdo
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