São Paulo é no Brasil como Wuhan foi na China, avalia médico sanitarista

  • Por Jovem Pan
  • 11/06/2020 12h13
EFE/Antonio Lacerda coronavirus-rio-de-janeiro Sérgio Zanetta explica que anunciar medidas e voltar atrás é muito perigoso porque pode criar um nível de insegurança e descrédito

O médico sanitarista, Sérgio Zanetta, que também é professor de Saúde Pública do Centro Universitário São Camilo, avalia que o retorno das atividades econômicas em São Paulo é precipitado e deve aumentar o número de casos da covid-19 nas próximas semanas.

Em entrevista à Jovem Pan, ele declarou que os critérios utilizados na decisão não foram médicos — mas econômicos e administrativos. De acordo com Sérgio, a reabertura contradiz tanto a experiência de São Paulo até o momento quanto o aprendizado internacional.”

“São Paulo é hoje, Estado e cidade, epicentro da epidemia no Brasil. É como foi Wuhan e Hubei na China. É aqui que ou o controle ocorrerá ou então crescerá muito, mesmo com o alastramento da doença em todo o país. É aqui onde os cuidados precisam ser mais rigorosos.”

Segundo Zanetta, reabrir neste momento não garante segurança alguma do achatamento da curva. “Para reabrir era necessário que se cumprisse três requisitos: taxa de ocupação das UTIs em 60%, nível de isolamento em 55% por pelo menos 15 dias e queda no número de casos no mesmo período. E não fui eu que estabeleci isso, foi o próprio governo estadual.”

Sérgio Zanetta explica que anunciar medidas e voltar atrás é muito perigoso porque pode criar um nível de insegurança e descrédito em relação à população. “Uma mensagem clara mobiliza as pessoas, afinal é um sacrifício pessoal. Voltar atrás é complicado.”

Para ele, a precipitação em retomar as atividades aconteceu porque, quando havia uma alta adesão ao isolamento social, que poderia abrir espaço para a queda da curva, houve “falas das autoridades truncadas por problemas políticos”.

“Enquanto havia uma informação sanitária impulsionando a quarentena, havia outra informação política instigando as pessoas a quebrarem o isolamento. Isso só aconteceu no Brasil. Ao diminuir o isolamento, o pico da doença foi andando cada vez mais pra frente. Além disso, sem um ministro da Saúde, a adesão das pessoas ao discurso fica fragilizada.”

O professor de Saúde Pública ressalta, por fim, que mesmo com a retomada da economia é importante que as pessoas só saiam em casos extremos. “Vamos reduzir os danos ao mínimo possível se sairmos de casa apenas para o necessário, usarmos máscara pessoal, lavar as mãos constantemente e usar álcool em gel. Além disso, só entrem em lugares que estão respeitando o distanciamento e as pessoas usam máscaras”, finaliza.

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