“Sempre que um acidente é complicado, as caixas-pretas não funcionam”, diz especialista sobre acidente de Campos
Um ano após a morte de Eduardo Campos ainda não existem esclarecimentos sobre a queda da aeronave Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA. O avião caiu por volta das 10h em uma área residencial do Boqueirão, em Santos, litoral paulista.
Em entrevista a Jovem Pan, o especialista em segurança de voo, comandante Carlos Camacho afirmou que a ausência de informações do voo nas caixas-pretas não lhe é estranha, mas sim a não-identificação do dono da aeronave.
“Mais estranho que caixa-preta é o fato de o avião não ter seguro e não conseguir identificar quem era o dono. Como é quem um avião caro e que transportava um candidato à presidência da República, ele não é mapeado, rastreado, fiscalizado e estava voando sem seguro, sem caixa-preta, com datas vencidas e ultrapassadas. Sendo que, o mais interessante é que em todas as vezes que os pilotos faziam a verificação, todas as vezes o sinal que se tinha é que as caixas-pretas estavam operando e funcionando”, questionou.
Camacho disse ainda não querer colocar em dúvida a idoneidade do órgão investigador – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) -, mas disparou: “é muito estranho que sempre que um acidente é muito complicado, as caixas-pretas não funcionem”.
Questionado sobre a qualificação dos pilotos, o especialista afirmou que estes poderiam pilotar a aeronave. “Eles haviam feito o treinamento do avião, o curso, estavam habilitados. O que houve foi que depois disso, a Anac modificou o protocolo de treinamento e então, o Cenipa emite uma recomendação, mas esta já estava ultrapassada porque eles tinham feito e voado mais de 90 missões, por volta de 100/120 horas naquele mesmo avião. Portanto, eles tinham experiência e expertise suficiente para completar toda e qualquer etapa com aquele modelo”, esclareceu.
Mesmo sem as informações das caixas-pretas, Camacho alegou que a única vantagem que se tem até o momento é o monitoramento da aeronave. “Uma série de dados foram alcançados e estão na mesa de investigação do acidente como um todo e também o auxílio de uma ou duas câmeras que, no final, antes do impacto final, o avião estava com asas niveladas, mas estava com ângulo de mergulho de 38º”, explicou.
Sobre um relatório final emitido pelo Cenipa, o comandante disse que não existirá tão cedo. “Foi publicada uma lei no ano passado que blinda ainda mais a investigação e ela fica concentrada o tempo todo no Cenipa. Isso é prejudicial, porque não temos audiências públicas, acompanhamento da sociedade para que se possa esclarecer e levantar questões que possam ajudar”, finalizou.
Além de Eduardo Campos, estavam a bordo da aeronave mais seis pessoas: o assessor Pedro Almeida Valadares Neto, o assessor de imprensa Carlos Augusto Ramos Leal Filho (Percol), Alexandre Severo Gomes e Silva (fotógrafo), Marcelo de Oliveira Lyra (assessor da campanha) e os pilotos Marcos Martins e Geraldo da Cunha.
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